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Naquela manhã, a de quinta eu me refiro, o céu parecia pesado demais. Como disse antes, estamos a apenas algumas semanas do conhecido rigoroso inverno do Alasca. Talvez seja verdade que essa má fama de que o inverno no Alasca é insuportável , bem, insuportável para quem chega, pois para quem cresceu aqui essa visão é bem diferente. Para falar a verdade, eu não tive lá muitas experiências em "provar" de outros climas, me formei na Universidade do Alasca em Anchorage uma das maiors cidades do Alasca, e de lá me mudei para a capital, Juneau. Mas não posso negar que quando estamos no verão, por mais curto que ele seja, sinto um certo prazer em ver grama verde, no entanto a paisagem branca de certo modo me faz lembrar de quem sou e o que sou. Ou até mesmo o que me tornei. Por isso não costumo reclamar dos -12 C° que costumam fazer por aqui nessa época do ano. Mas isso é daqui à algumas semanas, em Julho. Não que isso venha ao caso, quero dizer, o clima, mas acho importante informar sobre tal pois naquela manhã de quinta feira, nem os mais rigorosos dos invernos seriam capazes de congelar o mundo como o meu coração seria, porque nele havia mais gelo do que no Alasca inteiro.
Para começar, a casa de Jhack ficava um pouco afastada da cidade. Para ser mais específica, ela fica isolada, quase no meio do nada, eu a comparei com aquela casa da família vampira do namorado vampiro de uma moça mortal do filme e livro Crepúsculo, sim! Jhack mora em uma casa como aquelas, só que sem as janelas e paredes de vidro, mas igualmente grande e esplêndida. De uma arquitetura moderna mas charmosa, com paredes de concreto volumosas e delineadas com tanto capricho que arriscaria dizer se tratar de uma verdadeira obra de arte. Um conflito entre o artificial e o natural, já que a casa é toda circulada por uma densa floresta de árvores verde-escuro. Não havia murus, como haveria? Uma das vantagens de se morar na Ultima Fronteira é que por aqui há poucos registros de assaltos, mortes e tudo mais.
Havia um sinuoso caminho com paralelepípedos que conduzia até à casa, essa por sua vez erguia-se poderosa a minha frente, e exalava uma impressão sinistra ainda mais reforçada com as espessas nuvens gorduchas e cinzentas no céu matinal. A quietude do lugar me lembrou uma cena típica daqueles filmes baratos de terror, até senti uma leve brisa soprar em meu rosto, até mesmo acariciar-me as pernas, minha saia rendada permitia isso. Depois de estacionar o carro, a uma distância segura, eu não soube de imediato o que deveria fazer. Olhei em volta mais nada de anormal parecia visível, as árvores rosnavm uma para as outras ao serem embaladas pelo vento. Escutei mais alguns sons: esquilos brigando por alguma bolota, aves voando alto no céu nebuloso, ao longe, acho eu, o som de água corrente. Mas tirando esses, nada vinha da casa. Então fiquei parada por alguns minutos observando-a. Mas afinal o que eu esperava? Que eu chegaria lá e encontrasse Jhack me esperando? Mas a verdade era que sim, eu queria que tivesse sido assim. Seria tão mais fácil! Decidi circula-la. Olhar em volta. E como eu pensei, estava tudo vazio e bem trancado. Nada de Jhack. E não pude deixar de ficar um pouco desapontada, e o primeiro pensamento que me ocorreu foi de ir embora, caminhei de volta para o meu carro abri a porta e sentei no banco do motorista. Girei a chave. Quando na minha cabeça, não, em meu coração, eu senti que aquela ainda não era a hora de ir, eu precisava de respostas, não fiz tudo o que fiz para chegar lá e apenas dá uma simples olhada em volta. Por mais que eu não soubesse ao certo o que fazer, ou como fazer. Como eu entraria? O que faria depois? E se dentro houvesse alguma fera com dentes enormes? E se alguém me vise invadindo e chamasse a polícia? E se eu fosse presa? Ai meu Deus eu não poderia ir presa, não posso ter uma ficha criminal! Mas que ideias mais idiotas! Por isso desci do carro decidida, se naquelas portas havia trancas eu as quebraria, se houvessem feras eu as enfrentaria (sempre tive jeito com animais), e como alguém nesse fim de mundo me veria? Nada disso me afastaria dos meus objetivos. Afinal sou ou não sou Cassandra aquela que nada teme? Pois bem, então que se explodão os porquês e os se.
