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Depois que Jhack foi embora, eu subi e me encolhi na cama. Sentindo-me imensamente traída por mim mesma. Será eu maluca? Talvez. Mas uma grande parte de mim sente-se inacreditavelmente feliz, como nunca me senti antes, isso é tão estranho, uma confusão dessas vem e instala-se dentro de mim, uma guerra entre a culpa e a felicidade. Mas será que eu também não mereço um pouco de felicidade? Dane-se!
Viro-me de barriga para cima e encaro o teto, o teto que me fez companhia nas noites em que passei em claro, mas agora ele me parece totalmente diferente. Ele é azul? Não, acho que é só minha imaginação me pregando peças. Sorrio, até os cantos da minha boca ficarem doloridos.
Agora, dentro de mim, vejo brotar uma chama, ela surge lenta e preguiçosamente, ameaçando queimar tudo dentro de mim. O frio lá fora já não pode mais me assustar, na verdade sinto que tenho o mundo todo a minha disposição, e tudo isso resume-se num único motivo. Resume-se a ele. Ai meu Deus desde quando eu virei uma sentimentaloide romântica? Ridícula é a palavra que me caracteriza agora. Oh Deus.

Ao acordar, quero dizer, eu nem dormi, então seria certo dizer ao abrir os olhos depois de eles terem ficado no máximo meia hora fechados, ainda seria um eufemismo. A noite foi agitada demais, e eu não tenho a mínima ideia com que cara chegarei na escola segunda feira. Com certeza alguma coisa mudou, e para mim não será uma tarefa fácil encarar todos, se bem que acho que ninguém desconfia que exista alguma coisa entre mim e Jhack, assim espero. Mas afinal existe mesmo alguma coisa? Eu não sei.
Parada em frente ao meu guarda- roupa observo minhas bem organizadas roupas, mas a beleza disso para por aí, pois basta pegar qualquer peça para eu notar que Jhack e Gisele tem razão, elas são horríveis. Como pude passar tanto tempo usando essas roupas?
Mas porque agora eu me importo? Eu também não sei. Mas sinto uma necessidade enorme de substituí-las por novas.
Vou até o quarto de Gisele, mas exito antes de bater, já que é bem provável que ela esteja com alguém aí dentro.
Dou uma leve batida.
- Gisele?
Nada. Só um completo silêncio. Bato novamente.
Até que:
- O que...é? - Diz uma voz sonolenta.
- Posso entrar?
Ela não responde, então eu entro devagar. E graças a Deus ela está sozinha. Deitada de bruços com os cabelos cobrindo seu rosto, só de calcinha e sutiã.
- Será que dá para você vestir alguma roupa? - Falo enquanto vou até o seu closet imenso, que por sinal é quase do tamanho meu quarto. Se tem uma coisa que Gisele preza é seu closet. Pego um vestido florido com maguinhas e jogo em cima dela.
- Vamos Gi! Vista-se!
- Ãh? - Ela vira-se e retira a máscara para me olhar, mas fica um pouco atordoada com a luz que vem da porta. Vou até as janelas e as abro, clareando ainda mais o ambiente. Ao fazer uma pequena inspeção percebo que ela não o limpa à séculos.
- Eu disse para levantar.
- E por que eu faria isso? - Ela pega o vestido que escolhi e faz uma cara feia. - Espera um instante.... Você não acha que eu vou vestir isso? Né?
- Em primeiro lugar, nós vamos ao shopping por isso não demore, segundo, é só um vestido, não me importo se não gosta.
- Caso você não tenha percebido mas quem vai vestir isso sou eu, então você deve se importar. E quem disse que você pode escolher roupas para alguem vestir? Sem querer ofender, mas você não é a melhor pessoa para cuidar do visual de outra pessoa.
Reviro os olhos, não vou me abalar, já que ainda é muito cedo. E também isso acabará logo.
