Triste, louca ou má.

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Aviso de conteúdo extremamente sensível!

"Às vezes, a Bíblia na mão de um homem é pior que uma garrafa de uísque na mão de outro". (Harper Lee).



Após pegar as únicas peças que sobraram, um vestido florido que Flora costumava usar e um lenço de Esmeralda que ainda tinha o cheiro dela, Serena abandonou a casa com muito pesar, caminhando sem ânimo, como se também lhe tivesse sido arrancado a vida e obrigassem a moça a continuar existindo.

Ao ver Pedro com seu saco de pano cheio de lenha, ela suspirou observando o homem caminhar em sua direção, ele era a última pessoa a quem queria ver, não era o momento, Serena preparou seu psicológico para os possíveis comentários sobre a sua aparência e as possíveis cobranças sobre ela não ter atendido a porta todas as vezes em que ele bateu.

Ela não costumava despejar a sua tristeza e sua raiva em ninguém, não achava correto tratar outra pessoa mal por que não estava bem, mas ela sabia que explodiria a qualquer momento e essa bomba cairia exatamente nas mãos de Pedro.

— Serena Kalitch. — Ele chamou, seu tom de voz não parecia tão dócil como costumava ser, sua expressão facial era séria.

— Sim, Pedro. — Ela respondeu sem ânimo.

— Bati algumas vezes na sua casa, não me atendeu. — E as cobranças começaram, ele falava exigindo uma resposta, como se Serena devesse satisfações a ele.

— Não estive muito bem, já era de se esperar. — Foi um tanto grosseira. — Você sabe me dizer onde estão Ezequiel, Flora e Esmeralda? — Questinou.

A morena notou as sobrancelhas dele se erguerem e um riso foi preso em sua expressão pois os lábios tremularam, como alguém que tentava se controlar para não explodir em uma gargalhada maldosa... Apenas para não mostrar a sua verdadeira face.

— Flora foi embora com Ezequiel. — A primeira frase dele havia sido extremamente calculada, justamente para que Serena sentisse a sensação de abandono.

— Como assim foi embora? — Questionou perdida tentando não demonstrar que ouvir a informação havia lhe destruído e lhe quebrado em inúmeros cacos.

— Bom... Mama ouviu algum boato de que ele mexeu com a esposa do chefe, embuchou a moça e agora tá jurado de morte por aqui. O seu Armando disse que não queria vê-lo nem pintado de ouro, se não ele ficaria sem cabeça... E ele com medo, fugiu.  — Explicou. — Eu vi eles indo embora. — Mentiu. — Flora parecia estar muito bem.

Sabia que Pedro era uma fonte de informações incertas, afinal ele era filho da pior má língua daquele lugar, dona Narciza, sabia que a mulher inventava coisas infundadas sobre outras pessoas apenas pelo puro prazer de criticá-las e julgá-las se tornando a juíza que decidia o que era certo e o errado a partir do seu ponto de vista e suas crenças.

Fazia sentido aquela história, até porque desde a gravidez da ruiva, Ezequiel chegava muito tarde em casa e sempre com desculpas que não faziam sentido algum, mas a parte de Flora não encaixava, não conhecendo a mulher como Serena conhecia.

— Como ela estaria bem depois de uma notícia assim, Pedro? — Usava do seu autocontrole para não cair no choro.

— Ela não sabia, ele só disse que iriam mudar de cidade e ela como uma boa esposa fez o que o marido precisava. — Justificou dando de ombros, achando que Serena estava acreditando na história.

Cartas para Flora - Lésbico. (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now