Capítulo 84 - Ciúmes

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Quatro anos antes...

Verônica Iglésias  |  Point of View





Cheguei ao templo e Camila estava acendendo incensos. Deixei-a terminar e ela se assustou quando me viu atrás dela.

— Desculpe.

— Você é silenciosa mesmo.

— Não queria te atrapalhar.

— Você nunca atrapalha Vero. Veio falar da moça... misteriosa.

— Faz uma semana que estamos saindo... nos vemos todos os dias.

— Ela é uma pessoa agradável?

— Sim. Ela é tão engraçada e inteligente. Se vira em mil para bancar a faculdade e ir bem nela. Ela é muito amiga do Tyler.

— Nossa... não posso odiar ninguém. – Revirei meus olhos.

— Ele é um cara legal, Camila. Dê uma chance a ele.

— Já dei. Ele convive conosco, não? Já é mais que suficiente. Mas ele não é o assunto de qualquer forma... eu vi vocês se amassando na escada do templo.

— Foi mal... era tarde e eu queria impressionar ela. E precisava de um lugar seguro.

— Tudo bem. Ela é uma bela mulher, mas faz faculdade? Que idade ela tem?

— Mesma idade que nós. Ela só teve que trancar para cuidar do irmão, agora ele conseguiu passar em uma faculdade
com bolsa integral e ela conseguiu um tempo para cuidar dela.

— Altruísta. Gosto de pessoas assim.

— Você vai amar ela... vocês vão.

— Bom... preciso avaliar essa moça para você, pois seu encantamento pode atrapalhar sua percepção. Transar com
ela não ajuda...

— Não transamos. – Ela arqueou uma sobrancelha.

— Não?

—Nop... – Ela assentiu.

— Estou começando a entender esse encantamento todo.

— Sabe... eu queria falar sobre uma coisa, mas não pode ser aqui. Vamos ao jardim?

— Claro. Vou terminar um mantra aqui antes que as pessoas cheguem e já te encontro.

— Ok.

Caminhei até o jardim, sorri ao passar pela escada, pois era o lugar do nosso primeiro beijo. Faz uma semana... mas estou me sentindo tão estranha em relação a isso.

Fiquei encarando o chafariz, até que uma mão pousou em meu ombro. Sorri, pois Camila consegue transmitir paz com um toque... é muito fácil reconhecer ela, mesmo sem vê-la.

Toquei a mão dela e ela me abraçou de lado.

— Conte o que te preocupa.

— Não acha cedo?... eu terminei com Lucy faz pouco e eu amo ela... ou deveria amar ela.

— Vero... você terminou com a Lucy quando descobriu a fixação dela por outra pessoa que não era você. Vocês já tiveram o tempo de vocês e... acabou. Não pode se construir uma história sobre algo tão... como construir um castelo sobre a areia movediça? Eu não entendi o porque dessa volta... não pode ser amor, Vero. Você só quer que ela demonstre algo para você não se sentir tão usada.

— Talvez...

— Se essa moça te fizer bem...

— Sabe... eu sou a ativa das minhas relações, mas ela me domina por completo. Eu estou confusa.

— Uou uou uou...

— É sério.

— Essa é minha manifestação de surpresa. – Ela levou a mão ao queixo e sentou a borda do chafariz. — É difícil opinar sobre isso... é como se eu conhecesse uma Lauren... uma mulher linda no caso, me interessar e nos aproximarmos, mas no final ela quisesse me comer.

— Tipo isso... – Eu disse rindo.

— Mas você já deu, não? Eu não posso usar esses termos, mas não lembro de outros.

— Já sim.

— Não gostou?

— Não é que eu não gostei, mas eu sentia muito mais prazer sendo ativa.

— Bom... se ela é dominadora, não tem muito que fazer. Você já fez, não vai ser um sacrifício. A vida é feita de experiências... novas, diferentes... o importante é você se sentir bem.

— Você está certa. E se a Lauren pedisse para te comer... você aceitaria? – Ela sorriu.

— Eu sou a esposa dela... tenho que realizar todas as fantasias dela.

— Sua cretina. Está louca para dar...

— Eu não. Quem está virando passivinha muito rápido é você.

— Vai se ferrar.

— Ok... já poluímos muito esse ambiente.

— Muito mesmo... bom, o jantar precisa ser entre as cinco e as oito, pois ela trabalha depois disso.

— Vou avisar Lauren.

Assenti e fui para casa.


×××


Como Keana fez um trabalho hoje, não nos encontramos na folga dela e confesso que estou com saudade... então vou visitar ela no pub... não acho que seja invasivo... ou talvez seja... penso nisso no caminho...

O pub era um dos mais famosos da cidade, mas eu realmente não sabia, só entrei nele por ser bem longe dos que costumo ir. Aquela aglomeração me irritava... talvez eu estivesse velha demais para certos agitos.

Sentei no meu lugarzinho e fiquei esperando Keana me notar. Me incomodava os sorrisos e trejeitos com os clientes, mas ela tinha que cativar... ela é muito boa nisso.

Ela me avistou e logo estava a minha frente.

— Latina...

— Ke... senti sua falta.

— Olha... eu também senti a sua. Confesso que estou surpresa com as emoções que você me desperta. – Ficamos nos encarando por um tempo.

— Hey gracinha. Odeio quando meu copo fica vazio por muito tempo. – Um grandalhão falou e Keana sorriu para ele.

— Já estou indo, Senhor – Ela me serviu um drinque e foi atendê-lo.

Fiquei esperando, observando o jeito dela tratar todos e ficando um pouco incomodada com aquilo principalmente com os comentários quando ela virava de costas. Deixei os dólares sob o copo e me levantei.

Estava chegando perto do meu carro e meu braço foi puxado. Olhei para Keana e ela estava confusa.

— Ia embora sem se despedir?

— Estou com sono. – Ela me encarou... Analisou...

— Aconteceu alguma coisa?

— Não...

— Parece que aconteceu.

— Nada mesmo...

— Latina... faz pouco tempo, mas você não está normal comigo agora.

— Eu fico incomodada com você flertando com esses caras.

— Eu não estou flertando, estou sendo simpática. É o meu trabalho, você me conheceu aqui, mas não pense que porque tomei iniciativa com você eu sou uma qualquer.

— Não foi isso que eu disse.

— Você está com ciúmes? – Eu bufei e estava negando para mim o visível. Eu estava com ciúmes, sentia algo por ela e estou ficando preocupada com a intensidade disso.

Eu senti minhas bochechas esquentarem, pois ela sorria e eu não sabia o que responder.

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