Cartas para Flora - Lésbico. (CONCLUÍDO)

Você é minha.

"As almas quando se amam nem a morte as intimida, regressam a berço novo,e encontram-se noutra vida". (Antônio de Castro).

Depois de almoçar e sentir-se satisfeita, Flora se deitou para descansar na rede de pano que havia na sala da sua casa.

A moça estava melhor consigo, recuperava o seu humor, o cuidado com seu próprio corpo e até mesmo o apetite, agora voltava a sorrir, voltava aos seus afazeres e voltava a ser cuidadosa com as pessoas a sua volta.

Já que quando não estamos bem é como se desligassemos nossa humanidade, não ligamos para outras pessoas, não ligamos nem para nós mesmos.

Não existem palavras para demonstrar como

Nenhuma canção vinda da coroa de Davi

Eu poderia pegar a minha alma e derramá-la

Aos seus pés, mas esperarei pacientemente, por você...

Serena teve um papel importante nesse processo, fazia questão de lembrar a ruiva quem ela era antes de tudo acontecer, fazia questão de amá-la e cuidá-la com todo o carinho, paciência e calma que conseguia ter, tinha disponibilidade e estava pronta para o que Flora quisesse.

— Venha para mais perto. — Flora chamou observando Serena que estava na cozinha e olhava o céu azul pela janela, de fundo os pássaros cantavam dando calmaria ao dia e isso deixava a mulher encantada.

A moça balançou sua cabeça em negação, mas foi apenas para espantar os seus devaneios, pairavam em sua cabeça perguntas sobre sua existência, como sempre. A morena era extremamente questionadora, queria saber o porquê de tudo então era comum que ela entrasse nesse estado, sendo engolida pelo seu mundo interno.

Serena se aproximou aos poucos, ficando de frente para a moça deitada, encostou-se na parede e cruzou seus braços, tinha intenção de ficar ali.

— Mais perto. — A ruiva disse sorrindo. A morena obedeceu, dando um passo a frente, apenas. — Mais perto, amor, estou lhe chamando para que se deite aqui comigo. Não quer? — Questionou, era fato que a morena esteve mais distante durante os dias, em relação a contato físico, não dava mais nenhum primeiro passo.

Balançou a cabeça em concordância cedendo a sua vontade de estar mais próxima da sua amada. Serena se deitou quase de bruços e deram um jeito de ficarem mais confortáveis, abraçadas, tinha a perna esquerda por cima do quadril de Flora, a mão pousou no abdômen e a cabeça no ombro da ruiva.

— Não balance a rede, costumo ter enjôo e tontura sempre. — A de olhos azuis alertou fazendo a sua companheira assentir, tomaria cuidado, iria ficar quieta.

De relance a moça pálida passou seus olhos nas orbes cor de mel e sorriu em diversão com seus pensamentos.

Eu vou, sempre e pra sempre

Colocar você antes de mim, até o fim dos tempos

Mas até lá, até que eu dê o meu último suspiro

Oh, eu sou seu e você é meu...

— O que foi? — Perguntou curiosa. — Vamos, divida comigo, por que sorriu? — Perguntou em bom humor.

— Deixe-me ver. — Flora falou pensativa. — Acredito que já recebeu muitos elogios relacionados aos seus olhos, não foi?

— As pessoas costumam dizer que são chamativos. — A morena respondeu.