Capítulo 57 - Miguel

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Aquilo não podia estar acontecendo, eu não conseguia acreditar que tínhamos sido estúpidos desse jeito. Ficamos tão confiantes que o problema estava concentrado no Rio de Janeiro que não pensamos em mandar homens para fiar de segurança em casa. Se algo acontecesse com a ursinha, nosso filho ou Juninho, eu não me perdoaria, nem mesmo matar aquele infeliz seria o bastante.

— Fala logo desgraçado o que você quer?

— Vocês vão me deixar sair daqui livre, sem nenhuma gracinha, não vão nem sequer me seguir e o assunto morre aqui, porque se uma palavra sair daqui eu mato aquela vadia e o fedelho que ela carrega. — apertei mais uma vez no número dela e só chamou. — Afinal de quem é o filho? Vitor ou seu Miguel?

Meu sangue ferveu, mas ele estava enganado se achava que aquilo me deixava irritado, não me importava com aquela bobagem, se me afetasse com aquilo não teria aceitado estar com ela.

— O filho é nosso e é só o que qualquer pessoa tem que saber. — Vitor rosnou me mostrando que pensava como eu.

— Continuem dizendo isso e dividindo a mesma boceta, são uma vergonha para todos nós... — eu estava prestes a retrucar com o desgraçado enquanto ganhava tempo para conseguir contato com alguém que estivesse com Camila.

E foi nesse exato momento que minha garota atendeu a ligação:

— Miguel! Vocês estão bem?

— Camila por Deus, aconteceu alguma coisa? Tem que sair da casa, procure se esconder com Juninho, tem alguém indo atrás de vocês...

— Já chegou aqui! — aquelas palavras fizeram meu coração parar por um segundo. — Ele está morto, Bianca atirou nele antes que conseguisse fazer qualquer coisa comigo ou com Juninho.

— Tem certeza? Amor me garante que é verdade isso? — perguntei desesperado, sentindo o alivio invadir meu corpo, só de ouvir a voz dela me causava isso.

— Estamos bem, fique tranquilo. Bianca atirou nele, mas não o matou e a polícia já está a caminho. — era tudo o que eu precisava ouvir antes de disparar minha arma, acertando o joelho do desgraçado, que caiu no chao aos gritos e choro. — Miguel? Miguel o que aconteceu?

— Ursinha vou ter que desligar, estamos bem, você me deu a notícia que precisávamos para prosseguir aqui. Tenho que ir agora.

Vitinho se curvou sobre ele socando o desgraçado até que ele estivesse no chão, então os outros se aproximaram entrando na casa para vasculhar tudo enquanto meu irmão começava a quebrar o desgraçado.

— Te amo, voltem inteiros! — eu desliguei sabendo que voltaríamos antes do previsto, essa noite mesmo estaria enterrado dentro dela.

— Pronto pra pagar pelo que fez com meu irmão e por cada palavra que disse da nossa mulher? — me aproximei dele sabendo que tinha um sorriso diabólico nos lábios. — Quero ver se vai chamá-la de puta novamente quando não tiver um dente na boca!

Vitor riu se afastando com sangue nas juntas dos dedos, enquanto o filho da puta choramingava no chão com o joelho baleado e o nariz agora quebrado sangrando.

— Vou ter o prazer de arrancar sua língua e enfiá-la na sua bunda. — meu irmão não era dado aquele tipo de agressão, mas depois de tudo o que Bruno fez eu não me admirava de toda a raiva que estava prestes a explodir.

Ele tinha mexido com as pessoas erradas, ele atacou a família a quem deveria ter se mantido fiel, agora ia aprender da pior forma que tinha cometido um erro enorme.

— Sabe Bruno, se tivesse me contado o que aconteceu entre você e meu pai, o que perdeu, como sua vida tinha sido destruída, talvez eu ficasse ao seu lado, te ajudasse a virar um chefe de algum morro. — agarrei o colarinho da sua blusa e puxei sua cabeça para cima. — Mas ao invés disso você matou meu pai — bati sua cabeça no asfalto lhe arrancando um choro de dor. — Abusou do meu irmão — acertei o concreto com sua cabeça mais uma vez. — E traiu todos nós!

