Tudo de novo.

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Aviso de conteúdo sensível.

Depois de muito tempo, o dia nasceu bonito para Serena, era um domingo ensolarado com pouquíssimas nuvens no céu, porém a brisa que batia era muito refrescante.

A morena por base de algum milagre havia acordado tranquila, até demais. Havia esperado incansavelmente por esse dia, contava nos dedos quanto tempo faltava sempre quando a noite caía.

Pela primeira vez em muitos anos, a moça havia tido uma noite de sono calma, sem pesadelos o que a fez acordar de bom humor, apesar de seu coração estar acelerado na maior parte do tempo, algo lhe trazia uma sensação de que ela precisava se conformar.

Quase saltou da cama, se sentia mais saudável que nunca.

Se arricou a ir ao rio, mesmo sabendo que suas amigas brigariam com ela por isso, porém queria tomar um banho mais caprichado. Voltou para casa cedo e passou a colher os frutos, vegetais e verduras que haviam em seu quintal e que agora produziam alimento a ponto de Serena conseguir sobreviver da sua própria horta. 

Com todo cuidado do mundo ela tomou seu café da manhã, um chá para relembrar os velhos tempos. Logo depois já começou os preparos para o almoço, nunca fez algo com tanta cautela e atenção em toda a sua vida, picava em cubinhos iguais, temperava tudo do jeito que sabia que sua esposa adorava, provando claro cada pequena etapa para se certificar de que ficaria realmente bom.

Enquanto a comida cozinhava, ela limpava a casa cantarolando e dançando as músicas que sabia desde criança, aquelas que estavam em sua cultura e por ter a voz bonita Serena era sempre incentivada a aprender as cantigas, agora lhe serviam de companhia e de uma dose de alegria a mais.

Iria ver sua filha e sua esposa novamente, era o dia mais feliz da sua vida.

O dia mais feliz da sua vida...

Em minutos a casa só cheirava, era de dar fome a qualquer um e de se contagiar com o encanto do canto e da alegria de Serena. A moça inalou profundamente o cheiro da sua comida e o cheiro da sua própria casa, liberando então seu sorriso mais bonito, de satisfação por um trabalho bem feito.

Colheu por último as flores, para que elas demorassem de murchar, decorou toda a mesa e os jarros enchendo o local inteiro de cor.

Penteou os seus longos cabelos com calma, vestiu o seu traje mais bonito, o vestido do casamento que ainda cabia em si e que havia guardado lá na casa que tinha com Flora, pois em seu antigo lar não tinha como escondê-lo... Ele estava em perfeito estado e realçava suas curvas de um jeito divino, ela mesma deu os nós do seu corset. Por fim, espirrou seu perfume de flor de tangerina no corpo, nada muito exagerado, sútil, para que Flora percebesse que ela ainda usava.

Estava pronta para recebê-las.

Sentou no mesmo lugar de sempre, aproveitando agora a luz do sol, sem tanta preocupação em ficar observando o caminho de terra.

Esperou... Esperou e esperou.

Horas passaram e nada, ainda era meio da tarde e Serena tinha esperança, teve por tantos anos, por que não teria agora? Já que sua esperança fez com que ela insistisse em que sua mulher estava viva, e estava, fez com que ela descobrisse o endereço dela... Por que não teria esperança agora?

Esperou ainda mais...

Congelada no tempo, mas em minha mente

Não há como apagar você

Eu me reviro na cama, vai doer

Não importa o que eu faça...

Cartas para Flora - Lésbico. (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now