93.

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Pierre

Preto: Vacilou, cuzão. — Ele fala do meu lado enquanto observamos o carro da Íris descer o morro. — Sabe que não me meto em relacionamento de ninguém mas o que tu disse pra Anna do lance da terapia foi desnecessário, tô ligado que ela precisa buscar tratamento mas tem várias formas de falar isso.

Pierre: Tô ligado, só percebi a merda que falei quando vi a cara dela. — Respiro fundo e passo a mão no rosto estressado. — Vacilei no lance do quartinho do Theo também.

Preto: Da pra mudar isso aê. — Olho pra ele e concordo com a cabeça.

Pierre: Manda mensagem pra tua mulher e diz pra elas não irem atrás de móveis, eu mermo vou atrás de arrumar todo quartinho dele. Vou pegar um dia com a Anna e vamos na melhor loja do Rio. — Ele pega o celular e liga pra Íris e avisa ela da parada. — Irmão do Jorge me mandou um toque falando que já tá tudo certo pra reunião na sexta.

Preto: Fica pensando muito nisso não, já deu certo irmão.

Pierre: Tô me apegando nessa parada mermo, não vejo a hora de sair disso aqui. — Pego a chave da moto e subo na mesma olhando pra ele. — Bora ali na tia almoçar.

Preto: Vai pagar? — Dou risada e faço que sim com a cabeça. — Aí sim. — Ele vem atrás de mim e desço até o restaurante, estaciono a moto e descemos juntos entrando no estabelecimento.

Sento na mesa e logo vem a atendente pegar nossos pedidos, peço minha feijoada de lei e o Preto pede logo um x-tudo.

Pierre: Tu não devia tá comendo melhor não, caralho? Mal saiu do hospital e plena meio dia tá comendo hambúrguer. — Ele da risada e meche os ombros igual criança. — Vou contar pra Íris.

Preto: Se ela souber eu fico sem transar um mês, faz isso não. — Nego com a cabeça e a moça volta com nossos pedidos, almoçamos rapidão e pago o meu e o dele.

Pierre: Bora lá pra casa jogar um game. — Subo na moto e ele vem atrás na garupa, parto em direção a minha casa de novo e estaciono na calçada mermo.

Abro a porta da sala e me sento no sofá ligando a TV e pegando o controle do Xbox e entrego um pra ele que se senta ao meu lado.

Passamos horas e horas jogando GTA quando ouço uma movimentação lá fora e corro na rua pra ver, vejo que a Anna e a Íris chegaram.

Íris: Ajuda a colocar a Anna na cadeira e pega as sacolas no porta malas você e o Preto. — Corro pra colocar a Anna na cadeira e vejo que o sorriso dela tá maior que a cara.

Pierre: Eae minha gata. — Beijo sua testa e ela estende um pacote com a logo do BK. — Pra mim?

Anna: Sim, peguei seus lanches favoritos. — Ela sorri e eu olho pra ela com a testa franzida. — Que foi?

Pierre: Da um dois. — Me afasto dela e abro o porta malas do carro e quando vejo quase caio pra trás de tanta sacola que tem ali, respiro fundo e dou uma risada. — Tô até com medo de abrir o aplicativo do banco e ver quanto saiu da minha conta.

Íris: Filho, tu paga mais de um milhão num carro e tá preocupado com isso? — Ela aparece do meu lado com as mãos na cintura e arqueia a sobrancelha. — Deu nem 20 mil reais isso tudo.

Pierre: Porra Íris. — Sussurro baixo e ouço a Anna dando risada. — Tu ri né, branquela? Quero ver onde vai enfiar tudo isso.

Anna: O quarto que ninguém usa é enorme, vai caber. — Pego algumas sacolas no braço e vou levando pra dentro de casa.

Pierre: Vai ajudar também, cuzao do caralho. — Aponto o dedo pro Preto enquanto entro dentro de casa.

Preto: O filho não é meu.

Pierre: Mas tu é padrinho, vai logo porra. — Dou um tapa na sua nuca e ele da risada indo me ajudar a levar as sacolas pra sala.

Sem k.o, demoramos meia hora pra levar tudo do carro pra sala e da sala pro futuro quarto do Theo.

