35

77 7 0
                                    

Estava no nome de Jhack e Suzanmas quem diabos era Suzan? Uma irmã talvez? Ou tia? A mãe? A verdade era que no fundo eu sabia. Uma namorada com certeza. Mas é claro que nada é perfeito. É óbvio que ele tem uma namorada. Como um homem lindo desses não teria, quem seria louca para recusa-lo? Eles resolveram viajar, é isso. As datas dissiam que Já fazia uma semana e meia, bem quando Jhack sumira. Não me restava mais dúvidas de que ele havia me largado. Guardei-as bem e resolvi que deveria ir embora. Sai dali com os olhos ardendo, mesmo tentando evitar que as lágrimas caíssem não fui capaz de segura-las. O caminho de volta foi terrível porque era difícil dirigir com a vista embaçada. O ar que entrava pela janela do carro era fria demais para o meu gosto, já estava frio o bastante dentro de mim. Jhack me desapontara. Eu havia me enganado uma, duas vezes. E agora acontecera outra vez. Será que eu nunca aprendo? Acho que não. Dizem que coisa ruim faz a gente crescer, aprender, mas eu continuo caindo e caindo, e perdendo e sofrendo. E sempre acabo na mesma. Sozinha e magoada. Eu cheguei a imaginar um futuro bom para nós dois, sei lá, com filhos e uma casa dos sonhos como aquela que Jhack tem, ou ainda morar em outro país. Quem sabe? Eu sou uma boba sonhadora. No entanto, agora esses são apenas desejos que foram mais uma vez para o lixo da vida de Cassandra.

Depois que chegeui em casa não aconteceu nada de muito significativo, Gisele voltou a trabalhar e por isso a casa estava vazia. Não fui à escola. Menti para para o Sr. Augustus dizendo que estava com  virose. Então naquele dia passei as horas que me restavam trancada no meu quarto lendo alguma coisa, mas confesso que nem lembro qual era o livro.
Ficar sozinha tem lá suas vantagens. Como por exemplo você pode ouvir tranquilamente as músicas que quer, assistir TV alta sem ninguém te importunando ( quando digo alguém quero dizer Gisele, ela odeia o volume da TV alto), e andar nua e livre pela casa (não sou praticante do nudismo, mas é sempre bom fazer essas coisas). Mas quando nada disso ocupa mais sua mente, é difícil encontrar algo que o faça.
Não podia ir até a casa do meu pai porque eu lhe prometera não me intrometer por alguns dias, ele disse que precisava de um tempo, eu não queria brigar e também não estava com paciência para discutir, e meu humor já estava péssimo o bastante.

