Capítulo 21 - Camila

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Eu me encolhi na cabine depois que Miguel saiu de lá, sentindo meu coração apertado e me sentindo a pior pessoa do mundo pelo que tinha acabado de falar pra ele.

Aquilo era errado, claro que era. Eu cresci em uma casa com regras duras e com pais que me criaram dentro da igreja, eu não saia por aí beijando desconhecidos, ou sentindo atração pelo primeiro homem que cruzasse meu caminho. E muito menos deixando que me tocassem de maneira tão intima.

Minha mãe sempre me ensinou que me deixar levar pela carne era pecado, assim como meu pai e o pastor falavam. Mas ela também falava que uma garota deveria se dar ao respeito e quando olhei pra mim naquele minuto me senti envergonhada.

Miguel não se importou em sair dali e me deixar daquele jeito, provavelmente na cabeça dele eu era uma vagabunda que queria ele e o irmão.

Puxei minhas pernas contra o peito e chorei sentindo falta da minha mãe e ao mesmo tempo sabendo, que se ela me visse agora, morreria de desgosto.

Eu não tinha sido eu mesma desde que cheguei ao Rio de Janeiro, ao menos não quando eu estava junto com esses dois.

Não sabia o que estava acontecendo comigo, se aquela era a verdadeira eu e depois de perder meus pais e longe de onde cresci, deixei que meu lado aflorasse. Ou se era a perda que estava me fazendo agir de forma inconsequente.

Miguel tinha razão, eu não podia ficar por aí agindo como uma maluca. "Então é mais louca do que pensei.", o que falei pra ele não estava certo, mesmo que fosse a verdade, eu tinha que concertar isso.

Me levantei e empurrei as lágrimas que queriam cair para longe, conferi mais uma vez minha roupa e sai pra fora. Eu esperava encontrar ele do lado de fora emburrado, mas o que vi foi bem diferente.

Olhei em volta até encontrar o pescoço tatuado a frente, mas ao invés de estar emburrado me esperando, Miguel estava sorrindo com os olhos vidrados no palco e quem dançava era Bianca.

Era aquilo então que ele queria dizer quando saiu da cabine, ele já tinha tomado a decisão dele, mesmo que eu não tivesse tomado a minha, ele decidiu por nós dois e já estava de olho em outra.

Eu me senti pior do que quando ele disse aquelas coisas, me senti troca, usada e abandonada. Ele estava dizendo isso com todas as letras.

Peguei minha bolsa que tinha deixado no camarim e sai correndo de lá pelos fundos, esbarrando nas pessoas que estavam no caminho e não me importei em pedir desculpas, ou no horário que tinha a cumprir. Só sai de lá querendo esquecer que tinha deixado um homem que não se importa comigo por mais do que dez minutos, me tocar, que tinha ficado tão entregue a ele.

Comecei a andar pelas ruas escuras mesmo sem conhecer nada, só tinha o celular celular e um pouco de dinheiro que tinha trazido. Aquele não era o plano inicial da noite, mesmo se eles não aparecessem eu ia cumprir o turno, pegar o dinheiro e voltar com Bianca pra casa da Dany, esse tinha sido o combinado com elas desde o começo.

Virei em algumas ruas e rapidamente o medo começou a me bater, eu não tinha ideia de onde estava e estava com uma roupa que nem podia ser chamada disso, meu medo colocou em segundo plano a raiva e tristeza que estava sentindo.

Olhei o lugar onde estava, preparada pra usar a cabeça e voltar pra Rubi e esperar por minha prima, mesmo que fosse dentro do camarim.

Mas não consegui ver nada, nenhuma placa que indicasse que rua era aquela. Comecei a andar e senti meus pés me matarem naqueles saltos, iria bem mais rápido sem eles.

Foi quando eu parei pra tirá-los que vi a tela do celular acesa. Pesquei o celular na bolsa e atendi de pressa, sem nem ver quem era.

- Camila onde você tá? - a voz de Vitor invadiu a linha com verdadeiro desespero.

Os Chefes do MorroWhere stories live. Discover now