Capítulo 42 - Miguel

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Cai sentado no sofá sentindo minha cabeça explodir com a quantidade de informação e coisas que estavam completamente confusas em minha mente. As palavras de Vitinho se misturavam com as do Zé, indo de frente as palavras de Bianca. Eu não sabia em quem acreditar, quem tava certo naquela história, a maioria das coisas eram tentativas de me manipular, outras eu já nem sei se eram reais ou paranoias minha.

Me peguei analisando cada passo, tudo o que Camila tinha feito aqui desde que chegou. Sim ela podia ter contado com a ajuda de alguém para salvar Juninho da moto, como vou saber que o motoqueiro era algum comparsa de Renato. Sua tia foi quem disse que eu podia agradecer com um emprego, isso podia fazer parte do plano deles já que qualquer pessoa no morro sabia que eu não gostava de dever pra ninguém.

Mas então tinha a cena no beco dela chorando nos meus braços, ela beijando Vitinho... isso eram coisas que me fariam correr pra longe de qualquer mulher e todos sabiam, ela indo trabalhar na Rubi e não querendo me ver, fugindo de mim e correndo perigo nas ruas...

Merda minha cabeça estava uma confusão, quando as coisas pareciam se encaixar tudo voltava a desandar.

Não fazia sentido ela ter tomado um tiro para ficar semanas longe de nós, se a intensão dela era nos manipular seria melhor que ficasse por perto. E então tinha a agressão que ela sofreu, não tinha como ser mentira todos os machucados e não faria sentido os caras que trabalhavam junto com ela fazer isso.

Então nossos momentos juntos invadiram minha mente, quando acordávamos juntos, a confiança e tranquilidade de estar comigo, o cuidado dela em cada detalhe e não só om Juninho, comigo e com meus irmãos. Camila se entregou sem reservas, confiando em mim para ser seu primeiro, me deixando guiar seu corpo ao prazer, ser o primeiro a lhe dar prazer, a tocá-la.

E a sinceridade desde o começo em dizer que queria nós dois, ela podia muito bem ter ficado comigo e me deixado distraído de tudo para que roubassem e arrancassem tudo de mim, mas não, ela insistiu que seria nós dois.

Bufei e joguei a cabeça para trás me dando conta da merda que tinha feito. A imagem dela assustada comigo, enquanto meus dedos apertavam seu pescocinho, dessa vez sem nenhum prazer envolvido, apenas dor, ódio e magoa.

- Porra Miguel! Que caralho eu fiz? - esfreguei os dedos na nuca e me levantei pronto para ir atrás dela.

Mas bastou que meus olhos corressem para a porta do quarto de Vitinho para que eu desistisse, não podia sair e deixá-lo sozinho enquanto tivesse arrebentado daquele jeito.

Entrei no meu quarto, deixando a porta aberta para que pudesse ouvir se ele chamasse, mas foi só olhar pra cama enorme, agora vazia, pra sentir ainda mais ódio de mim.

Como ela ia me perdoar depois daquilo? Nem eu me perdoaria por isso, era um filho da puta desgraçado, toquei nela com tanto ódio, ficaria gravado na minha mente a cena dela recuando antes que eu pudesse tocá-la novamente, o medo refletido em seus olhos. Minha onça feroz tava com medo de mim, tanto medo que correu pra longe de mim.

Eu só podia torcer para que ela voltasse, que conseguisse me perdoar.

Tomei um banho rápido, querendo me livrar do suor e sangue, quando sai do banheiro Vitinho tava acordado de novo e agora reclamando, fui pra cozinha atrás de algo pra ele comer, foi ai que dei de cara com a sopa que a prima tinha trazido e quando abri as panelas estava a comida que Camila tinha feito.

Porra, não teria mais uma santa coisa naquela casa que não me lembraria dela, tudo ali gritava Camila, fosse uma memória, ou alguma coisa dela jogada pelo lugar.

- Começou a perceber o que fez, não é? - Vitinho soltou com um sorriso cínico nos lábios.

Entreguei a sopa pra ele e ajudei o idiota a se sentar direito pra comer.

