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Já anoiteceu, estou uma pilha de nervos. O transito estava agitado, contribuindo para o meu natural estresse. No cominho todo até em casa fiquei arquitetanto um plano para afastar Jhack. Como sou chata de nascença, não será difícil afasta-lo, o plano é só ser eu mesma. Fácil. Um bom exemplo disso é a minha infância. Nunca tive amigos, nunca fui convidada para festas de aniversário, nem chamada para dormir na casa de alguma colega. Até conhecer Gisele. Ela diz que só quem me conhece bem sabe o quanto sou valiosa. Bem, então viva à ela e ao papai! Papai. Desde aquele maldito dia eu não o vejo. Não sei se ainda está limpo, ou voltou à apostar. Acredito na segunda opção. Mais cedo ou mais tarde precisarei ir ve-lo só para me certificar do que já sei. E Gisele. Não falo com ela desde ontem quando saiu furiosa do meu quarto. Não era eu quem devia estar furiosa? Nem pensar que eu vou pedir desculpa! Ela quem deve pedir!
Estaciono o carro na frente de casa, as luzes estão apagadas. Ah ela deve estar me evitando! Muito adulto srt. Gisele! Abro a porta da frente e entro. Acendo as luzes e vou em direção à cozinha. Comi na escola, mas a comida da sra. Dio não é das melhores. Por isso abro a geladeira e me decepciono ao ver que falta muita coisa. Algo me diz que precisarei ir logo ao supermercado, me contento com meio litro de iogurte, três sanduíches constituídos por pão, queijo, presunto, alface, tomate e katchup. Amo katchup! E só para garantir que não sentirei mais fome, levo suco de maçã. Subo desajeitada a escada, e acabo sujando com katchup minha blusa branca. Droga. Numa manobra lenta, consigo abrir a porta do meu quarto, e depois a empurro com o bumbum. Coloco tudo numa mesinha ali perto e devoro tudo em menos de meia hora. Meu pai sempre disse que sou boa de boca. Lembro quando dizia : " Tão magrinha! Para onde vai tudo isso menina?" Rio ao lembrar dessa época. Épocas felizes, onde meu pai era meu herói, onde não havia garotos para partir seu coração. Não gosto do rumo que meus pensamentos estão tomando, então decido tomar um banho relaxante de banheira. Fico ali até meus dedos enrugarem, e também até ouvir o carro de Gisele chegar. Saio apresada da banheira, enrolo minha toalha rosa no corpo e calço os chinelos de borracha. Vou até a janela lateral do meu quarto que oferece uma boa vista de tudo lá embaixo, e observo Gisele sair acompanhada do carro. Um cara grande, de ombros largos, com a pele cor de mel, e cabelos raspados rente à cabeça. Gisele sempre soube escolher bem os seus...bem, é... Acompanhantes. Ela diz que não namora. Só experimenta. De um ponto de vista feminino o cara é bonitão. Pelo visto não é hoje que faremos as pazes minha cara amiga. Reviro os olhos e me escondo no silencioso e escuro quarto às minhas costas, onde estou segura e longe deles, os homens.

Foi preciso tomar um remédio para dormir. Não sei por que esses dias o sono tem me faltado, deve ser o estresse. Desço a escada já pensando no que encontrarei naquela cozinha. E como o esperado, Gisele está toda feliz sentada no balcão de frente para o notável moreno. A conversa cessa quando entro discretamente esbarrando num objeto qualquer ali no chão. Sorrio desajeitada endireitando o óculos.
- Bom dia!
- Bom dia. - Diz secamente Gisele. Acho que ainda não superou aquela conversa que tivemos.
- Oi. - O grandalhão fala se virando para mim, ficando um pouco assutado com minha desagradável aparência. Hoje caprichei. Não penteei os cabelos que estão numa mista confusão em cima da minha cabeça, estou usando uma saia cinza estilo guarda - chuva abiaxo dos joelhos, com uma blusa de algodão branca debaixo de um suéter cor de rosa. Estou terrível! Sorrio da sua reação, encorajada à seguir em frente com meu plano. Aceno discretamente para ele, pego uma maçã na geladeira já pensando que terei que tomar café em outro lugar. Saio dali em questão de minutos. Livre do olhar de desprezo de Gisele. Ela está brava mesmo!

Ao chegar na escola, bagunço um pouco mais o cabelo e desço do carro confiante. O carro de Jhack já estava em sua vaga de sempre, debaixo de uma árvore, sinal de que já chegou. Otimo! Caminho pelos corredores ciente dos olhares indiscretos dos alunos, alguns até apontam. Não me importo, faz parte. Entro determinada na sala dos professores e de repente todos viram as cabeças em minha direção. Menos Jhack. Que está ocupado demais com algo em seu computador, caminho pela sala fazendo um tock tock com os meus pesados sapatos. Sento bem à sua frente afim de provoca-lo com minha feiúra.
- Bom dia sr. Will - digo profissional.
- Bom dia srt. Cassandra. - Nada. Ainda não consegui sua atenção. Então como sabe que sou eu sem nem ao menos se deu o trabalho de olhar-me? Derrubo propositalmente umas canetas em cima de algumas de suas pastas para que ele me dê atenção. Funcionou. Ele primeiro olha para as canetas derrubadas, depois me olha nos olhos. Ignorando totalmente o meu trage que com ceteza qualquer um notaria.
- Está muito adorável hoje srt. - e me lança um sorriso doce. Procuro qualquer sinal de que está mentindo, mas não encontro. Há apenas um olhar sincero e meigo. Fico lá chocada, enquanto ele se levanta, pega suas pastas tirando-as cuidadosamente debaixo de minhas inertes canetas e sai. Simplesmente sai. Me deixando completamente estabanada. Mas como não se assutou ou ao menos esboçou qualquer sinal de desaprovação ao me ver? Será que é cego? Não, ele olhou tão fundo nos meus olhos... Se não gostou, não demostrou qualquer sinal disso. Ele deve estar me sacaneando pode! Bufo e saio logo em seguida, procurando-o em meio à multidão de hormônios adolescentes. Mas ele parece que sumiu, cruzo os braços em desaprovação e paro no meio do corredor. O sinal toca e sou obrigada a seguir meu caminho que é dar a primeira aula. E muito, muito puta da vida.

Como Não se ApaixonarWhere stories live. Discover now