Soquei o nariz dele que já estava arrebentado e explodiu ainda mais sangue espirrando por todo lugar.

— E por tudo isso você vai morrer, mas antes vai sofrer e chorar, implorando por misericórdia. — Vitinho falou parando ao meu lado. — E sabe por que Bruno? Porque está sozinho, você quis ficar sozinho e é assim que vai morrer!

— Tudo limpo lá dentro, nenhum homem com ele. — um dos homens falou saindo de dentro da casa, mas estávamos ocupados socando e quebrando aquele verme aos poucos.

Eu conseguia ouvir o choro de Juninho todas as vezes que ele acordou chorando, todas as vezes que não quis dormir de novo por ter tido pesadelos, por tudo o que ele aguentou sozinho. Soquei seu rosto, estomago, peito, ele era nosso saco de pancadas hoje, o saco de pancadas que tinha tirado a vida do nosso pai, que destruiu nossa família nos impedindo de viver juntos por mais tempo.

Bruno podia achar que tinha conseguido sua vingança, mas tudo o que ele conseguiu foi nos atingir, ele venceu uma batalha, mas a guerra estava perdida agora. Eu estava vivo e Juninho ia vencer todos os medos que ele colocou, o morro teria um novo chefe em breve. E ele estaria enterrado, morto, esquecido, lembrado apenas como um rato, ladrão, pedófilo.

— Quero que todos saibam o que você fez, vai virar um aviso e apenas isso, um recado para qualquer outro que pense em trair e tomar o poder, ou abusar de criancinhas. — rosnei sentindo o suor escorrer por meu rosto e meu pescoço.

— Está acabado Bruno! Você já era.

— Acha mesmo? — ele se curvou tentando se erguer, mas provavelmente sentindo muita dor já que não conseguiu se virar. — Vocês nu... nunca vão me... esquecer. — Bruno cuspiu sangue no chão.

— Não, ai é que você se engana. Você não significava nada, é apenas uma mancha na nossa vida, vai ser esquecido como o nada que realmente é! — chutei suas costelas tão forte que pude sentir algo se quebrar e seu corpo tombar para o outro lado.

Vitor acertou seu rosto uma e outra vez, quebrando-o até que caísse no chão sem se mexer. Os olhos estavam inchados em uma mistura vermelha e roxa, a boca cortada em vários lugares, a mandíbula estava torta assim como o nariz, ele estava irreconhecível.

— Ele está morto. — Gustavo constatou depois de sentir a pulsação. — O que querem fazer agora?

— Joguem o corpo no córrego ao pé do morro, o deixem lá para que os bichos façam o que quiser até que a polícia chegue! — afirmei me sentindo pronto para tirar todo aquele sangue e suor do corpo e voltar para minha família.

Ele deu sinal e os nossos amigos trataram de fazer o serviço, pegando o corpo de qualquer jeito e o levando dali, deixando apenas o sangue daquele verme manchando o chão em frente a nossa casa.

— Sabe eu não estava falando do que queriam fazer com o corpo do desgraçado, mas sim o que vão querer fazer agora com o morro. — olhei em confusão para Gustavo que ainda continuava ali na nossa frente, junto com outros dois chefes. — Saíram daqui daquele jeito para se proteger, mas agora acabou, a liderança ainda é sua Miguel, vocês dois ainda podem controlar isso aqui.

Desviei o olhar para Vitinho em dúvida, estávamos tentando montar uma vida nova em São Paulo, finalmente não ter alguém nos caçando era uma coisa boa. Mas voltar para o Rio de Janeiro, ser chefe do morro novamente e criar nosso filho naquela vida? Isso podia funcionar? Camila aceitaria isso depois do que lhe prometemos?

— E então o que nos diz? — Luiz pressionou por uma resposta que eu não tinha.

Os Chefes do MorroWhere stories live. Discover now