- Quer mais alguma coisa? - perguntei a contra gosto antes de sentar na cadeira do lado dele e pegar meu prato de macarronada.

Vitor sempre foi o mais esperto de nós dois e eu sempre detestei como aquela áurea de advogado e o diploma o faziam melhor do que eu. Mas agora ali olhando na cara do safado, com aquele olhar presunçoso, eu nem podia mandar ele se foder porque o desgraçado tinha sido mais inteligente do que eu, não foi Vitor que pisou na bola e estragou tudo com Camila e sim eu.

- Sabe o que é mais engraçado? - ergui uma sobrancelha mostrando pra ele que não queria saber o que ele achava engraçado, mas isso não o impediu de continuar. - Eu sai daqui decidido a deixar o caminho livre pra você, ia tirar o time de campo e deixar que vocês dois ficassem sozinhos e que fossem felizes.

- Do que tá falando?

- Eu vi o jeito que você olhou pra ela quando fomos buscar ela na Bianca, você todo preocupado com os machucados dela, cuidadoso, ficou bem na cara que tu ama ela, então achei que era melhor sair fora. - ele explicou com a cara de paisagem.

- Camila disse que gosta dos dois. Ou gostava, já nem sei mais agora.

- Mas eu achei que não podia amar ninguém, achei que era atração, desejo e nisso se da um jeito.

- O que mudou? Você apanhou e resolveu assumir que eu não sou o único que ela prendeu pelas bolas?

Vitinho riu por um segundo, antes de se arrepender quando a dor aumentou.

- Uma garota me fez ver que eu amo aquela diaba e quando estava fingindo continuar apagado e ouvi Rubens falando sobre como não deveriam ter batido nela porque Camila: é só uma vadia sem importância, que cuida do Juninho e que se fosse importante teríamos assumido ela como mulher, meu sangue ferveu, eu não sabia se agradecia por não termos assumido ela e ainda ser eu amarrado ali ao invés dela, ou se matava cada um deles que colocaram a mão nela.

- Um deles já está morto, mas... você disse que o Rubens falou isso? Falou que não eram pra ter batido nela? - ele concordou com a cabeça. - Porra João Vitor! Porque não disse isso enquanto eu confrontava Camila aqui no quarto? Me ouviu fazer todas aquelas acusações e ficou com isso ai guardado? Qual seu problema?

- Deveria estar se perguntando qual o seu problema, porque desconfiaria dela quando a acusação saiu da boca de um traidor?

- Ele estava a beira da morte e confirmou a história do Rubens!

- E teria dito qualquer coisa pra te deixar longe da verdade, ele sabia que aquela altura eu estaria apanhando de Rubens e dos outros, Zé sabia que eu logo seria entregue a você como um recado com as exigências e que o policial ia ser o primeiro nome que eu daria...

- Então ele partiu pra proteger o mandachuva, desviando minha atenção pra alguém que não existe! - exclamei completando o pensamento dele e finalmente me dando conta da verdade.

Merda! Eu tinha muito mais coisas para reparar depois de ter sido tão cego. Apenas um momento me levou a tudo isso, me levou a perdê-la.

- O que colocaram na lista de exigência? - Vitor perguntou trazendo meus pensamentos de volta a nossa conversa.

Eu ainda não tinha lido, mas não tinha momento mais perfeito do que esse. Peguei o papel amassado e ensanguentado e li na folha impressa.

· Deixar o morro em até vinte e quatro horas se quiser que as mortes acabem

· Nada de tentar salvar o dia, a polícia está de olho em cada passo seu

· Você e sua família sai com uma mão na frente e outra atrás, tudo do morro fica

· Qualquer um que for deixado para trás vai ser morto quando o prazo acabar

- Estão ordenando que a gente deixe o morro, sem nada, ou todo mundo morre. - as palavras soaram amargas e era como eu me sentia.

Como ia deixar o lugar onde eu cresci? O lugar que meu pai deixou para mim? E que merda além de ser chefe do morro eu sabia fazer?

Os Chefes do MorroWhere stories live. Discover now