Dentes-de-leão.

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"Prefiro o tempero de um amor impossível, a ter que viver sem o sabor da intensidade".
(Filipe Senra Delgado)



No lugar secreto das duas, Serena ouvia o som das águas do rio tentando acalmar seus pensamentos.

No primeiro dia de festa quando aconteceu o casório a dor foi mais impactante, mais intensa, mais esmagante, e ela aumentou ao ver que Flora havia sido obrigada a dançar para o seu noivo.
A ruiva sabia muito bem o que fazia e dançava para encantar, vez ou outra seu olhar passava em Serena para confirmar de que ela via o que moça estava fazendo.

A noite virou e o dia raiou dando início ao segundo dia de festa consecutivo, e as pessoas do vilarejo continuavam na mesma energia, Serena só queria ir embora para que pudesse se desfazer de toda a atuação e da necessidade de ser educada com as outras pessoas. Queria se livrar de Kassandra que sempre voltava a bater na mesma tecla, a que o casamento de Serena também seria daquela forma e que Flora havia tirado a sorte grande, esperava que Pedro fosse um bom marido como Ezequiel parecia que seria.

A morena era respeitosa com a sua mãe, com todos os mais velhos, como havia sido ensinada desde criança, mas aquilo lhe irritava profundamente e ela não estava mais conseguindo atuar tão bem, apenas pedia para que acabasse aquele inferno em que vivia para que pudesse ir para o seu quarto, precisava de silêncio e um tempo sozinha, não queria que ninguém a incomodasse.

Achou que tudo não podia piorar, mas a festa finalmente acabou e o que pairou em sua cabeça era que depois do casório sempre vinha a lua de mel... Lhe deixava profundamente incomodada em ir para casa e saber que Flora e o seu então marido iriam dormir na mesma cama. Tentava fugir ao máximo desses pensamentos, mas pra quem está com ciúme por algo que é real, que não é só imaginação ou suposição, por algo que vai de fato acontecer, não tem para onde correr.

Então para Serena restou o barulho dos seus pensamentos e a falta de comunicação com a amada, até o seu quarto, que era para onde queria ir, ele não estava mais tão confortável.

Já faziam dois dias após o termino da festa de casamento de Flora e desde então não havia falado, nem visto a moça.

Talvez seja a maneira como você diz meu nome

Talvez seja a maneira que você joga o seu jogo

Mas é tão bom, eu nunca conheci ninguém como você

Mas é tão bom, eu nunca sonhei com ninguém como você...

— Achei que pudesse encontrá-la aqui. — Flora sorriu sem graça ao ver a morena encostada na árvore que dava sombra.

Serena abriu seus olhos em susto, mas sorriu ao ver quem era, chamou a moça com as mãos para que ela se aproximasse.

— Como você está, amor? — A ruiva perguntou sentando-se de frente para a morena, suas mãos foram de automático para as laterais do rosto dela, admirando-a.

Em um suspiro Serena balançou a cabeça em negação, em um sinal de que não estava tão bem, voltou então a olhar os olhos azuis.

— E você, como está? — Sentiu os polegares lhe acariciarem e então a ruiva se aproximou deixando beijos demorados pelo rosto da sua amada.

— Do mesmo jeito. — Dois beijos foram deixados em uma bochecha, depois na outra, na testa, sobrancelhas, ponta do nariz, queixo, até chegar na boca, onde deu um selinho rápido, seguido de selinhos mais demorados fazendo a morena sorrir. — Mas quando estou com você, esqueço de tudo. — Sussurrou revelando seus sentimentos.

Cartas para Flora - Lésbico. (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now