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Gisele me trouxe em casa. Disse que eu precisava descansar, tomar um banho e trocar essas roupas "horríveis". Confesso que estou bastante cansada, já é madrugada, meus olhos pesam e meu corpo  clama por minha cama. Me dirijo preguiçosamente para o banheiro, passo mais alguns minutos no banho, seco os cabelos, e visto minha blusa branca comprida e um short de algodão macio. Encaro o teto, pensando.
Meu pai dessa vez se meteu numa encrenca das bravas. Yong. Que raio de nome é esse? Mal sai de uma se mete em outra, quanto mais peso para ficar longe de encrencas mais ele as procura. Eu não sei como vou fazer, mas preciso encontrar uma solução para esse problema, afinal não é nisso que sou boa? Sorrio em triunfo.
No trajeto até aqui, Gisele e eu conversamos pouco.  Ela parece ter esquecido daquele nosso desentendimento, ainda bem, por que estou sem estrutura emocional para encarar qualquer outra coisa. Por falar nisso, lembro sem querer de Jhack. Até em meus pensamentos você me persegue Jhack? Bufo irritada, não posso permitir que ele me invada assim desse jeito, quem ele pensa que é? Oriento meus pensamentos para outra direção, desviando - os totalmente dele. Mas é difícil! Penso em gatos fofinhos, peixinhos dourados, ursinhos de pelúcia, mas nada funciona, até chego a imaginar cenas violentas, sangrentas, mas o rosto do miserável sempre reaparece, frustrando - me. Viro de cara no travesseiro, tentando por fim aos intrusos pensamentos, como Jhack sorrindo, com aqueles perfeitos dentes, ou Jhack fazendo - me carinhos, até imagino aqueles mais inconvenientes, do tipo em que Jhack está sem camisa com um largo sorriso convidativo seduzindo - me. Como posso ser tão imbecil? Meu pai está num hospital, e eu aqui pensando em homens sem camisa, quero dizer, O Homem sem camisa. Levanto irritada da cama, pisando forte desço a escada fazendo meus passos ecoarem no espaço vazio. Olho no relógio laranja na parede branca, que marca quatro e quinze da manhã. Suspiro. Amanhã vou acordar com uma cara péssima, bem, mais que o normal. Tomo um copo com água e subo de volta para o quarto, só para mais uma batalha contra os meus teimosos pensamentos.

Na manhã seguinte, mal consigo ficar acordada, devo dizer que depois daquele copo com água eu consegui dormir? Pois bem, não preguei os olhos um minuto se quer. Fiquei rolando e bufando, mas o sono nunca chegou. Não me dei o trabalho de pentear meus cabelos, de modo que pareço um leão desgrenhado depois de uma caçada voraz. Vesti um suéter qualquer, com a primeira calça que vi pela frente. Como uma múmia paralítica me arrasto pelos corredores da escola. E ao longe vejo uma sorridente srt. Gelatina se aproximar, ao me ver, faz uma cara feia em desaprovação, não à culpo.
- Bom dia srt. Cassandra. Algum caminhão de lixo a atropelou?
Gelatina irônica!
- Bom dia, e não, não atropelou. Pois estava muito ocupado catando a senhorita por, pensei. - Sorri falsa. Ergo a cabeça e saio desfilando como uma modelo numa passarela, com meus cabelos desgrenhados e roupas amassadas.

Na hora do almoço, saio da escola com a intenção de almoçar naquele restaurante no qual engasguei. A comida de lá até que não é ruim. O ar está frio, por isso aperto o casaco ao redor do corpo, e caminho rápido. Mas algo no outro lado da rua me chama a atenção. Paro, endireito os óculos para ter certeza do que estou vendo. Mas não há dúvidas de quem se trata. Conversando intimamente, está uma garota alta, morena de pernas torneadas,e com lindos cabelos negros que batem no bubum avantajado. Ela passa a mão com dedos compridos nos ombros do homem, e fala sorrindo, jogando os longos cabelos para o lado, nitidamente flertando com ele. Por outro lado, ele parece incomodado, olha de vez em quando para os lados, passa as mãos nos cabelos sedosos, e tenta se desviar da pegada da moça. Jhack. Não poderia me enganar com esses olhos azuis, eu os reconheceria em qualquer lugar do mundo ou fora dele. Eu estou confusa, não sei dizer ao certo o que estou sentindo. Um estranho aperto aflige meu coração, sinto uma vontade imensa de atravessar essa rua e arrancar essa morena de cima de Jhack. Dar - lhe uns tapas e lhe dizer para não toca - lo. Me sinto como aqueles homens das cavernas, que arrastavam suas mulheres e as escondiam na caverna. Esse sentimento primário está me consumindo, sinto as bochechas arderam de raiva. E quado estou prestes a ceder a esse impulso possessivo, sou parada por um olhar. Jhack me viu. Arregalo os olhos, e me sinto como alguém que é pega no flagra, ele também parece assustando, fica branco e afasta rapidamente a morena. Com vontade própria, meus pés dão a volta e caminho apresada de volta para escola, cega por um sentimento que desconheço. De repente perdi a fome, e tudo e todos sumiram, ficando num completo silêncio.
Tudo acontece muito rápido, buzina, mãos, um clarão, e braços fortes me abraçam protetores. Olho para cima, e vejo o anjo mais lindo que já vi, sorrio e toco seu rosto. Mas depois tudo a sua volta toma forma, e percebo que estamos no meio da rua, e uma pequena multidão se formou ao nosso redor. Me sento e olho ao redor.
- Você está bem? - Jhack toca meu rosto. E eu o observo imóvel, ainda chocada com os últimos acontecimentos.
- Ãh... Acho que sim. - Então percebo o que aconteceu, quase fui atropelada por um motociclista mas Jhack me salvou.
- Ah graças a Deus! Sua cabeça dói? Deixa eu ver esse cotovelo... - Ele pega meu braço examinado, mas eu o puxo, e me levanto sem nenhum problema. Excerto por uma pequena dor no cotovelo, mas ignoro.
- Estou bem. Não há com que se preocupar. - As pessoas começam a se dissipar, voltando as suas tarefas, e eu quero desesperadamente fugir. Jhack também levanta e me acompanha.
- Você deveria pelo menos agradecer.
Ah o velho Jhack está de volta.
- Obrigada. - Falo sem olha - lo.
- Cassandra, sobre a garota, bem...
- Você não me deve explicações Jhack. Sua vida pessoal não me interessa. Mentira!
- Mas eu...
Agora eu paro e volto -me para ele falando:
- De verdade. Eu não me importo. - Olho em seus olhos. Uma eletricidade quase palpável se forma entre nós, minhas pernas tremem, e tenho que me controlar para não saltar em seus braços, na verdade entendo o que aquela moça estava tentando fazer, era só a reação que esse homem exerce nas mulheres, e alguns homens. Se ele também estiver sentindo isso, perceberá que estou mentindo. Que eu me importo sim! Que não suporto vê - lo perto de outras mulheres, que se eu pudesse o trancaria no meu quarto e o esconderia do mundo. Mas ele parece decepcionado com minhas palavras, e eu também fico, imensamente desapontada. Já não suporto, e quebro esse poderoso contato, viro - me e vou embora. E dessa vez Jhack não me segue.

Como Não se ApaixonarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora