Capítulo 102 - Budismo

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Camila Cabello  |  Point of View




Eu vi Lauren levantar, mas fiz um sinal com a mão para ela não se preocupar e me direcionei para mulher ruiva que estava com a expressão de que só queria a discórdia.

— Valentina, você é jornalista ou evangélica? – Eu perguntei e ela franziu o cenho.

— Os dois, mas como você sabe disso?

— As únicas pessoas que me questionaram desta forma seguem uma doutrina mais conservadora.

— Não é ser conservadora, você cometeu vários pecados e prega como se fosse um pilar de moral.

— O que é pecado para você? – Eu me aproximei dela e sentei ao seu lado.

— É quando você não segue as regras...

— E por isso é punido? – Eu perguntei e ela assentiu.

— Sim. É quando você comete uma violação. – Eu fiquei encarando ela.

— Violação... tem mais uma parte nesse significado.

— Violação religiosa. – Ela disse rápido.

— Exatamente. Bom... no meu dicionário, pecado quer dizer erro. É quando nós geramos sofrimento aos outros por conta do meu erro. No budismo existem resultados pelas ações, se eu faço uma ação negativa, eu terei um resultado negativo. Pode chamar de pecado, mas ação não virtuosa cabe mais nisso. Nossos venenos mentais nos levam a ações não virtuosas, eu não tenho vergonha do meu passado, sim, era uma pessoa completamente entregue a ignorância, mas uma coisa me transformou... o amor. Eu entrei no templo e fui acolhida, ninguém me julgou, apenas me deram roupas, comida e me mostraram o Dharma. Eu tenho amor pelo que faço, eu amo tudo na minha vida, eu amo ensinar tudo que aprendi e amo ajudar um pouco cada um que chega aqui. Eu não sou uma pessoa que é definida por ex-viciada, ou a que se curou... quando você entra aqui, sou uma amiga, que apenas quer ajudar as pessoas a encontrarem a paz interior. E outra... não sou pastora e muito menos monge, eu não prego nada, eu só tento orientar as pessoas. Eu não digo para você... Valentina, você não pode fazer isso, não pode ser assim... não pode amar aquela pessoa, pois Deus não gosta. Isso é pregar, eu vou dizer assim... Valentina, feche seus olhos, esvazie sua mente e se concentre para iluminar sua vida. Isso é ajudar, Kevin vai conversar de maneira diferente, pois ele é ordenado, mas a premissa é a mesma... ajudar... doar... iluminar. Não se preocupe com meus pecados, pense nas minhas ações como uma semente... – Senti minha perna ser tocada e Lu estava com o bico na boca e tentando subir na minha perna. A ajudei. — Eu plantei minha semente e ela ficou lá... ela cresceu e um dia eu a colhi, foi doloroso, mas agora estou aqui.

— Você construiu o templo para se redimir? – Ela perguntou.

— Não! – Eu disse e sorri. — Não existe isso de balança no budismo. Ah eu fiz uma coisa muito ruim, vou fazer várias coisas boas para ficar equilibrado. Pense comigo, se você plantar um canteiro de morangos e no meio dele plantar uma pimenta, quando você colher ela, você acha que ela estará doce? – Ela negou. — Obvio que não. Construí o templo, pois queria um lugar para ajudar pessoas, assim como fui ajudada. – Ela assentiu. — Agora eu vou te fazer uma pergunta retórica... – Ela assentiu. — Deus ou Jesus Cristo aprovam julgamentos? – Ela ficou me encarando por um tempo...

— Eu não estava...

— A pergunta é retórica. – Peguei Lu no colo e fui para o palco.

Continuei falando, mas depois de tantos questionamentos, tive que mudar meu assunto para dar tempo.

Kevin estava com Lu, que facilmente fez amizade com ele. Senti meu ombro ser tocado e me virei, ela Valentina.

— Eu gostei muito da conversa de hoje. Foi muito instrutivo, você é muito calma e tem propriedade. – Lauren segurou meu braço e pegou Lu no colo.

— Vamos, amor? Todos vão almoçar na casa dos meus pais.

— Olá! Você é esposa dela? – Valentina perguntou.

— Sou. E você é a prepotente julgadorazinha que veio só para tentar desconcertar minha esposa em público? – Ela disse e Kevin gargalhou, sendo repreendido por Mark.

— Eu não quis constranger...

— Quis sim, só não conseguiu.

— Não... eu só quero uma entrevista com ela...

— Camila já dá entrevista para uma pessoa e você está falando com ela. – Lauren virou as costas e eu deixei meu manto na bancada, cumprimentei os meninos.

— Pode conversar com os dois, todas as dúvidas vão ser resolvidas por eles.

— Segui Lauren até o carro e subi no carona.

— Que mulher chata. – Bia disse.

— Um ser sem luz mesmo.

— Cretina. – Lauren disse e eu fiz sinal para Lu. Ela respirou um pouco. — Eu não gosto que fiquem julgando você.

— Eu acho bom, pois conto um pouco de minha experiência. Eu não me importo, sei que não fui racional e me libertei de certa forma. Isso encoraja muita gente e se você soubesse o que já ouvi em minhas conversas... ela até pegou leve. – Ela me encarou por um tempo e logo ligou o carro.

— Ainda bem que não vi, pois minha vontade foi de arrastar aquela put... mulher pelos cabelos.

— U tê cuntexeu, Bi? – Lu perguntou para irmã.

— Uma moça foi ruim com a papi. – Ela ficou encarando a irmã e depois fez carinha de choro.

— Hey pequena. Está tudo bem.

— Masi num pode ixo. – Ela disse e cruzou os braços.

— Eu estou bem, amor. A mama também já se acalmou, agora vamos comer aquele churrasco delicioso do Bô Mike e brincar muito com seus primos. – Na realidade não são primos, mas como Vero, Shawn, Austin e eu tínhamos esse laço de irmandade, acostumamos nossos filhos a se tratarem assim.

— Baca de fovete! – Lu gritou entusiasma do e Bia também se animou.

Não que Mike seja babão pelas netas, mas assim que coloquei uma rampa de skate no quintal para Bia, ele tratou de encomendar uma menor, para Bia preferir a casa dele à de meu pai, que não pode instalar uma rampa, pois o terreno não tem estrutura. E para Lu, fora uma boneca nova a cada visita, tem a famosa barca de sorvete, que ele fazia para Lauren e agora faz para as netas... assim fica difícil de levar elas para casa depois.

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