Pierre: Papo reto, eu de verdade não vou abrir meu aplicativo do banco. — Desço as escadas até a cozinha e pego uma garrafa de água, sinto o suor escorrendo por dentro da camisa e tiro ela secando minha nuca.

Íris: Quem vê pensa que é pobretão, pra comprar carro do ano você não fica com esse drama. — As duas dão risada e eu volto pra sala me sentando ao seu lado. — É daí pra pior, o tanto que vocês vão gastar com fralda não é brincadeira.

Anna: Vale a pena, um dia a maternidade vai dar retorno quando eu pedir pro Theo fazer as coisas pra mim como ir comprar coca cola no mercadinho quando estiver com preguiça. — Todos na sala dão risada e eu beijo seu pescoço cheiroso.

Preto: Aê, baile é hoje filho, vai colar né? — Ele puxa a Íris pelo braço e abraça ela no meio da sala, olho pra ele estressado e nego com a cabeça. — Estrella, tá vendo né?

Anna: Pierre, vai se divertir cara. — A Anna olha pra mim e eu já vejo uma discussão vindo a tona. — Tu ficou comigo direto uma semana enfiado naquele hospital, agora que pode sair pra se divertir com seu amigo tu não vai?

Pierre: Não quero e não vou.

Anna: Se eu pudesse eu ia mas sabe que na situação que eu tô baile é o último lugar que eu posso ir, mas você pode, tanto que é de comemoração pela gente ter voltado pra cá.

Pierre: Comemoração vai ser quando o Matheus assumir essa favela e eu ficar livre disso tudo que te fez mal. — Quando percebo que falei alto demais a Anna vira com tudo pra mim com um ponto de interrogação estampado no rosto, suas bochechas ficam vermelhas na hora.

Anna: Que?!

Preto: Tamo vazando, falou pra vocês aí. — Ele puxa a Íris pela mão e os dois saem da nossa casa as pressas.

Pierre: Amor... — Ela não permite que eu termine de falar.

Anna: Você vai renunciar por minha causa, Pierre? Teu sonho todo tá aqui, e você simplesmente vai largar tudo? O que eu falei pra você sobre deixarmos tudo que aconteceu no passado e seguir em frente, sem culpas? — Ela nega com a cabeça e passa as mãos no cabelo, nervosa.

Pierre: Já tá resolvido Anna, eu fiz uma promessa pra tu mas antes disso tudo fiz uma promessa pra Deus. — Aponto o dedo pra cima. — Prometi que se você e o Theo sobrevivessem eu ia largar essa vida do crime, e é o que eu vou fazer. Já marquei uma reunião com o comando, só basta eles aceitarem.

Anna: Esquece isso Pierre, você ama ser dono dessa favela, sempre foi seu sonho tá de frente pra isso tudo.

Pierre: Antes de você eu amava mermo, não tava nem aí se um dia fosse morrer ou não porque era consequência do que escolhi pra mim, mas agora eu tenho vocês. — Olho em seus olhos seriamente. — Tenho medo de sair e não voltar mais e deixar vocês sozinhos nesse mundo do caralho, já tá decidido e eu não vou voltar atrás.

Anna: Para de se sentir culpado, eu já falei mil vezes que o que aconteceu não é culpa sua! — Ela levanta a voz pra mim e eu respiro fundo pra não revidar. — Eu sei que você tá fazendo isso pela culpa, não é justo você largar suas coisas por minha causa.

Pierre: Escuta aqui Estrella, eu não vou ficar aqui ouvindo você tentar me persuadir a voltar atrás com o que eu já resolvi. — Falo baixo em um tom sério e me levanto indo em direção a porta da sala. — Mas você joga na minha cara que eu ainda tô me culpando como se isso fosse a coisa mais absurda do mundo, sendo que eu amo vocês mais que a minha vida porra! E você não consegue se colocar no meu lugar do quanto eu tô sofrendo por causa dessa merda. — Fecho os olhos e me viro pra ela antes de sair. — Você precisa procurar ir atrás da tua terapia, então faz isso pelo seu filho se você não tem capacidade de fazer isso por mim, ele não tem culpa dessa merda toda.

Vermelho Fogo [M] Where stories live. Discover now