A história deles continua - Parte 2

2.7K 216 30
                                    


Eles estavam chegando perto, eu conseguia ouvir os passos e os gritos atrás de mim. Os homens chegariam para destruir minha família e eu não podia deixar que chegassem até meus filhos, podia lidar com meu sofrimento, com a perda dos pais deles, mas não podia viver sem meus bebês.

— Nós vamos te pegar! — um deles gritou. — E quando isso acontecer você vai desejar nunca ter fugido de nós!

Corri o mais rápido que conseguia, meu peito queimava com as respirações fortes e com o ar gelado da noite, mas eu não parei, continuei correndo porque minha vida dependia disso e o bem estar dos meus filhos também dependia disso.

— Você só tinha que ser uma boa menina e entregar o lugar onde eles estão escondidos, era tudo o que precisava fazer. — me virei para trás ouvindo as vozes ainda mais perto, mas acabei tropeçando em um galho e indo de cara no chão. — Ai está você. Decidida a contar onde esconderam seus filhos?

— Sabemos que seus dois maridos não vão entregar tudo se ainda tiverem as crianças. — o outro escondido nas sombras disse depois que eu neguei com a cabeça. — Mas estamos dispostos a te quebrar até conseguir as respostas.

O rosto encapuzado surgiu na minha frente e mãos geladas agarraram meus braços, me tirando do chão. Um trovão retumbou ao meu redor e eu acordei assustada.

Meu corpo todo estava tenso, tinha sido apenas um sonho, mas pareceu real de mais, a ponto de me causar verdadeiro pânico. Me sentei na cama sentindo o suor frio escorrer por minha nuca e então outro trovão ecoou do lado de fora.

— É só uma tempestade. — murmurei para mim mesma passando a mão em meu pescoço. — E foi só um pesadelo, Camila.

Me virei para os lados procurando os dois maridos que não tinham acordado com todo o meu desespero, mas a cama estava completamente vazia. Onde diabos os dois tinham se metido as três horas da madrugada?

Joguei as pernas pra fora da cama e sai do quarto e camisola mesmo, não me preocupando com o frio repentino que fazia. Bastou eu alcançar o corredor para descobrir onde os dois tinham se enfiado.

Os cochichos vindo do quarto dos bebês me dava a resposta, eles tinham ido ficar velando o sono dos nossos filhos de novo. Era assim desde que voltamos do hospital, as vezes eu acordava e os via em pé do lado dos berços no nosso quarto.

Até que os gêmeos completaram cinco meses e eu insisti que os berços fossem para o quarto deles. Se dependesse dos pais os dois ficariam no nosso quarto até estarem grande de mais como Juninho, e isso eu não ia deixar!

Parei na porta pegando os dois no flagra, cada um com um filho no colo, balançando e murmurando alguma música duvidosa. Miguel estava na cadeira segurando Maria Alice e uma mamadeira, enquanto Vitor parecia estar colocando João Pedro para arrotar.

— Então eu fui mesmo trocada. — falei entrando no quarto e surpreendendo os dois.

— Amor, não queríamos te acordar.

— Os bebês só estavam chorando com os trovões e viemos ver como estavam. — Miguel tentou se explicar e eu semicerrei os olhos me fazendo de coitada enquanto sorria internamente.

— E esqueceram que eu também tenho medo de tempestade? — murmurei fingindo inocência e ganhando a atenção deles.

Vitor que estava mais próximo se aproximou me puxando pela cintura e plantando um beijo em minha testa, enquanto segurava nosso menino no outro braço.

— Nunca vamos esquecer de você, ursinha. — não sei se eles perceberam que eu estava fazendo charme ou não, o caso é que eles entraram na minha e vieram me dar atenção.

— Seria impossível esquecer a mulher mais perfeita desse mundo. — Miguel sussurrou, não querendo acordar Alice em seu colo, mesmo assim ele se levantou e andou devagar até parar ao meu lado.

— Não venham me babar não, peguem nossos bebês e vamos para o quarto. — resmunguei ao ouvir os trovões e o vento se intensificar. — Pelo jeito vai ser uma longa noite.

— Ursinha. — a voz sonolenta de Juninho vindo da porta nos chamou atenção. — To com medo.

Eu entendia bem o pequeno, apesar de estar passando na psicóloga os fantasmas de Juninho não tinham ido embora, ele tinha muitos problemas em confiar em homens desconhecidos e estava sendo uma longa adaptação para ele ficar na creche.

— Vem meu amorzinho, vamos todos pro quarto ficar juntinho.

Nossa cama era grande, justamente para caber nós três, mas definitivamente não cabia mais três seres, por mais pequenos que eles fossem. Por isso Vitor pegou o colchão inflável onde ele e o irmão passariam a noite e eu fiquei na cama com as crianças.

Eu estava adorando nossa nova vida, Miguel estava tinha montado uma oficina, já que descobriu sua paixão por mexer em carros, mas também investiram dinheiro abrindo um supermercado já que na vizinhança não tinha nenhum. Tia Nalva ficava em casa me ajudando a cuidar dos gêmeos, já Bianca era gerente ajudando Vitor a supervisionar tudo.

Nunca tinha imaginado que nossa vida estaria essa paz depois de tudo que deixamos para trás, mas eu não tinha ideia que tudo estava prestes a acabar.

De manhã quando acordei os dois homens já tinham saído do quarto mais uma vez, me deixando com os três pequenos ali. Me levantei com cuidado para não acordar nenhum deles e me levantei enrolando meu corpo no robe fofinho antes de sair na ponta dos pés.

— Tem certeza disso? Não tem outro jeito? — a voz de Miguel era baixa e eu fiquei parada na curva do corredor, antes de chegar a sala.

— Tenho, acha mesmo que eu ia te trazer essa merda se não fosse sério a coisa? — Vitor respondeu e eu consegui sentir a tensão dele nas palavras. — Ele ameaçou a nossa família, essas fotos são dela na praça com nossos filhos, estão dizendo que sabem nossa fraqueza e não vão hesitar antes de usar contra nós.

— Nós prometemos a Camila, juramos que tudo ilegal tinha ficado para trás, toda a merda ia ficar no nosso passado pelo bem dela e dos nossos bebês. — Miguel bufou e eu ouvi algo ser jogado na mesa. — Mas esses caras estão deixando claro que não é uma ameaça vaga, eles a seguiram, tiraram as fotos, visaram nossa mulher antes de vir e fazer a proposta, justamente para quando disséssemos não eles pudessem usar a outra carta.

— Vamos omitir isso, Camila não precisa saber e a mantemos em segurança. — Vitor insistiu me enchendo de revolta e por um instante eu quase deixei que minha ira me fizesse sair de onde estava escondida, mas ele continuou. — É apenas lavagem de dinheiro pra facção, que mal pode ter nisso?

Eu levei as mãos a boca em puro choque. Lavagem de dinheiro? Facção? Onde diabos tínhamos nos metido?

Os Chefes do MorroWhere stories live. Discover now