Capítulo 26 - Miguel

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- Acelera porra! Acelera! - gritei segurando o corpo mole em meus braços.

A boca carnuda e sempre vermelha agora estava cinzenta, parecendo apagada como se toda vida tivesse deixado o corpo dela. Porra, aquela merda não podia tá acontecendo! Eu jurei que Camila e Vitinho estariam protegidos em casa.

Quando todo o tiroteio acabou e a polícia começou a recuar começamos a contagem do estrago, mas meu primeiro pensamento foi Juninho e Camila. Corremos pra casa, medo me atingiu quando não vi eles pela sala apenas um rastro de sangue que ia até o banheiro, o tiroteio tinha acabado e eu não sabia por quantas horas aquilo duraria, mas precisava me certificar que eles tavam bem.

Foi só entrar no banheiro pra meu corpo gelar, avistei de longe os lábios pálidos e os olhos caídos, ela parecia até desmaiada se não tivesse olhando para mim. O sangue no chão me deu a resposta que eu temia, a roupa de Juninho estava molhada com o sangue dela e eu não imaginava a quanto tempo ela tava ali sangrando naquele chão.

Meu pensamento foi para meu pai, com o peito cravado de balas, minhas mãos tremiam quando me abaixei para pegar ela no colo, mas ela precisava de mim e não daquela merda de choradeira. E agora estava ali, seu corpo mole em meus braços.

- Você não ursinha, não posso perder você! - olhei pra toalha na barriga dela, agora manchada de vermelho.

Pressionei mais firme querendo que ela parasse de sangrar.

- Menos força chefe, pode empurrar a bala ainda mais fundo assim. - Bruno me alertou me chocando, eu não sabia disso, mas fiz como ele falou. - Chegamos!

Ele correu pra fora do carro abrindo a porta pra mim, já gritando por ajuda, não estávamos em um hospital público, ele tinha sido esperto me levando direto ao particular. Não me importava de pagar a porra de uma fortuna, desde que ela fosse atendida e ficasse bem!

Levaram ela direto pra cirurgia enquanto eu ficava pra trás, impedido de ver o que faziam com a minha garota. Depois que assinei tudo e paguei pedi a Bruno para voltar pro morro, ficar ali sem nenhuma segurança e só uma arma, não era inteligente, mas no momento as pessoas da comunidade precisavam mais dele do que eu.

Me joguei no sofá da sala de espera e respondi as mensagens de Vitinho, ele e o pequeno estavam preocupados, eu podia imaginar, Juninho não tinha visto nada daquilo, nem o tiroteio ou uma mulher sangrando e Vitor deveria estar tão ansioso pra ver ela como eu.

As horas passaram em uma lentidão e a mulher da recepção tava cansada da minha cara perguntando toda hora se tinha notícias. Dona Nalva e Bianca tavam ali, Bruno trouxe elas depois que ficaram sabendo e no jornal só dava notícia do confronto da polícia tentando acabar com um grupo de traficantes violentos. Ridículo!

- Parentes de Camila Alves! - a voz do doutor fez eu pular na hora, dona Nalva nem levantou coitada, tava mexida de mais, só Bianca se juntou a mim.

- Pode falar doutor! Como que ela tá?

- Ela está fora de perigo agora, mas a cirurgia foi complicada, pois além de todo o sangue que ela perdeu, a bala fez um trajeto descendo, entrou perto do umbigo e atravessou até se alojar no rim esquerdo. Tivemos que fazer uma nefrectomia...

- Uma o que? - Bianca perguntou interrompendo o homem já de cabelos brancos.

- Retiramos o pedaço do rim danificado pelo projetil. A paciente foi levada pra UTI, vai ficar internada aqui enquanto se recupera.

- E quando a gente pode ver ela?

- Assim que ela acordar a enfermeira vem chamá-los.

Ele se afastou e eu peguei o celular digitando rápido as novidades para Vitinho.

Os Chefes do MorroWhere stories live. Discover now