Capítulo 49 - Miguel

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Abri meus olhos e as luzes quase me cegaram, pisquei algumas vezes até que conseguisse abrir os olhos normal e encarar o lugar em volta. As redes brancas e o bip da máquina me deram a resposta de que estava no hospital, olhei para os tubos em meu braço, todos os fios ligados e então os curativos. Eu não tinha morrido!

Sentia todo meu corpo doer, como se tivesse sido atropelado por um caminhão, mas ainda sim estava vivo. Não demorou para que o quarto fosse invadido por uma enfermeira baixinha.

- Olha só, alguém acordou por aqui. Como se sente?

- Como se tivessem... passado por cima de mim. - minha garganta estava seca, meus lábios pareciam rachados. - Pode me... dar um pouco...

- Água, sim já vou pegar, só vou avisar ao médico que acordou. - ela me ajudou enquanto o médico fazia a checagem de sinais vitais.

- É senhor Torres, tem muita sorte mesmo, nenhum dos projéteis atingiu nenhum órgão. Vai ter dificuldades com o braço graças a esse ombro estragado, mas nada que fisioterapia e um pouco de esforço não ajude.

- E quando vou poder ir pra casa? Quero estar com a minha família a logo. - queria poder ver Juninho e Vitor, garantir pra eles que eu estou bem e esquecer aquele olhar triste do meu irmãozinho.

- Não vai precisar ir pra casa para vê-los, estão todos na sala de espera, bem ansiosos eu diria!

Sorri imaginando como deveria estar parecendo, todos eles ansiosos na sala de espera, sem notícias e inquietos.

Por sorte não demorou para que o médico liberasse para que o furacão entrasse ali. Vitor estava com Juninho no colo e o pequeno pulou de alegria sem se conter.

- Imão, você acodou! - ele gritou correndo pra cama.

- Ei, Juninho, não pode pular em cima dele, Miguel está machucado ainda. - Vitor falou mantendo o menino no chão ao lado da cama. - E aí irmão, como você está se sentindo?

- Como se tivesse passado no moedor. Pegaram o filho da puta? Ele feriu mais alguém quando saiu? - essa foi minha maior preocupação depois que cai no chão, que Bruno conseguisse matar alguém mais.

- Não, ele correu como o covarde que era e nós só queríamos te manter em segurança, você era a prioridade não ele. - meu irmão falou e eu agradecia por isso.

- Agora nem devia estar pensando nele e sim na garota que está te esperando. - Bianca se aproximou da cama com um sorrisinho cúmplice e meu coração disparou, me imaginar que Camila poderia estar ali.

Eu olhei nos olhos de cada um deles, procurando qualquer coisa que dissesse que aquilo era uma mentira.

- Ela tá aqui? Camila tá mesmo aqui?

- Sim, ela veio te ver assim que Bianca mandou uma mensagem. - dona Nalva me garantiu.

Eu nem conseguia acreditar. Depois de tudo o que ela passou, de tudo o que eu causei, não merecia nem mesmo uma mensagem, um olhar dela, que dirá sua preocupação em vir até aqui.

- E cadê ela? Porque não tá aqui? - não me surpreenderia se ela tivesse ido até o hospital dar a pouco a minha família, mas não quisesse me ver.

- Usinha tá domindo, tem um bebê! - Juninho falou me deixando completamente em confusão.

- Ela tá na enfermaria, teve um desmaio quando falaram que você estava bem, foi como se o corpo dela desabasse. - foi dona Nalva quem explicou.

Porque as coisas eram sempre uma montanha russa, eu não podia ficar apenas feliz por ter sobrevivido e por ela estar ali, e já vinha esse tombo pra gelar meu estômago.

- Me leva até lá, eu quero ver ela...

- Calma aí, relaxa! Não foi nada grave, ela está bem, só... está grávida! - Vitor foi rápido nas palavras, me acalmando e me jogando pra cima de volta naquela montanha russa.

Grávida? Meu Deus! Quer dizer aquilo era de se esperar, mas... minha ursinha tava grávida, esperando um filho meu!

- Vocês dois fizeram um ótimo trabalho colocando um bebê naquela barriguinha. - Bianca riu e eu olhei pra Vitinho com dúvida.

