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Passamos o dia comprando. Gisele adorou o programa, claro. Comprar é o esporte favorito dela. Mas confesso que gostei também, já fazia um bom tempo que eu não fazia compras, quero dizer, tirando o supermercado, mas acho que isso não conta. Enfim, ela me fez chegar em casa com mais sacolas do que grãos de areia numa caixa de areia de gato. E surpreendentemente a maioria são minhas. E cerca de noventa e cinco por cento delas foi Gisele que escolheu, ainda bem porque eu não saberia o que comprar se estivesse sozinha.
Chegamos a meia hora, Gisele esta no seu quarto, fazendo lá não sei o que, nem quero saber. Já eu, resolvi tomar um banho quente de banheira. Depois do frio que passamos até chegarmos aqui. Pois, para a minha infelicidade, no comainho até em casa, o meu querido carro parou do nada, e eu muito atenciosa não percebi que o carro estava sem gasolina. Como pude esquecer de abastecer? Não posso dizer o quão irritada Gisele ficou posso? Ela quase me matou! Me chingou até chegarmos em casa, e reclamou incansavelmente sobre como seus pés doíam com os saltos de oito centímetros, cerca de quatro quarteirões inteiros eu tive que ouvir, afinal foi eu a culpada, jurei para mim mesma nunca mais esquecer de abastecer.
Entro quase desesperada na água que abraça meu corpo. Inclino minha cabeça para trás e fecho os olhos, a água está tão deliciosa que chego a quase adormecer, minhas pernas doem. Mas por um segundo esqueço minhas dores físicas, pois aquilo que carrego em mim, dentro de mim, supera qualquer traço de coisa ruim. Olho para minhas mãos e lembro da sensação que é te-las passado entre os fios de cabelos dourados de Jhack, sorrio sozinha.
Não sei quanto tempo fiquei de molho, mas quando saí de lá, o sol já não residia mais no céu. Em cima da minha cama está cerca de trinca sacolas, esperando para serem abertas. Mas eu não sinto a mínima vontade de arruma-las, por isso derrubo todas no chão e me jogo na minha macia cama. Mas cerca de três segundos depois me arrependo e começo a pega-las e coloca-las no meu guarda-roupa, que agora está devidamente repaginado. Sorrio, Jhack terá um treco amanhã quando me ver. Por isso depois de comer, cinco fatias de pizza trato logo de dormir rezando para a noite passar bem rápido.

Mas a insônia ainda não me deixou, no entanto desta vez não era frustração, medo ou incertezas que me perturbavam, e sim o amor. Nunca fiquei tão ansiosa em toda minha vida. Tudo isso para ve-lo? Imagine quando estiver em sua presença.... Eu definitivamente não compreendo o amor. Eu achei que entendia, contudo agora vejo que estava errada. Mesmo aqui sozinha, eu sinto como se não estivesse. Sinto que se, eu quiser, posso fechar os olhos e encontrar Jhack em qualquer lugar que eu imaginar. E essa sensação é tão prazerosa que chega a sentir um estranho calor possuir meu corpo. Mas aos poucos sou vencida pelo cansaço e adormeço num sono sem sonhos.