Ao voltar percebi algo que eu não vira antes, uma janela no segundo andar não estava fechada, não percebi da outra vez porque não notei que a cortina branca não balançou ao vento, mas olhando bem, elas mexiam preguiçosamente no ritmo do vento que agora soprava com mais intensidade fazendo com que as árvores fizessem um barulho sinistro. Mas havia um problema. As janelas ficavam muito altas. Procurei alguma coisa que eu pudesse usar como escada mais nada foi alto o suficiente. Ficava a quase 2,89 metros do nível do chão. Árvores! Estava rodeada de árvores e não atentei para elas! Outro problema, eu nunca subi em árvores, quero dizer, até aquela manhã de quinta-feira. Eu não tinha muitas opções por isso não havia tempo a perder. Por sorte, eu fui de tênis, com borboletas rosas mas eram tênis, minha saia é que foi o problema. Como os galhos eram bastante dispersos, eu tinha que por uma perna no norte e outra no sul, e por duas vezes eu fiquei engatada num galho inoportuno por conta da maldita renda. Mas ao alcançar a altura da janela fiquei aliviada por chegar tão alto, foi uma primeira vez e tanto. Era necessário esticar-me um pouco para alcançar o parapeito da janela, e para o minha sorte ela era grande o bastante para que eu a transpassasse sem dificuldade. Pousei com um baque surdo no piso frio de madeira perfeitamente polido. E fiquei estupefata com o que vi ao meu redor. Uma imensa sala bem iluminada com todas as paredes cobertas por estantes cheias de livros. Perto da janela em que pulei havia uma imensa poltrona marrom de couro legítimo. Ao seu lado uma mesinha cheia de livros que foram lidos pela metade ( já que alguns deles tinham um marca texto ao meio, no final e no começo). Tinha tantos livros que cheguei a pensar que estava numa livraria. Eu não sabia que Jhack era um amante tão fiel aos livros. Quase senti ciúmes.
Quando pus os pés no carpete luxuoso senti algo naquele lugar de familiar, sabia que ali, era um lugar muito íntimo de Jhack, assim como um ateliê para um artista, ou um estúdio para um fotógrafo, até mesmo uma cozinha para um grande chef. Para mim, eu diria que meu lugar sagrado é o meu quarto.
Mas eu não fui até ali para admirar a grandeza da coleção de Jhack, eu fui para descobrir algo sobre o desaparecimento dele.
Então segui na direção da porta e vi que até a maçaneta tinha algo de peculiar, era entalhada com insígnias egípcias. Exótico. Pensei. Gostei das maçanetas. A porta dava para um estreito corredor iluminado apenas pela luz que vinha da biblioteca, mas ao avançar notei que a luz também vinha de algum lugar, mas não sabia de onde, pois não havia janelas a vista, foi então que olhei para cima e vi que a luz vinha de . O telhado era transparente! Pelo menos no corredor. Que por sua vez contava com varias portas de um lado e de outro. Quadros com pinturas com arte contemporânea e clássicas estavam por todo o lugar, com renomados artistas, alguns eu conheci, outros nunca tinha visto, mas ali estava um legítimo Van Gogh.
As paredes esbanjavam um tom calmo de amarelo e creme, tudo muito bem iluminado pela luz que emanava do teto. Escolhi algumas portas e adentrei, mas nenhuma me chamou atenção. Sentia um certo receio de entrar em alguma que levasse ao quarto de Jhack. Então seria assim que eu conheceria o quarto dele? Eu sempre imaginei de outro jeito... Mas afinal eu já não tinha invadido sua casa? Sua biblioteca e bisbilhotado suas artes? Eu sou uma péssima quase namorada. Fui até a escada de com degraus de mármore e corrimão polido e observei tudo o que pude ver. Até aquele momento nenhuma fera havia me importunado, se houvesse uma eu diria a Jhack que é uma péssima cão de guarda.
Mas antes de descer, era importante primeiro encontar o quarto de Jhack, por mais errado que fosse. Então quando estava prestes a refazer meu caminho de volta, vi uma agenda com a capa de couro sobre a mesinha de centro em frente ao sofá de veludo preto. O reconheci imediatamente. Era o diário que Jhack sempre carregava com sigo. A onde quer que ele tenha ido não a levou. Desci a escada, sentei no sofá e apanhei a agenda/diário. Me desconcentrei momentaneamente com o cheiro que vinha dela, aliás tudo ali tinha seu cheiro. O sofá, as cadeiras, a escada, as almofadas até mesmo as paredes. No criado mudo ao lado esquerdo do sofá estava uma fato de Jhack, em que seus olhos zuis se sobressaíam em relação à paisagem branca as suas costas. Ele usava roupas de esquiar, e também segurava os equipamentos necessários. No rosto seu familiar e magnifico sorriso branco, tão branco quanto a neve que o rodeava. Mas eu me demorava nos seus olhos. Nada nesse mundo é mais lindo. Suspirei e relutante voltei minha atenção para o diário/agenda. Abri-o. Com medo de encontar algo que não deveria. Nele tinha várias anotações aleatórias com a inconfundível e bela caligrafia de Jhack, mas para mim não fizeram muito sentido. Deixei cair alguns papéis no chão, e agachei-me para apanha-los. Foi então que vi as passagens.

Como Não se ApaixonarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora