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E assim seguiu-se nos próximos três dias. E com eles o resto da sanidade que me restava.
Percebo-me cada vez mais ansiosa, com noites inteiras sem dormir, voltando a estaca zero de tudo o que passei antes. Mas o pior de todos os sentimentos, sem duvidas, é a decepção. Mas eu recuso-me a aceitar o fato de que Jhack me deixou. Eu não sei, talvez tenha acontecido alguma coisa com sua família ( eu acho que ele tem uma, nem cheguei a perguntar sobre.), ou está doente? Se está, então por que não avisou a direção da escola?
Segundo o diretor Augustus, nada lhe foi informado, e isso vem deixando-me cada vez mais frustrada. Mas afinal o que aconteceu com ele? Eu não sei.

Sete dias. Já faz sete dias que Jhack sumiu. Todos os dias ao chegar na escola, a primeira coisa que faço é vasculhar a área em volta de onde um dia estivera seu carro estacionado, mas sempre me decepciono. Se já não bastasse isso, ainda tenho que me preocupar com Gisele, pois desde aquele dia ela continua estranha e parece ter se fechado dentro de um mundo particular do qual eu não fui convidada à participar. Frustrações, frustrações. Agora coleciono frustrações?
Para acrescentar à lista, meu pai. Ontem à noite fui novamente à sua casa moribunda, só para dar de cara com um decadente homem que um dia fora meu pai. Ele está piorando, está desiludido e maltrapilho, afundando lenta e dolorosamente, levando-me junto,  pois não é só a si que ele machuca, machuca a mim também. Pois olhando-o naquele estado, eu nada senti além de pena, culpa e frustração. Essa última, parece ter grudado permanentemente na minha vida. E tudo o que posso fazer é rezar para não desmoronar igual a um castelo de cartas porque é preciso ser forte e solida neste momento de agonia de meu pai e Gisele, eles precisam de mim. Já eu, não preciso de ninguém.

Mas eu precisava confirmar, precisava descobrir o que diabos aconteceu com Jhack. E por isso, na quinta a noite eu fui até sua casa. Foi bastante complicado descubrir seu endereço, foi preciso muita artimanha da minha parte. Tive a oportunidade de testar minhas habilidades quanto ninja ( uma vez que eu nem sabia que as tinha ), porque na quarta-feira, noite anterior da minha visita a Jhack, eu furtivamente entrei na majestosa sala do diretor. Você deve estar se perguntando porque eu fiz isso e não simplesmente pedi ao Sr. Augustus que me desse o maldito endereço. Pois bem, se eu o fizesse certamente ele me pediria explicações, e o que eu poderia dizer? "Ah Sr. Augustus me o endereço de Jhack pois preciso saber o por que dele ter me deixado, ja que não consigo mais dormir e me tornei uma neurótica e paranóica quase namorada!"
, eu definitivamente não pediria. Então, observei e esperei que o Sr. Augustus saísse, convenientemente na hora do almoço pois neste intervalo todas as atenções estão voltadas para o refeitório deixando assim o caminho livre para que eu agisse. Mas havia um problema, Fani, secretária e puxa saco oficial do Sr. Augustus, ela não saia daquela mesa nem para ir ao banheiro, até almoçava alí, tudo para impressionar seu amor mas não correspondido chefe. Mulher corpulenta de 1,50 metros, com uma terrível, notável e cheia de pelinhos verruga no queixo, deixando-a com uma aparência assustadora, os alunos à temem mortalmente. Confesso que até eu as vezes balanço um pouco sobre as pernas quando seu agudo timbre atinge meus sensíveis ouvidos. Mas isso não vem ao caso, era necessário resolver oproblema, e o que precisa ser feito era distraí-la. E uma das vantagens de ser matemática é a fácil habilidade de solucionar problemas. E foi o que fiz, quando todos estavam no refeitório, que para a minha sorte fica bem longe da sala do diretor, eu fui até Fani e disse:
- Tem duas garotas se estapiando no banheiro masculino. - Falei rapidamente, simples e idiota assim. Eu sou  péssima quando se trata de mentiras.
- Como foi que disse? - perguntou desconfiada. - Banheiro masculino?
Droga.
- Masculino? Oh. Sim! É o que parece. E a coisa está feia, disseram que há sangue nas paredes e cabelos arrancados e tudo! - Disparei mais uma vez rápido demais, meu cérebro a mil por hora.
- Meu Deus! Já avisaram o Sr. Augustus?
- Não! - Gritei, e ela arregalou os olhos surpresa com minha inesperada reação. - Quero dizer, vá na frente eu o aviso!
- Não mas eu preciso...
- Vá! Depressa! Ou elas se mataram!
- Jesus!
Falou e saiu apressada. Esperei até que ela sumisse no longo corredor e então rapidamente entrei na sala do diretor, por sorte estava aberta, ele deve mesmo confiar em sua secretaria. Mas eu sabia que não tinha muito tempo, no máximo sete minutos, eu calculei. Que é o tempo de Fani chegar nos banheiros masculinos ( aqui temos três, então acho que tinha algum tempo ), e descobrir que ali não há briga nenhuma, só um bando de garotos com seus órgãos genitais à mostra. Eu queira te-la visto nessa hora. Mas o tempo era precioso, por isso agi muito rápido. Mas seu computador pedia uma senha. E eu não fazia ideia de qual seria, eu não o conhecia o bastante para chutar qualquer coisa. Me desesperei. O tic-tac do relógio na parede a minha frente me fez lembrar que  tempo era precioso, e me restava apenas cinco minutos. Olhei em volta a procura de qualquer pista que fosse, mas nada apareceu. E o tic-tac continuou. O som metódico martelava junto ao som das batidas do meu coração, e uma rara coisa aconteceu, eu comecei a suar. Eu me sentia uma adolescente prestes a ser descoberta fugindo pela janela. Ao longe ouvi outro som. Um toc-toc familiar. Sapatos... Sim! Sapatos, dois pares. Eu podia ouvir. Se aproximando, aproximando... Sem pensar me joguei desajeitada para debaixo da mesa, encolhendo minhas longas pernas. Por um instante me odiei por ter ido com aqueles saltos. E esperei. Cada vez mais próximo que já era possível ouvir o que diziam.
- Eu estou dizendo Sr. Augustus, ela veio até mim e disse tais asneiras!
- Cassandra? Eu não posso acreditar. E onde ela está?
- Eu já a procurei mas não a encontro em lugar nenhum!
- Então procure direito Fani!
Ouve um silêncio.
- Tudo bem, eu procurarei mais uma vez Sr.
- Faça isso.
O toc-toc seguiu corredor a dentro, e para o meu pavor a porta se abriu. Eu era capaz de ver os sapatos lustrosos do Sr. Augustus, por agonizantes instantes eu cheguei a pensar que ele tinha me descoberto, mas ele apenas sentou-se em sua cadeira de coro preta. Digitou alguma coisa em seu computador e espreguiçou-se. Seus joelhos a centímetros do meu nariz. Eu respirava com dificuldade, tentando minimiza-la ao máximo, minhas mãos suavam, e minha visão estava começando a ficar turva com o suor que insistia em cair. Até que, uma folha de papel enviada dos seus céus apareceu bem a minha frente aos pés do Sr. Augustus, nela estava a ficha completa de Sara, uma garota esperta e discreta, minha aluna e que estava desesperadamente precisando de pontos. Ela não resistirá, pensei. Consegui ver o número de seu celular, mandei uma mensagem:

