Capítulo 50 - Camila

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Estava sentada na ponta da cama não querendo machucar Miguel, ele parecia cansado, o ombro estava enfaixado e o peito também. Sabia que mais para baixo tinha outro machucado causado pela bala. Olhando ele ali deitado, com o corpo enfaixado e vários fios saindo de seu braço, só me dava vontade de deitar ao seu lado e ficar agarradinhos.
Mas tínhamos muito a resolver, principalmente com a notícia do bebê.

- Eu não estava esperando por um filho logo agora, com tudo tão conturbado, mas não nos protegemos então estava claro que isso podia acontecer. - respirei fundo olhando para Vitor também.

- Nós estamos juntos nessa com você, Camila! - Vitor afirmou.

- Vamos ficar juntos como uma família! - Miguel disse me pegando de surpresa. - Claro se você aceitar, vamos ficar juntos, nos três vamos criar esse bebê como uma família.

- Você está falando sobre sermos um trisal de verdade? - questionei chocada e ele concordou com a cabeça me surpreendendo ainda mais, quando olhei para Vitor ele tinha um sorriso confiante nos lábios. - Não brinque comigo, Miguel! E sua vida? Sua vida no rio? Você sendo chefe do morro, como fica tudo isso?

- Eu não me importo com mais nada disso, claro que quero dar um tiro no desgraçado do Bruno, não vou negar, mas eu aprendi que o mais importante é o que escolho pra mim e não o que os outros escolhem.

- Como assim mano? - Vitor perguntou se aproximando da cama, parecendo tão curioso quanto eu.

- Quando Bruno entrou no meu quarto ele disse que eu consegui, tinha chegado onde o nosso pai sonhou pra mim, mas eu o confrontei porque meu pai só tinha me ensinado a ser um chefe do Morro. Só que Bruno disse que isso foi depois de uma chacina na favela, estavam perseguindo um bandido e acabaram atirando em várias crianças jogando bola no campinho, ele disse que depois dali foi que meu pai mudou e começou a me criar pra ser do crime.

- E porque ele foi te matar?

- Ele disse que os filhos dele morreram no campo aquele dia, e que ao invés dele tá protegendo o filho, tava protegendo o nosso pai. - ele engoliu em seco e focou os olhos azuis no irmão, vi refletida ali uma dor bem conhecida por mim. - Ele disse que foi por isso que matou o nosso pai.

Vitor cambaleou para trás e eu me apressei em segurar sua mão o trazendo pra perto, sabia que era isso o que Miguel desejava fazer, mas não podia se mexer, impedindo que ele caísse no chão eu uni as mãos dos dois, que se agarraram em um aperto forte.

- Como... Como isso irmão?

- Ele disse que atirou e deixou que os outros pensassem que tinha sido a polícia, mas os outros chefes desconfiaram da morte do nosso pai, foi por isso que não apoiaram ele pra ser o chefe e me colocaram no lugar.

- Meu Deus! - levei as mãos a boca imaginando como tudo isso tinha virado uma bola de neve doentia. - E ele permaneceu do seu lado todos esses anos, fingindo ser fiel, mas era só pra te matar!

- Ele disse que perdeu dois filhos no dia do tiroteio e que nosso pai também perderia dois. Por isso fiquei com medo, achando que ele faria algo com você e Juninho, mas o desgraçado provavelmente estava muito ferido quando saiu.

- Não, isso não faz sentido. - Vitor o interrompeu parecendo voltar a vida. - Ele teria mais oportunidade de matar nós dois juntos, Bruno sabia que eu estava na casa do outro lado da rua, onde tinham mais pessoas e sabia que podíamos chamar a polícia ou pegar armas depois de ouvir os disparos.

Vitor tinha razão, se ele queria matar os dois aquela era a pior ocasião. Mas se não era isso o que ele pretendia fazer, o que poderia ser então?

- Se ele soubesse do nosso bebê poderia estar planejando me pegar, mas ele nem se quer se importou comigo. O que esse desgraçado quer ainda?

- Eu não sei, ursinha. Já entreguei o morro pra ele e entendi que essa é a primeira vez que faço as escolhas e eu fiz o que deveria ter feito a muito tempo atrás: ter saído dessa vida! - aquilo me pegou de surpresa, não esperava que ele quisesse deixar aquilo pra trás.

- Então você não queria mais aquilo? Não queria continuar sendo chefe do morro?

- Não, aquilo foi o que escolheram pra mim, nunca pude escolher qual seria meu futuro, nem eu ou Vitor. - aquilo era novidade pra mim. - Mas agora temos a chance e o poder de escolher o que queremos fazer. Ainda não tenho ideia do que vou fazer daqui pra frente, mas sei com certeza que quero criar esse filho com você. Nosso filho.

Não consegui conter minhas emoções depois de ouvir todas aquelas coisas, as revelações sobre eles, a confissão de estarem deixando a vida do crime para trás e se abrindo para um recomeço. Meus olhos se encheram de lágrimas, Vitor me abraçou e Miguel estendeu o braço bom para me puxar para perto dele.

- Vamos ser a família, dar uma família linda pra esse bebê. - Vitor falou com os lábios grudados na minha cabeça.

Não sei por quanto tempo ficamos ali, mas tivemos que ir embora eventualmente, Miguel precisa descansar muito mais depois da cirurgia que fez.
Voltei para casa com Vitor, Juninho, tia Nalva e Bianca, elas estavam felizes de verdade por ver que eu tinha aceitado ficar lá com eles.

Ainda estava de dia, mas depois de chegarmos em casa e conseguirmos fazer uma refeição decente, não teve como não querer só uma cama, eu estava muito cansada depois da viagem durante a noite, todos nós estávamos depois daquele dia e todas as emoções.
Depois de cuidar do pequeno e colocar ele pra dormir, tomei um banho e me deitei com Vitor, não demorou para que pegassemos no sono. Os braços aconchegante me protegendo, me mantendo apertado em seus braços me ajudou a apagar rápido.
Mas eu ouvi passos pelo quarto no meio da noite e acabei acordando, só pra ver Vitor andando por ali.

- Não consegue dormir? - murmurei me sentando na cama.

- Desculpa, não queria te acordar.

- Vem aqui, senta do meu lado e me conta. - ele continuou parado de frente a janela, encarando a rua, mas mesmo relutante ele veio até mim. - O que aconteceu?

Vitor bufou, mas eu conseguia sentir sua tensão, pela luz da rua que eu entrava eu podia ver a preocupação no seu rosto

- Estou pensando em Miguel e Bruno, se aquele desgraçado não acabou temos que ficar alerta.

- Ele não vai voltar Vitor, não hoje ao menos estando machucado. - tentei fazer com que ele visse a razão. - Você precisa dormir, anda deita aqui.

Puxei ele de lado e coloquei minha cabeça sobre seu peito. O coração estava acelerado e o corpo tenso, nem mesmo comigo fazendo carinho ele parecia se acalmar.
Encarei o rosto que ainda matinha os olhos focados na janela, foi aí que uma idea me bateu. Me levantei jogando a perna sobre ele e o montando.

- O que está fazendo? - Vitor perguntou surpreso e finalmente tirando a atenção daquela porta.

- O que acha que estou fazendo? - segurei seu rosto o puxando para um beijo.

Os Chefes do MorroWhere stories live. Discover now