87.

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Anna

Acho que estou em estado de choque, mas não aquele em que a pessoa parece que está vegetando, tipo quando falam com ela e ela não responde e parece que não está ali e sim em outro mundo.

Mas eu realmente sinto como se minha alma tivesse sido levada para outro planeta e quem está aqui dentro de mim é um robô, sei lá, tô divagando demais.

Vez ou outra observo o Pierre que não soltou minha mão desde que entrou na ambulância para me acompanhar ao hospital, eu sei que ele se sente culpado, seus olhos e suas expressões faciais não me enganam.

Ele orou, e sabe como eu sei? Porque ele tem uma mania muito fofa de tremer as pupilas enquanto pede algo para Deus, o convívio com ele fez eu perceber coisinhas mínimas de sua pessoa.

Meu coração dói de pensar que ele vai se culpar pelo resto da vida, mas não é isso que eu quero, quero que ele se liberte disso e saiba que eu decidi entrar na vida dele mesmo sabendo dos riscos.

Viro meu rosto para frente e observo o teto branco da ambulância, o balanço do veículo está me deixando levemente enjoada.

Anna: A gente já tá chegando? — Limpo a garganta quando percebo que minha voz saiu completamente falhada.

Enfermeira: Sim, dona Anna. — A voz suave da enfermeira enche meus ouvidos e respiro fundo, vendo que o Pierre me observa em silêncio.

Anna: Ta tudo bem? — Ele balança a cabeça levemente e deposita um beijo na minha testa.

Pierre: Vai ficar. — Mesmo que a máscara de oxigênio atrapalhe, trago sua mão até perto de mim e beijo seu dorso com carinho, vendo a aliança em seu dedo. — Minha princesa.

Passamos o restante da viagem em silêncio e finalmente a ambulância para, em seguida a porta de trás é aberta e me levam para fora com maca até dentro do hospital.

Já dentro eles param por um momento no corredor e a enfermeira explica tudo o que aconteceu para dois médicos que estavam ali, pelo o que eu entendi um é médico geral e o outro é obstetra.

A maca volta a se movimentar e o Pierre continua grudado com sua mão na minha, até que o doutor para e olha para ele.

Dr. Carlos: Sugiro que fique na sala de espera aguardando, precisamos fazer muitos exames na paciente e no bebê e pode demorar um pouco e ser estressante. — Vejo o Pierre travar o maxilar com raiva e aperto sua mão com carinho, fazendo ele olhar para mim.

Pierre: Eu não saio mais de perto da minha mulher, nem por um segundo. — Ele diz firme com aquela voz rouca e me olha a todo momento. — Não vai querer bater cabeça comigo, né doutor? — Ele sobe o olhar para o médico que dá algumas tossidas e concorda com a cabeça um pouco nervoso. — Ótimo.

Seguimos até um quarto enorme e uma enfermeira de meia idade entra para me ajudar a tomar um banho no chuveiro que tem no cômodo, rapidamente antes dos exames, como estou infestada de gasolina eles decidiram que seria melhor eu ser limpada antes de qualquer coisa.

Ela me coloca numa cadeira de rodas própria para banho e me leva em direção ao chuveiro, um gemido de satisfação sobe pela minha garganta ao sentir a água quentinha descendo pelo meu corpo.

Ela me limpa com todo o cuidado do mundo e até lava meu cabelo, eu relaxo completamente pois suas mãos são leves e carinhosas.

Anna: Não sabe como esse banho me deixou mais calma... — Olho para ela quando terminou de me secar e me colocou uma camisola hospitalar. — Só que quando paro para pensar do porque estou aqui, essa calma vai embora. — Respiro fundo e sinto lágrimas se amontoando no canto dos meus olhos.

Vermelho Fogo [M] Where stories live. Discover now