Capítulo 104 - Amor... ou não

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Camila Cabello  |  Point of View




Peguei o microfone, fiquei pensando um pouco...

— Bom dia a todos. – Me assustei com a quantia de pessoas que respondeu. Olhei para frente e vi quase todos os lugares ocupados. — Muitas vezes não paramos para pensar e até na nossa educação nem faz muito parte. – Eu me sentei em frente ao garoto. — Que é entender melhor nossos sentimentos. Nem notamos, mas saber diferenciar os sentimentos é umas das chaves para nos sentirmos melhores, pois quando não entendendo criamos conflitos dentro da gente... – Lu caminhou até o palco e Lauren a repreendeu, mas eu fiz um sinal de que estava tudo bem, e Lu sentou ao meu lado, abraçando meu braço. — Se vocês colocarem amor no Wikipédia vão ter sessenta e sete definições diferentes para ele. – Ouvi burburinhos, talvez por meu discurso estiver sendo muito direto ao rapaz... ou por o assunto parecer banal. — O amor no budismo, nada mais é do que desejar a felicidade do outro. Não importa se é esposa, filhas, pai, mãe ou tios, ou quem quer que seja... eu desejo que você seja feliz, não importa onde, quando, ou com quem, eu desejo a felicidade da pessoa. A felicidade da minha esposa é uma prioridade para mim. Se amanhã ela me disser que está infeliz, vou mudar minha maneira de agir e se não adiantar, a felicidade dela não está comigo, vou ter que deixa-la ir. – Eu disse e olhei para ela. — Como eu fiz, não é amor?

— Sim. Nos afastamos quando éramos jovens e por vários anos.

— Isso. Ficamos sete anos separadas, pois naquele tempo, nossas felicidades não estavam uma na outra. – Ele estava atento, nem piscava e eu estava na dúvida se ele respirava direito. — Um sentimento muito forte que confundimos com o amor, é o desejo. Quando você me diz, eu te amo... você é o amor da minha vida e eu não posso viver sem você. Você está sobrepondo a sua necessidade a dela e isso não é amar, é desejar. Você está projetando sua felicidade sobre o outro. E quando conseguimos o objeto de desejo é que surge o apego. É não querer soltar essa fonte de minha satisfação, você se agarra aquilo como se você fosse morrer sem ela e o apego sempre gera sofrimento. Porque em algum momento você vai ter que se separar do objeto de apego e quanto maior o apego, maior o sofrimento. Gera aversão, pois se alguém se aproxima e ameaça o seu objeto de desejo, vem o ciúme, a raiva... às vezes beira o doentio. E o principal, o desejo sempre acaba. Por isso é muito bom ter essa clareza com nós mesmos é importante. Claro, podemos sentir os dois, mas em uma hora o desejo vai diminuir. E o amor quanto mais eu tenho, mais amor eu vou receber e isso cresce tanto que trás uma grande satisfação e alegria. E o desejo, quando eu mais o satisfaço, mais eu vou querer coisas novas e diferentes. O amor é nobre... o desejo é pobre. Depois de separa-los, vocês vão conseguir se surpreender no como suas vidas podem mandar. E eu já falei aqui, nosso sofrimento é fonte dos nossos venenos mentais e nas ações que eles nos levam a fazer. – Eu levantei e levei Lu até a.mãe, para que eu subisse no palanque e iniciasse um mantra. — Fechem os olhos e vamos seguir o som. – A música começou a soar e depois de uns minutos, olhei para o jovem e ele mantinha os olhos fechados.

Após o fim da reunião, quase todos saíram e Lauren foi com as meninas até a cozinha. Sentei ao lado do rapaz. Como de costume, todos queriam falar comigo, então precisávamos de um lugar mais calmo.

O convidei para ir à sala de meditação e ele prontamente aceitou. Sentei e fiz sinal para ele sentar a minha frente.

— Isso foi muito legal... eu não sei o que é essa igreja, mas a religião parece boa. Budismo... eu não tenho contato com ele.

— É um templo budista. Então... você quer ser feliz ou ver ela feliz?

— Quero ser feliz. – Ele caiu os ombros. — Sou um egoísta.

— Não se martirize, eu respondi o mesmo sobre Lauren na época, mas olha como estamos... casadas a mais de dez anos e muito felizes. Eu sei que é complicado, mas ficar desesperado só vai prejudicar vocês... principalmente você.

— Eu sei, agora eu entendi... o que eu preciso pra seguir vocês...

— Nos seguir... quer seguir o budismo?

— Eu preciso dessa calma e preciso me ocupar muito.

— Bom... eu quero que você vá para casa e pense muito se é isso mesmo que você quer. O Kevin vai te entregar uns panfletos e se depois de dois dias, lendo e pensando, essa for mesmo sua vontade, apareça aqui na quarta. Nossas reuniões são diárias, apenas alguns domingos são respeitados.

— Porque devo pensar?

— Todos devem pensar sempre e muito bem sobre todas as decisões. Nossas ações sempre geram reações e precisamos estar preparados para elas. Mudar de religião... ou crer em algo novo, gera conflitos. Você deve conversar com sua família e ter convicção em suas escolhas... se nada for muito bem pensado, por mais que a ação seja muito boa, não trás o resultado desejado.

— Caralho... você fala muito bem. É como se tivesse um texto pronto para tudo.

— Aqui não podemos falar palavrões.

— Opa... desculpe. Eu não sabia.

— Tudo bem... estamos combinados?

— Sim... pensar e depois vir. Obrigado mesmo, cara. – Ele disse e me abraçou. — Valeu aí.

— Nunca me agradeça ok? Pode pedir panfletos para o moreno que falou por último. – Ele assentiu e foi embora dali.

Sorri com a afobação e aquilo me lembrou de Kevin chegando ao templo. Sorri e neguei, erguendo os tapetes e fechando a sala. Kevin e Mark me esperavam no fim da escada.

— Podem ir para casa, queridos. Hoje minha família veio e eu fecho tudo por aqui. – Colocamos as mãos nos ombros um do outro e fechamos um circulo.

— Iluminar, proteger e guiar. – Ficamos em silêncio por um tempo e fechamos os olhos. Terminamos nosso ritual interno e tiramos o manto de cerimônias.

— Mestre...

— Conselheira, Kevin.

— Desculpe... é estranho.

— Você se acostumar, alias... você sempre me chamava de conselheira no templo.

— Mas esse templo é seu...

— É nosso. Investir capital não me torna monge. Bem pelo contrário disso.

— Entendo, mas eu queria falar sobre minha visita a minha casa.

— Sim... você vai hoje e volta na terça.

— Quarta é o aniversário da minha mãe.

— Tire essa semana, Kevin. Aqui está tudo sobre controle agora, aproveite com sua família.

— Até semana que vem. Boa semana para senhora.

— Para você também.

Ele saiu e eu fui a cozinha onde minhas filhas corriam e gargalhavam, minha esposa tomava água observando isso e eu me senti a pessoa mais completa do mundo.

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