Capítulo 48 - Camila

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Eu tinha ido pro hospital na velocidade da luz, padre Bento me levou lá de carro o que facilitou que eu chegasse mais rápido aquela hora. Quando corri para a sala de espera meu coração estava na boca, mas quando avistei Vitor e abatido e Juninho encolhido em seu colo fiquei com ainda mais medo do que quando me viu sangrando.

Corri pra eles e fiquei lá ouvindo cada palavra de Bianca, contando sobre a mudança deles pra minha cidade, a escolha de Miguel em ir justamente pra lá por minha causa. A casa que eles compraram para minha tia e então ela começou a contar o pesadelo.

Eles estavam na casa da frente quando ouviram os tiros e quando colocaram Juninho para dentro em segurança viram Bruno sair correndo da casa, com a arma ainda em punho e segurando o braço sangrando.

Quando Vitor saiu nos deixando para trás eu soube que precisava checar como ele estava, se eu não tinha visto Miguel ser baleado e já estava em choque imagine ele, que segurou o irmão enquanto ele sangrava.

- Eu sinto muito não ter estado lá. - falei atrás dele, vendo as costas tensas dele não resisti em tocá-lo. Descansei a mão em seu ombro.

- Ele estava tão mal, sangrando tanto. - Vitor começou a falar e eu o virei para mim, queria que ele me olhasse, que não hesitasse em compartilhar sua dor. - Três tiros Camila, ele tomou três tiros.

Eu não conseguia mais ouvir aquela frase, cada vez que diziam quantos furos ele levou eu sentia como se ele fosse baleado de novo.

- Ele vai ficar bem, Miguel é forte! - falei com toda a convicção enquanto segurava o seu rosto. - Tudo vai dar certo.

Dei um selinho e fiquei ali com as testas coladas esperando que ele se acalmasse para voltarmos para dentro, mas Bianca nós interrompeu

- Gente, o doutor está chamando!

Vitor segurou na minha mão com força e nos puxou pra dentro do hospital, o doutor estava na sala de espera, parecendo cansado e eu só conseguia imaginar o estado em que ele estava depois de horas operando Miguel.

- São os responsáveis por Miguel Torres? - ele perguntou se virando para Vitor que acenou com a concordando. - A cirugia acabou, ele perdeu muito sangue e provavelmente vai ter dificuldade em mexer o braço esquerdo já que a bala fez um estrago destruindo o parte da musculatura local. Mas ele está fora de perigo agora. - foram aquelas últimas palavras que fizeram com que meu coração parasse de doer e eu conseguisse respirar aliviada, senti como se meu corpo soltasse todas as amarras que me mantinham firme e em pé.

- Graças a Deus! - Vitor jogou as mãos para o teto gritando e sorrindo. - Quando podemos vê-lo?

- Ele vai ficar descordado por um tempo, por conta da anestesia, mas assim que acordar a enfermeira vem avisar vocês. - minha cabeça girou, mas tentei me manter focada na voz do médico. - Você está bem moça?

Foi a última coisa que ouvi antes de desmaiar.

Abri os olhos e dei de cara com Juninho brincando na beirada da cama de hospital. Que merda o que tinha acontecido comigo? Como eu fui parar ali?

- Usinha! Você acodou! - ele gritou se jogando em cima de mim.

- Oi meu amor. Cadê todo mundo? - mas nem precisei esperar uma resposta, Vitor entrou na sala no mesmo instante.

- Juninho, não fica assim em cima dela, ela precisa se espaço pra respirar.

- ele falou se adiantando e tirando o menino de cima de mim. - Que bom que acordou linda.

- Na verdade não sei nem como vim parar aqui. - ele sorriu esfregando a mão em meu rosto.

- Foi o seu neném! - Juninho gritou como se quisesse ser incluído na conversa e eu o puxei para o meu lado.

- Parece que o bocudo quer contar antes de mim. - Vitor colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha antes de continuar. - Queria que você e Miguel tivessem acordado no mesmo tempo e que estivesse juntos pra eu contar para os dois juntos, mas meu irmão acordou antes de você e acabamos contando tudo. E agora ele tá na UTI por isso não vai poder vir pra cá dar a notícia junto comigo, ele também pediu pra gente deixar você descansar o máximo de tempo possível...

- João Vitor! - o chamei para que parasse de tagarelar. - Fala de uma vez o que aconteceu comigo?

- Você está grávida Camila. - um sorrido grande se abriu em seus lábios e eu esperei que ele dissesse que era só uma piada, mas não veio.

- Eu o que? - minha voz não era mais que um sussurro.

- Que bom que a mocinha acordou! - uma enfermeira entrou no quarto segurando uma prancheta. - Como estamos por aqui?

- Acabei de dar a notícia, ela está um pouco chocada com tudo. - Vitor avisou a enfermeira que me deu um olhar compreensivo.

- É de se esperar, mas vamos lá mamãe, os desmaios são comuns no início da gravidez, os vasos sanguíneos estão se dilatando para receber mais sangue e levá-lo até a placenta, nutrindo assim o bebê. E depois do dia que você teve hoje é mais comum ainda, muita emoção pra uma gravidinha.

- Então eu estou mesmo grávida? Grávida mesmo? Aí meu Deus!

Meu coração disparou e eu olhei de Vitor para Juninho, logo logo teria um bebê daquele andando por ali e seria meu, céus meu e de Miguel. Como Vitor ficaria com aquilo tudo?

- Eu sei que é uma surpresa, mas fica calma tá? Estamos aqui com você e vamos fazer isso juntos.

- Na verdade eu nem sei porque estou tão surpresa, não fui ao ginecologista, não tomei a pílula depois que eu e Miguel não usamos camisinha. - bati na minha testa me recriminando, eu tinha praticamente procurado aquilo.

- Hummm - merda, a cara dele me dizia que ele tinha aprontado. - Acho que você não percebeu que não usei camisinha na nossa primeira vez também, não é?

- Você o que? Não, não, eu vi Miguel abrindo e colocando a camisinha...

- Eu fui no embalo do momento e esqueci, não te falei porque achei que você tinha percebido e entendido.

- Entendido? Era a primeira vez que eu fazia aquilo! - ele sacudiu a cabeça e beijou minha mão várias vezes.

- Desculpa, desculpa. Eu sei que fiz merda, desculpa. Mas não fica nervosa, não quero que fique mal de novo.

- Deveria socar sua cara! Vitor... - trinquei os dentes e respirei fundo. - Eu estou feliz em saber que Miguel está bem e que vocês se mudaram pra cá, então vou tentar não surtar com você hoje! Por hoje. - ele sorriu como uma criança sapeca e eu deixei que ele beijasse minha cabeça.

Um filho? Meu Deus como eu ia fazer aquilo? Depois de tudo o que tinha acontecido entre nós, depois da briga com Miguel e da minha vinda pra cá. Como íamos criar uma criança no meio de toda aquela loucura?

- Miguel disse que queria te ver quando acordasse. Mas isso claro se você quiser, se não se sentir bem com isso não precisa ir.

Eu imaginei como ele ia estar, tinha ido até ali preocupada com ele e agora essa história de gravidez só aumentava meus motivos para vê-lo e podermos conversar com transparência. Ele tinha ido pra minha cidade natal atrás de mim, então não tinha porque ficar longe evitando ter essa conversa, quanto antes resolvessemos tudo melhor.

- Eu quero... Quero ver ele agora!

Os Chefes do MorroWhere stories live. Discover now