Calcanhar de Aquiles.

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Aviso de conteúdo sensível: Linguagem explícita.

— Acho que a nossa neném está perto de ficar com fome. — Serena falou carinhosamente sentando na cama onde a esposa estava deitada.

Tudo cheirava a pós banho e loções, daqueles em que a gente até inala profundamente e que dá vontade de se aninhar a outra pessoa que tem esse aroma, ficar ali, talvez acariciando a pele macia, talvez beijando, ou só ali, porque estar perto já traz calmaria.

Tanto Flora como Esmeralda já estavam limpas e trocadas, assim como os lençóis da cama, Serena tinha a criança que dormia calmamente em seus braços, Kassandra após benzê-la e abençoá-la, banhou a menina loira com todo o cuidado, ela nem sequer fez menção de chorar.

— Quem está morrendo de fome sou eu. — Comentou com um sorriso sútil, estava mais relaxada, feliz... Todas as suas dores tinham passado e ela havia sido muito bem cuidada.

— Eu trouxe comida, mama está esquentando... Trouxe como desculpa para vê-la, porque pressenti que tinha algo acontecendo. — Revelou chegando mais perto da esposa, enquanto balançava a filha nos braços.

— Eu sei que seus pressentimentos as vezes te deixam nervosa, mas agradeço a eles agora, não sei o que seria de mim se você não tivesse aparecido. — Sua mão pousou na coxa de Serena e acaricou o lugar, encarando as orbes cor de mel de forma agradecida.

— Não me perdoaria se você passasse por tudo sozinha. — Lamentou abaixando sua mão e colocando sobre a mão da esposa. —  Mas que bom que deu tudo certo. — Sorriu docemente. — Agora você tem que descansar, você fez muito esforço, gastou muito da sua energia. — Ordenou.

— Sim, senhora. — Disse em bom humor. — Agora me entregue ela, antes que comece a chorar. — Pediu olhando a menina.

— Não. — Serena disse em teimosia apertando a neném nos braços. — Deixe de ser gulosa, você tem a noite inteira com ela. — Em pura birra fez a esposa rir baixinho.

— Você não tem jeito, Serena... É por isso que eu te amo. — A ruiva seguiu fazendo carinho na coxa da esposa por cima do tecido e elas se observaram ponderando entre dar um selinho ou não, era arriscado.

Felizmente nada fizeram, apesar da vontade ter sido imensa, no mesmo momento Kassandra entrou no quarto, o que fez a ruiva tirar a mão rapidamente da morena e depois de uma longa admiração na face da bebê, Serena cedeu e a entregou para Flora que a recebeu com as bochechas coradas. De uma hora para outra tudo ficou silencioso demais, o casal pedia internamente para que a mulher mais velha não tivesse visto nada, apesar de ter sido uma carícia singela e simples, ainda era uma carícia e poderia trazer pulgas atrás da orelha, não era tempo para aquilo.

A senhora Kalitch havia ficado estranha, mas não porque viu algo, não tinha notado absolutamente nada, ficou diferente por causa que as duas mulheres haviam se assustado e isso sim tinha causado um desconfiar, estavam silenciosas demais e nunca eram assim. Puxou algum assunto qualquer apenas para quebrar aquele clima de tensão, o que fez o casal relaxar e voltar ao normal, Flora aceitou a comida e como estava com Esmeralda nos braços, foi obrigada a aceitar também que Serena lhe desse o alimento na boca, mesmo após relutar, a criança já mamava e era uma justificativa plausível para Kassandra, que não via ali um gesto de carinho e mimo, via apenas uma solução e um cuidado.

Após muito pensar, Serena se despediu outra vez, se fosse por ela dormiria com a sua amada, porém a senhora Kalitch não permitiu de maneira nenhuma a atitude, Ezequiel poderia chegar a qualquer minuto e a mulher mais velha sabia da apatia que ele tinha por todas elas.

Cartas para Flora - Lésbico. (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now