Hoje, sexta-feira, eu não fui de novo à escola. Afinal uma virose não se cura de um dia para o outro, certo? Por mais inquieta que eu estaja para voltar a dar aula eu não posso simplesmente dar bobeira e revelar que eu não estava doente e sim invadindo a casa do homem mais lindo das americas.
Depois de me trocar e descer para a cozinha, vejo uma magra e cansada Gisele,  mas sem deixar sua natural beleza. Ela está na cozinha preparando panquecas, e nem percebe quando entro.
- Búu! - Grito assustando-a.
- Ai! Que susto mulher! - choramingou ela.
Sorrio, mas meu sorriso se desfaz.
- Ei o que houve? - Perguntou-me.
- Eu fui até a casa de Jhack ontem.
- Então por que essa carinha?
- Eu invadi sua casa. - Digo simplesmente.
- O que ? Mas por que?
- Porque eu sou Cassandra Verc e estou fadada a ter meu coração em fanicos.
- Espera aí o que eu perdi?
- Jhack me deixou, assim como Brenow e Olivier.
Acho que agora a ficha da Gisele caiu.
- Não me diga que...
- Sim, ele tem outra. Na verdade acho que eu é que sou a outra.
- Mas...?
- Suzan é seu nome, descobri isso também.
- Você a conhece?
- A única Suzan que conheço é a faxineira da escola. Uma senhora de quarenta e poucos anos.
-Será que ...?
- Sra. Suzan? Acho que não.
- É.
Silencio.
- Mas e  você?
- Eu o que?
- Como se sente em relação a tudo isso?
- Estou bem. Afinal mal nos conhecíamos, certo?
- Mas você estava tão envolvida...
- Não tanto assim.
- Mas olhe para você! Você mudou! Por ele!
- Não foi por ele, e nem para ele, foi por mim, ele apenas me abriu os olhos.
- E outras coisas também.
- O que? - Falo ofendida.
- Falo do seu coração.
- Ele continua onde e como sempre esteve.
- Não se engane assim.
- Quem me enganou foi outra pessoa. - saio sem rumo pela porta a procura de algum consolo, deixando Gisele para trás falando alguma coisa que agora eu já não mais escuto.
O ar está frio,  frio demais.  Não trouxe um cassaco. Isso me faz lembrar das vezes em que Jhack me aquecia com o seu. Balanço a cabeça para tentar conter as lembranças que são lanças afiadas machucando meu coração. Lágrimas ameaçam cair. Mas eu não permito. Caminho agora com mais determinação, mas sem saber para onde ir. Nossa vizinhança é pacata, por isso é fácil andar por entre as ruas sem ser perturbada por vizinhos inconvenientes ou carros. Olhando com mais atenção a minha volta percebo que o inverno não demorará a chegar, as árvores já perderem boa parte de suas folhas, e o vento frio as sobra espalhando por toda a rua. Abraço meu corpo em vão tentando me aquecer. Está tudo tão quieto que chego a pensar que as pessoas talvez tenham abandonado suas casas e fugido do frio.
- Ei! - Grita alguém atrás de mim.
Viro-me automaticamente.
- Srt Cassandra!
- Sara. - Digo desanimada.
- A srt. está bem?
- Ah sim, estou ótima! - Merda! Esqueci que estava "doente".
- Então o que faz aqui? - Perguntou-me desconfiada. - Não estava doente?
Droga. Eu deveria estar. E matar você.
- Eu bem... E você, o que faz aqui?
- Bem, eu moro aqui. - Ela apontou para uma casa verde oliva logo a nossa frente. Ah então somos vizinhas! Que legal.
- Não deveria  estar na escola? - Acusei.
- Acontece que...acho que peguei a mesma virose que a srt.
Estreitei meus olhos. Garota esperta.
- E também acho que eu mereço um A+.
- O que? Isso é chantagem?
- Chame do que quiser. - Falou despreocupada.
- Tudo bem, mas acho que o Sr. Augustus não ficaria muito feliz em saber que uma de suas alunas andou mentindo para ele.
Ela corou de raiva. Fuzilando-me com o olhar. Sara tem entre quatorze e quinze anos, tem os cabelos curtos e pretos, tão escuros quanto os meus olhos. Um belo contraste com sua pele branca, quase translúcida. Mas é mais baixa do que eu, e uso isso ao meu favor. Mostrando quem é que manda. Afinal não sou eu a professora?
- Ta. Eu não vou dizer nada. - Disse Sara por fim.
- Então acho que estamos entendidas. - Estendi minha mão em símbolo de paz. Ela apertou de leve.
- Acho que sim. Nossa sua mão está tão gelada que quase peguei uma pneumonia!
- Desculpa. - Falei.
- Cadê seu cassaco? Esqueceu que estamos no Alasca? Sair sem um cassaco é como ir pescar sem iscas.
Ótimo, agora estou recebendo lição de moral de uma de minhas alunas.
- Você não tem algum dever para fazer não? Vá estudar, teremos um teste daqui a duas semanas.
- Ai! Que saco matemática. Odeio números e letras juntos! Para que isso? Eu vou ser modelo! - Ela gira e pousa como se estivesse sendo fotografada. Eu rio de suas presepadas.
- Mas antes disso você precisa aprender, o conhecimento é a sua melhor arma. Entendeu?
- Ah! Esta bem. Lembrarei-me disso quando o meu nome estiver na calçada da fama naquelas estrelas em Hollywood.
Sorrio mais uma vez.
- Ei, conseguiu o que queria naquele dia em que estava em apuros na sala do diretor?
- Oh sim.
- E? - Quis saber ela.
- E nada. Olh agora eu preciso ir. Estou com muito frio, e seria uma lástima ficar doente de verdade.
- Você tem razão. Também vou dizer entrar.
- Até logo - Falei acenando. Mas a verdade era que não era só o frio que estava me corroendo. Falar daquele dia me lembra da tragédia que foi ter invadido a casa de Jhack. No entanto, a verdade por mais lodolorosa que seja deve sempre ser dita, e não foi o que ele fez. Por isso não me resta escolha a não ser não perdoa-lo.

Como Não se ApaixonarМесто, где живут истории. Откройте их для себя