Cassandra
12:04 PM
Preciso de sua ajuda. Me ajude que eu lhe darei cinqüenta pontos.
Srt. Cassandra.

Segundos depois (o lado bom de esses jovens de hoje estarem sempre conectados), ela respondeu:

Sara
12:04 PM
Do q ta precisando? Oitenta ou nada feito. ;)

Maldita.

Cassandra
12:05 PM
O.k.
Apenas faça o seguinte: venha até a sala do diretor e invente qualquer coisa que o distraia. Agora! Rápido!

Sara
12:06 PM
é!

Ela parece ter demorado uma eternidade. Enquanto isso, Sr. Augustus digitava incansavelmente em seu computador, agora eu sabia que estava desbloqueado, só rezei para que ele não voltasse a bloquea-lo.
Momentos depois Sara irrompe pela porta sobressaltando o velho diretor.
- Mas o que há? - Falou ele ainda assutado.
- Sr. Augustus! Caroline me derrubou na sala e socou-me a cara! E agora está fugindo! Precisamos impedi-la! - Disse uma chorosa Sara. Muito bem garota!
- Oh céus! O que está acontecendo com essa escola?
- Venha! Vamos logo.
- Sim, sim, vá na frente.
Esperei que saíssem e então saí debaixo da mesa, com uma terrível dor nas costas. E quase ajoelhei Lara agradecer pelo computador está desbloqueado. Vasculhei a lista dos professores e colquei o nome de Jhack no campo de busca, e fui recompensada com incríveis olhos azuis me fitando. Doía no peito a falta que esse homem me faz, e era por ele que eu estava passando por tudo isso, devendo pontos para uma aluna. Por ele. Anotei o endereço num pedaço de papel que peguei em cima da mesa e quando me preparava para sair fui surpreendida por uma pequena criatura que a partir dalí seria uma incômoda pedra nos meus sapatos.
- O que faz aqui Srt. ? - Disse desafiando-me.
- Eu bem... Vim procurar pelo Sr. Augustus ora!
- E como pode ver, ele não está!
- É evidente Srt. Fani, eu já estava de saída...
- Não, acho melhor...
Mas eu já estava saindo, e não olhei para trás quando ela gritou:
- Temos assuntos a tratar Srt. ! O sr. Augustus me pediu para avisa-la... - Eu já não a ouvia mais, meus pés ligeiros me conduziram para muito longe dalí, para o estacionamento. Naquele dia eu não daria mais aula. Pois tinha muita coisa para fazer.

Como Não se ApaixonarWhere stories live. Discover now