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Fico pasma. O que? Eu apaixonada? Dificilmente! Eu? Mas é claro que não! Por que ter tanto trabalho para blindar um coração se essas barreiras podem ser quebradas tão facilmente? Eu não permitiria que as coisas chegassem à esse ponto, isso que estou sentindo é apenas uma reação à abstinência de três anos. Quanto à isso não dúvidas!
- Pobre sonhadora Gisele! - Zombei. - Você acha mesmo que eu me entregaria tão fácil assim à alguém? Você mais do que ninguém sabe por tudo o que passei. - De fato ela sabia. Quando meu coração foi partido, Gisele sempre esteve presente. Nas horas mais difíceis foi ela quem me consolou, enxugou minhas lágrimas, teve paciência o suficiente para me ouvir xingar à vontade meus ex - namorados, e me deu seu magro ombro para eu chorar.
- Mas Cas, você não pode proteger um coração ferido para sempre. E quando o amor bater em sua porta? Você vai afugenta-lo como faz com qualquer um que tente se aproximar de você? Você acha mesmo que pode mandar nesse seu coraçãozinho frio aí? - Ela aponta o dedo em direção ao meu peito para enfatizar seu discurso idiota. Não quero brigar com ela, mas estou sendo forçada à isso.
- Sim! Eu posso! Eu não preciso de ninguém para ser feliz! A felicidade é uma coisa relativa, que cabe à cada um de nós encontar sua fonte, e eu, EU JÁ ESTOU SUFICIENTEMENTE FELIZ SOZINHA! Não quero um homem, por são todos uns idiotas egocêntricos!
- Que merda Cassandra! Será que dá para parar com esse papo de que é feliz sozinha? Sim, por que você não é! Eu conheço você muito bem para afirmar isso! Você concentra toda a sua atenção na merda da matemática e ignora totalmente o fato de que é uma mulher e necessita de um homem! Se esconde atrás desses óculos horríveis! Veste essas roupas desastrosas e não liga para esse ninho que chama de cabelo! - Gisele está gritando, agora de pé em minha frente. - Enquanto que por trás disso tudo, há uma mulher incrível, com o sorriso mais bonito que já vi! E olha sua pele, é perfeita, chego a acreditar que você não tem poros! Não percebe o quanto é bonita? Então não venha me dizer que os homens são isso, são aquilo, por que a pessoa ferida aqui não são eles, é você! Por isso cure-se primeiro para depois julgar quem é merecedor do seu valioso coração.
Ela não me dá tempo para responder, sai pisando duro e bate a porta com tanat força que chego a achar que a parede vai desabar. E eu fico olhando para o nada, tentando processar tudo o que ela maldosamente acabara de desferir contra mim. E se ela estiver certa? Lágrimas descem pela minha face focada agora na minha penteadeira. Choro silenciosamente, por ser covarde e egoísta. A verdade é que sei. Sei tudo isso que Gisele falou, sei que não posso proteger para sempre meu coração que sangra, e que nunca irá parar de sangrar. E sei também, que o momento em que mais cheguei perto do abismo foi quando Jhack me beijou. Agora estou lá, prestes a cometer a loucura de salta-lo. Minha sensatez não permite que eu o faça, mas meu coração desesperado implora pelo contrário. O que fazer? Tenho certeza que saírei ferida dessa. Meu multilado coração não suportaria mais um ataque, eu certamente desmoronaria como um castelo de areia derrubado pelo mar pelo peso da decepção. Por isso, nesse ato de egoísmo e autopreservação, eu opto por ignorar esse prematuro sentimento que sinto por Jhack, e me afastar do perigoso e tentador abismo. A única solução seria corta-lo e queima-lo pela raiz. E é o que farei.

Na manhã seguinte evito chegar cedo como de costume na escola. Não pretendo encontar com Jhack tão cedo, o evitarei à todo custo, essa é a primeira parte do meu genioso plano de Como Não se Apaixonar. Tenho esperanças de que ele tenha perdido o repentino interesse em mim e me deixe em paz, isso facilitaria bastante as coisas.
Felizmente não o vi durante todo o dia, me deixando assim mais aliviada para dar minhas aulas com sossego. Já no fim do dia, quando estou dentro do meu carro tentando equilibrar um copo de café em uma das mãos e três livros de tamanhos consideráveis na outra enquanto coloco a bolsa no banco do carona, tomo um tremendo susto ao aouvir um familiar timbre de voz grave:
- Eu não consigo acreditar em como você consegue fazer tantas coisas ao mesmo tempo!
Derramo meu café na minha saia fazendo com que a mesma grude em minha coxa, constrangedor. Ele ri.
- Do que está rindo? - Estreito os olhos fitando-o.
- Desculpa! - Ele ainda está rindo. Fecho com força a porta do carro sem olha-lo fazendo-o recuar. E fico feliz por quase ter prendido sua mão. - Ei! Calma aí! Eu preciso falar com você.
- Desculpa, mas estou meio sem tempo - Ligo o carro já com a intenção de fugir o mais rápido possível dali.
- Eu prometo que será rápido! - Não resisto e olho para ele. Mais lindo que nunca. Com uma camisa pólo branca, com os cabelos num desarrume charmoso, e olhos azuis suplicantes. Isso vai ser difícil, pensei.
- Eu sinto muito. Dou a partida e saio apresada dali, sem olhar para trás. Só agora percebo que estou suando, minhas mãos estão úmidas e frias. Meu coração palpita no peito. Como lidar com isso? Eu preciso ser forte, preciso afasta-lo. E para isso será necessário sacrifícios, e o primeiro será afasta-lo.

Como Não se ApaixonarWhere stories live. Discover now