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Anna

Agora fudeu tudo, o que eu faço? Corro pra casa ou corro pro Pierre?

Meu Deus, estou apavorada.

Anna: PIERRE! — Grito a todos meus pulmões e ele olha para mim, colocando a bandoleira do fuzil no ombro deixando-o atravessado, ele corre até mim. — O que tá acontecendo?

Pierre: O filho da puta do Matheus matou o pai da Íris. — Arregalo os olhos e tento digerir o que ele acabou de me dizer. — Agora a guerra é certa, o cara tem nome.

Anna: Amor... — Olho pra ele com lágrimas nos olhos e nego com a cabeça.

Pierre: Corre pra casa, se tranca tu e minha vó no banheiro do nosso quarto... — Ele fala rápido enquanto vejo a movimentação das pessoas atrás de nós. — Só sai quando ouvir os rojão de novo, entendeu?

Anna: Pierre por favor, não! — Começo a chorar desesperada e agarro no braço dele.

Pierre: Estrella, me escuta! — Ele coloca suas duas mãos no meu rosto me fazendo olhar para ele. — Eu sou dono disso tudo, eu preciso ajudar os caras e não deixar que nem um inocente se machuque! Faz o que eu tô mandando, para de ser teimosa, atravessa essa rua e vai pra casa! — Ele fala alto e firme, respiro fundo e aceno em positivo com a cabeça.

Anna: Eu te amo, volta pra nós... — Coloco sua mão na minha barriga e sinto nosso filho mexer, pela primeira vez, justo nesse dia caótico. Os olhos do Pierre se enchem de lágrimas e ele me beija com carinho. — Volta pra gente, por favor.

Pierre: Eu vou voltar minha Estrella, me esperem em casa... — Ele beija minha testa e eu me afasto dele correndo para atravessar a rua, a casa fica de frente ao campo que ele estava jogando bola.

Quando estou no meio da rua faltando apenas alguns metros para eu chegar no portão de casa ouço alguém berrando meu nome e na hora sinto um ardor insuportável na minha perna.

Quando olho para baixo vejo que a lateral da minha panturrilha está encharcada de sangue.

Meu Deus, eu levei um tiro.

Olho assustada para frente de onde veio o tiro e vejo ser um policial, nem consegui visualizar bem seu rosto quando o Preto chega pela lateral da outra rua e da um tiro certeiro na têmpora do homem, fazendo a cabeça dele explodir.

Sem pensar muito, mesmo com a perna machucada eu saio correndo para entrar na casa.

Abro o portão com tudo e quando vou trancar o Preto aparece e logo em seguida o Pierre, que está com um olhar matador para o amigo.

Pierre: Seu filho da puta! — Meu noivo rosna e não da nem tempo do Preto olhar para trás quando cai no chão no momento em que o Pierre acerta um soco certeiro em seu queixo. — TU TÁ LIGADO NO QUE CAUSOU PORRA? MINHA MULHER TOMOU UM TIRO, DESGRAÇADO. — Ele segura o amigo agora pelo colarinho da camisa e empurra ele contra o portão.

Anna: PIERRE CALMA! — Eu choro sem saber o que fazer, sinto minha panturrilha adormecer e a dor que sinto no momento é pior do que qualquer outra coisa.

Vou tateando as paredes ao meu lado até conseguir entrar e me sentar no sofá da sala, onde dona Jô vem correndo da cozinha com um rosário na mão.

Dona Jô: ANNA! — Ela olha desesperada para meu ferimento na perna. — Meu Deus de misericórdia, PIERRE! — Ela grita para o neto e ouço ele falando com o Preto.

Pierre: Eu só não te quebro aqui agora porque minha mulher tá ferida e eu tenho uma favela inteira pra salvar da merda que tu causou! — Ele solta o rapaz com tudo que me olha com pesar, sem falar uma palavra. — Te dou 1 minuto pra achar uma enfermeira pra ficar com a Anna até esse inferno acabar, senão eu te mato.

Sem pestanejar o Preto sai às pressas arrumando o fuzil nas costas, Pierre vem correndo até mim e pega minha perna e observa o ferimento na panturrilha.

Pierre: Me perdoa, porra, me perdoa Anna! — Ele rosna com raiva e eu olho para ele com lágrimas nos olhos negando com a cabeça. — Eu não vou me perdoar se acontecer alguma coisa...

Anna: PARA! A culpa não é sua, não vai acontecer nada Pierre. — Passo a mão na barriga e tento me acalmar, toda essa situação de merda vai refletir na criança que estou carregando.

Pouco tempo depois o Preto entra na sala com uma moça de meia idade com uma mala de primeiros socorros, ela sorri para mim e se apresenta como Maria.

Ela limpa rapidamente meu ferimento e deixa todos nós mais tranquilos após dizer que foi apenas de raspão o tiro, graças a Deus.

Pierre: Branquela, eu preciso ir....e-eu.. — Não deixo ele terminar e pego na sua mão, beijando com carinho.

Anna: Volta logo, a gente tá aqui te esperando. — Ele beija minha testa e sai rapidamente pela porta da sala junto com o Preto, ouço-o trancando tudo e suspiro amedrontada. — Ele pediu para ficarmos no banheiro lá do quarto, é melhor...

As duas concordam e me levam com cuidado para o quarto de cima, entramos no banheiro e nos trancamos ali.

Horas se passam e nem sinal daquela guerra acabar, é tiro e grito para todo lado.

Pego uma toalha felpuda do suporte do banheiro e a estendo no chão para deitar um pouco, meu corpo aos poucos vai pedindo arrego...

Maria: Anna? — Ela me chama com cautela e a sinto vir do meu lado. — O que está sentindo?

Anna: Acho que minha pressão... — Respiro fundo e acaricio meu ventre, tentando acalmar meu bebê. — Ele mexeu pela primeira vez hoje, ele tá muito agitado...

Dona Jô: Logo logo isso acaba minha filha, e quando acabar vamos direto para o hospital, sim? — Balanço a cabeça afirmando e fechos os olhos sentindo uma lágrima solitária cair pela minha bochecha. — Estamos aqui com você..

A enfermeira se senta no chão colocando minha cabeça em suas pernas e dona Jô fica na outra ponta vez ou outra massageando minha barriga.

Por mais tensa e nervosa que estou naquele momento, horas sem notícias do que realmente tá acontecendo lá fora, estou me forçando a ficar calma pelo meu bebê.

Por favor meu Deus, cuida do Pierre e do Matheus lá fora...nós precisamos deles aqui.

Vermelho Fogo [M] Où les histoires vivent. Découvrez maintenant