- Bom dia flor do dia! - Falo sorrindo para Gisele no mesmo instante em que rodopiava em cima de meus saltos bege discreto e profissional sem deixar de ser lindo, eu também vestia uma linda regata branca com estampa de símbolos africanos, calça de boca de sino preta que fazia fazia meu bumbum parecer maior do que realmente é. E para completar uma linda jaqueta de couro marrom, que me deixava elegante e quentinha. Mas Gisele me olha de um jeito questionador.
- Bom dia. - Diz desanimada.
- O que foi? - Digo tanto por sua reação ao meu animado bom dia tanto por seu desânimo. São raras as ocasiões em que já vi Gisele assim tão, desanimada. Lembro que a última vez nós ainda estávamos no ensino médio, e naquele verão, Gisele realmente ficou deprimida. No início pensei que se tratava de mais de um de seus costumeiros caprichos, mas depois de três dias ,sumida ou trancada em casa, percebi que era sério. Ela faltou esses três dias na escola, e mais quatro em seguida. Totalizando uma semana, foi quando eu constatei que o que estava acontecendo era muito grave. No sétimo dia de seu repentino sumiço, eu resolvi procura-la. Mas para ainha surpresa ela não estava em casa, seus pais me disseram que ela havia saído fazia uma hora e que provavelmente só voltaria no jantar, como já estava quase na hora, escolhi ficar. Mas, infelizmente eles estavam enganados, pois Gisele só chegou em casa após três horas, forçando-me a espera-la todo esse tempo. Mas eu estava decidida a descobrir o que estava acontecendo com minha amiga maluca.
Mais tarde naquele dia, chegava em casa uma pessoa que definitivamente não era minha amiga. Cabeça abaixada, ombros curvados, horríveis olheiras, e nenhum traço daquela sua natural vitalidade e vontade de viver.
- Oh Gisele, eu estive tão preocupada! - A abracei forte levando-a para a segurança do seu quarto. No fim descobri o que tanto a atormentava. Gisele experimentou drogas. Com um maldito namorado que tivera, em apenas duas semanas de relacionamento ele a levara para o mal caminho, e ela ingenuamente foi. Foram os quatros meses mais difíceis de nossas vidas, pois tivemos que esconder tudo de seus pais. Fiz ela deixar o maldito maconheiro, e aos poucos ela foi largando o cigarro da morte. Ninguém até hoje sabe, a não ser nós duas, uma coisas dessas não se sai contanto por aí. Por isso agora olhando-a assim tão abatida, me vem um aperto no peito só de imaginar que de novo...
Como ela não responde eu começo a ficar preocupada.
- Meu Deus Gisele, não me diga que você....
Ela me interrompe:
- Eu não usei drogas!
- Imagina só se eu ia dizer uma coisas dessas... - argumento na defensiva. Ela estreita os olhos.
- Olha Cas eu só não acordei muito bem, andei tendo  insônias, mas garanto não ser nada grave. Não se preocupe. Agora, me diz você por que essa felicidade toda? - Diz ela tentando mudar de assunto. - Ah! Já sei! Não precisa responder, Jhack é seu nome! Acertei?
Tento encontrar traços da antiga Gisele mas é inútil, de alguma forma ela está diferente. Ainda mais assim, disfarçando, tentando mascarar algo que agora não me é claro.
- É sim - Digo simplesmente.
Ela sorrir, mas seu sorriso se desfaz sem querer.
Olho para o relógio em cima do balcão e percebo que estou atrasada.
- Eu preciso ir, mas quando eu chegar conversaremos.
Saio sem não antes ve-la revirar seus glamourosos olhos azuis. Ao cruzar a porta:
- Ah e Cas, você está linda.

As coisas estranhas do dia estavam apenas começando, ao chegar na escola, percebo imediatamente que algo está faltando. Mas não são os desanimados alunos adolescentes, ou o carro velho do zelador, ou ainda as conversas paralelas e vazias dos alunos. E sim o carro majestoso de Jhack que sempre está na sua vaga favorita. Nela nada está, exceto pelas poucas folhas no chão e alguns gravetos. Estranho. Porque sempre quando eu chego ele sempre está na sua vaga. Já que lutou tão bravamente por ela. Mas me convenço de que ele deva estar só atrasado. Por isso sigo normalmente meu dia, mas com ainda aquele inconveniente sentimento de espectativa.
Felizmente não tive muito tempo para tais distrações, pois o trabalho exigia concentração e foco, mesmo que uma pequena parte dela estivesse longe da sala de aula.
Quando o último sinal tocou eu quase saí correndo da sala de aula, tropeçando sem querer com meus sato escarpã. Cheguei rápido na sala dos professores, mas muitos já estavam no refeitório, na sala só permaneceram dois, e nem um deles era Jhack.
Então me encaminho para o refeitório, determinada. E percebo que minha aparência outrora feia e descuidada, agora sútil mas repaginada, atraiu alguns olhares, especialmente dos garotos. Sorrio educada quando algum deles permanece parado babando no meu caminho e simplesmente desvio seguindo em frente. Ao chegar lá, vasculho com os olhos cada mesa, cada metro quadrado, mas ele não está em lugar nenhum. Chego até a perguntar para algum de seus alunos, mas a resposta é sempre a mesma, não sabem nada.
Depois de a hora do almoço acabar e nada de Jhack aparecer, eu chego a conclusão de que, Jhack não veio.

Como Não se ApaixonarWhere stories live. Discover now