De mãos atadas.

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"Meu doce.

Já fazem dez anos que você me deixou e escrever isso me dói absurdamente, me dói porque eu ainda espero a sua volta todos os dias da minha vida.

Ainda estou a ponto de enlouquecer, vejo que tudo o que faço não é o suficiente e em todos os meios que tive para procurá-la, recorri e resultaram em nada.

Me sinto estúpida e insuficiente, inútil... De mãos atadas.

Eu não sei se está viva, não sei se Esmeralda está bem, não sei como está a sua vida... Não saber de nada é torturante.

Por muito tempo eu tentei me manter confiante e positiva, por tempo até demais minhas amigas dizem, eu me mantive de pé e eu continuei afirmando que você ia voltar, mesmo que olhasse durante dias inteiros para aquele caminho de frente a nossa casa e não visse nada além de terra, vazio.

É doloroso demais Flora, é doloroso me sentar todos os dias no mesmo lugar e sentir o coração acelerar com qualquer barulho diferente, achando que é você. É doloroso ver o dia indo embora mais uma vez e nada, é doloroso acordar e ver que mais um dia vai ser assim.

Eu sei que você brigaria comigo, eu vejo perfeitamente a cena de você me agarrando pelos ombros e me balançando, pedindo pra eu viver a minha vida e te esquecer, pois seria melhor me ver seguindo do que me ver no mesmo lugar esperando por ti. Mas é uma realidade que não posso negar, a cada ano que passa a recompensa pela minha cabeça só aumenta, sei que Maya, Maria e Vera escondem algo de mim, talvez coisas que as pessoas falam ao meu respeito, coisas que vão me machucar ainda mais. O que eu sei é que sou odiada na cidade, ou talvez no mundo, não posso sair daqui e é um milagre que ainda não tenham achado a nossa casa... Tudo bem que é bem no meio da floresta e que foi surpreendente até para mim, achá-la, mas vai saber.
Sei que eles desejam que eu esteja morta e que tenha morrido da forma mais dolorosa e pior de todas.

Algo que me tranquiliza é a minha consciência, eu nunca fiz nenhum mal a eles e ao máximo a quem machuquei foi a Pedro, a quem parti o coração... Mas eu precisava ser verdadeira, pois meu sentimento por ele não era recíproco. E até agradeço, eu vi quem ele é verdadeiramente e Deus me livre ter me casado com alguém que é tão cruel, eu sofreria muito nas mãos daquele manipulador, tão manipulador quanto Ezequiel, o seu marido, que inclusive recebi a informação de que não me matou, pois sabia que Pedro faria isso, então ele foi embora tranquilo sabendo que eu morreria de qualquer jeito. Espero que você não durma mais ao lado desse monstro.

Eu imaginava que as pessoas me odiavam, mas não tanto assim...

É engraçado pensar em meu sentimento por ti, pois é algo que só cresce mesmo não estando mais ao meu lado e mesmo nós duas tendo o fim que tivemos, todas vezes que lembro das suas características físicas ou psicólogicas, sorrio feito boba, é como se eu me apaixonasse outra vez por você.
E então isso cresce no meu peito e eu te admiro, te amo e te acho mais adorável toda vez que lembro do tom de voz rouco porém doce, tão doce quanto o seu apelido, toda vez em que lembro de você falando enquanto dormia e afirmando que me amava mesmo não estando acordada, toda vez em que lembro da sua implicância por chá adoçado mas que se rendeu ao desejo de tomar um quando engravidou, lembro de todas as vezes que colheu flores para mim e de todas as vezes que assou bolo de laranja pois sabia que era meu preferido.

Você me amava da sua forma e com os seus gestos... E eu te amarei até o final da minha vida.

Ainda sinto saudade.

Não desista de nós, por favor. Seguirei lutando como consigo.

Milhões de beijos que te envio em pensamento. E claro, um beijinho na ponta do narizinho de Esmeralda.

Serena Kalitch Raducanu".

Cartas para Flora - Lésbico. (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now