- Ah pare com esse papo e lenvante-se logo. Te espero lá embaixo. - Saio do quarto já um pouco estressada, mas não posso deixar que o mal humor costumeiro me pegue agora, hoje é dia de libertação, inclusive do mal humor. Então dane-se as chatices da Gisele.
Como sempre, tive que esperar. Por Gisele. É incrível a capacidade dela de demorar, não quero que isso aconteça comigo. Quando estou prestes a chama-la pela segunda vez ela surge, graciosa descendo a escada.
- Já estava quase desistindo.
- Dramática. Vamos antes que eu desista. Afinal por que essa comoção toda para ir ao shopping? O que eu perdi?
É inevitável. Fico vermelha. Ela enrubesce, e parece que sua ficha cai.
- Ai meu Deus.... O que aconteceu?
- Aconteceu o que?
- Ãh?
- O que?
- Cassandra, não me enrole.
Viro de costas para esconder o quanto estou vermelha. Mas sei que não adianta, ela me conhece muito bem.
- Não adianta se esconder, eu saberei no final. Você sabe.
Claro que ela tem razão, quando põe uma coisa na cabeça não descansa até conseguir o que quer.
- Cas?
Viro-me de frente para ela.
- Ontem Jhack esteve aqui.
Ela fica amarela. Olha para os lados como se estivesse se certificando de que estamos sozinhas e se aproxima cautelosamente de mim. E então em seus lábios surge o mais largos dos sorrisos. Quase tenho um infarto quando:
- Meu Deus Cas! - Ela segura meus ombros - Como você não me contou antes? Eu não acredito! Ele beijou você? - Ela arregala os olhos - Vocês transaram?
Eu engasgo com minha própria saliva.
- Não! - falo rápido demais. - Nós apenas...é...
- O quê? Vocês apenas o quê?
Sorrio involuntariamente.
Me jogo no sofá e digo sorrindo:
- Depois que você saiu, e eu estava apreciando um bom vinho e uma boa música - Gisele revira os olhos, ela odeia música clássica. - quando alguém bate à porta, no inicio eu pensei que se tratava de você, mas não era. Era ele. Lindo e fabuloso. - meu sorriso desmancha. - Não sei o que aquele homem lindo viu em mim.
- Cas você é linda. Pare de se depreciar. - Sorrio para ela. - Agora continue.
- Foi tudo muito estranho. Ele me beijou, e eu achei que estava sonhando, mal sentia o chão sob meus pés, estava tudo muito bom até que eu chorei.
- Ah não, mas que droga em?!
- Pois é.
- E como ele reagiu?
- É aí que está a estranheza de tudo. Ele me abraçou. Simples assim. E disse que sabia o que eu vinha tentando fazer.
- E o que você vinha tentando fazer? - Gisele mal aguenta de ansiedade, ela mexe sem parar na barra da sua sai, e me olha ansiosa, como se o que eu estou contando fosse a última notícia do ano.
Desvio os olhos e olho para o chão.
- Eu bem...só fui eu mesma...
Gisele cai na risada, ela gargalha estericamente. Está tão vermelha que chego a imaginar que vai explodir.
- Já acabou? - pergunto cética.
Ela tenta se recompor.
- Desculpa. Mas eu não acredito que você fez isso.
- E por que não?
- Por que se você o tivesse feito ele não teria vindo aqui ontem.
Reviro os olhos.
- E pare de revirar esses olhos, já estou ficando tonta.
- Ta sei. Muito engraçada. Você deveria ganhar o Oscar da Comédia. Isso existe né?
- E eu sei lá?! - Rimos juntas, até a barriga doer.
- Mas enfim, e o que aconteceu depois?
- Depois o que?
- Depois que ele disse que sabia o que você vinha tentando fazer....
- Ah....bem, eu claro fiquei estabanada. Mas dele só recebi carinho e compreensão.
- Oh que fofo Cas. Até que enfim alguém corajoso o bastante para encarar essa fera. - Ela aponta para mim. - Me responde, onde estava escondido esse homem?
- Me responde você.

Como Não se ApaixonarWhere stories live. Discover now