Podia ser dele? Ele transou alguma vez sem camisinha com ela? A expressão calma e tranquila dele me dizia que sim, ele também podia ser o pai. Como faríamos isso funcionar?

Mas não importava, naquele momento tudo o que eu queria era vê-la e pedir perdão, implorar pra que ela me perdoasse na verdade.

- Quero ver ela assim que acordar! Mas deixem ela descansar agora, deve estar precisando, não quero nem imaginar tudo o que ela já passou estando grávida.

Eu a enforquei e ela já estava carregando esse bebê, que tremendo filho da puta eu sou, ela podia ter perdido a criança antes mesmo de descobrir a gravidez. Esfreguei meus olhos imaginando a cena, eu nunca me perdoaria por ter feito isso e essa notícia servia também para me lembrar disso, o que eu fiz no impulso poderia ter acabado com a vida do nosso bebê.

Fiquei remoendo aquilo, depois de um tempo Bianca e a mãe foram comprar algo pra comer e eu pedi pra Vitinho ficar com o pequeno no quarto dela, não queria que ela acordasse sozinha.

Minha culpa me corroía e eu já nem queria mais saber se o filho era meu ou do Vitinho, seria criado como nosso, se Camila me perdoasse e aceitasse ser nossa pra sempre, íamos ser uma família completa.

- Olha quem está aqui! - ouvi a voz de Vitor e quando olhei pra cima lá estava ela.

A mesma garota que me enfrentou no primeiro dia no morro, que bateu no meu irmão enquanto me xingava. Os cabelos agora estavam cacheados, o vestido que ela usava era soltinho e cheio de flores. Camila parecia a mesma menina doce de quando nos conhecemos, antes de se corromper.

- Você veio mesmo! - me estiquei tentando me sentar, mas ela e Vitor correram até a cama me parando.

- Está ficando maluco? Não pode se mexer assim! Quer piorar seu estado? - toda a braveza dela era algo que eu tinha sentido muita falta nesses últimos dias.

- Estou feliz que tá aqui, só queria me sentar...

- É mais você passou por uma cirurgia complicada, perdeu muito sangue, então o que você quer não vai ser levado em consideração aqui!

Porra ela ainda gosta de mim, tava na cara isso com o jeito dela revoltado. Não consegui evitar de sorrir, parecia um idiota com certeza, mas quem ligava.

- Me perdoa? Por tudo o que eu fiz, pelo que falei, por ter tocado em você, te machucado e magoado seus sentimentos. - segurei a mão dela mais próxima, puxando para o meu peito. - Eu sinto muito, Camila. Sinto muito por tudo e sei que nada do que eu fizer ou falar vai reparar o meu erro.

Ela se sentou com cuidado do lado da cama, os olhos castanhos agora estavam mais sérios do que eu jamais tinha visto.

- Sabe que eu não achei que você fosse capaz de me machucar, por mais perigoso que parecesse para as outras pessoas, acreditei que isso não ia nunca ser dirigido pra mim. - ouvir aquilo me fazia sentir ainda pior, eu quebrei não só o coração dela, como a confiança também. - Eu tive medo de você pela primeira vez.

- Eu sinto muito. Eu te amo!

- Estava disposta a te esquecer, a deixar de lado tudo o que vivemos, a enterrar todos os momentos por aquele. - apertei um pouco mais forte a mão dela, não querendo perder aquele contato tão de pressa. - Mas quando ouvi a ligação de Bianca falando que você estava morrendo, eu quase tive uma troço. Não podia te perder, não queria que nada de ruim te acontecesse!

- Camila...

- Eu amo você, amo Vitor. - ela estendeu a mão para meu irmão segurando firme. - Mas se qualquer um de vocês fizer algo do tipo de novo eu vou matar vocês. Não vou tolerar esse comportamento de novo, então se vocês amam seus paus é melhor me tratarem bem!

Nós dois gargalhamos, uma coisa leve, sem mentiras e amarras. Só nos três sorrindo.

- Eu te amo tanto ursinha, você não tem ideia! - rosnei segurando seu rosto por impulso e ela me beijou, deixou um selinho pequeno.

- Agora temos que arrumar nossas vidas, já que tem alguém a caminho e a coisa mais importante nesse momento é essa criança!

Os Chefes do MorroWhere stories live. Discover now