Capítulo 82 - Noite boa

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Verônica Iglésias  |  Point of View




Pedi para Camila dar um intervalo do templo e tomarmos um café. Logicamente, ela nunca me nega nada, quando cheguei, ela me esperava no nosso café preferido. Já tinha pedido meu café e provavelmente estava tomando chocolate.

— Oi. – Beijei o topo de sua cabeça e ela apertou minha cintura.

— Como está?

— Bem. E você?

— Bem. Surtando com a Bia fazendo muitos amigos e crescendo tão rápido.

— Deixe a menina viver, Milão.

— Eu estou deixando, mas isso não me impede de surtar e desejar que o tempo pare.

— Logo vem outro e você se acalma.

— Nunca vou me acalmar. Pode vir mais duzentos, minha preocupação com ela vai ser sempre a mesma. Minha primogênita.

— Calma, Milão. Não surte antes da hora.

— Lauren vive repetindo isso para mim, mas ela dizia o mesmo sobre parar de usar fraldas e sobre escolas... olha só onde estamos.

— Você é uma fofa mesmo. Toda preocupada.

— Eu sei o que os meninos vão pensar quando verem minha pequena, Vero. Eu pensava também.

— Vocês estão educando ela muito bem, Milão. Ela não será uma adolescente qualquer, ela tem uma mãe budista e a
outra é uma jornalista renomada. Ela tem uma bela estrutura, não será uma sem autoestima e carente.

— Talvez você tenha razão. – Ela tomou mais do que estava em sua xícara. — Mas queria conversar sobre algo em especial ou só queria me ver?

— Queria te ver e falar sobre algo especial.

— Pode começar.

— Conheci uma moça ontem.

— Olha... que legal.

— Sim. Ela é uma gata, trabalha em um pub. É bartender.

— Muito interessante. Estão se falando faz tempo?

— Não. Eu a conheci ontem e ela me deu o número. Pediu para que eu fosse até lá hoje.

— Não sabe muito sobre ela.

— Não. Só que ela é linda e que não costuma dar o número para clientes. Fui uma exceção.

— Eu fico feliz que tenha alguém novo na área, mas vá com calma.

— Pode deixar.

Conversamos mais um pouco e depois ela disse que precisava mesmo retornar ao templo.


×××


Estava na frente do pub, dentro do carro e segurando o volante com força. Camila não disse para ir com calma à toa... ela disse por que sou a pessoa mais impulsiva da face da terra.

Não posso fazer nada errado desta vez... preciso conhecer mesmo essa moça se quiser algo com ela... mas ela é linda demais para focar perto dela. Agora eu já disse que viria... preciso aparecer.

Entrei e caminhei até o balcão. Ela estava preparando um drinque e sorriu quando acenei para ela. Após preparar, ela caminhou até minha frente e estendeu a mão.

— Latina! Pensei que não viria. – Olhei no relógio e ele marcava onze e meia. Levando em conta que cheguei oito e dez aqui, creio que demorei.

— Tive um contratempo.

— Vai beber o que, gata?

— O que me sugere? – Ela sorriu e ficou no centro do balcão. Levou a mão até um interruptor e as luzes se apagaram. A multidão presente começou a gritar... mas não reclamando, pareciam extasiados.

Uma música tocou e duas garrafas fluorescentes levantaram levemente do balcão... fogos disparam e a luz sobre Keana ligou. Ela estava com um vestido colado, cabelos soltos e não tinha o avental. Só então que notei que estava fodida mesmo... ela era muito gostosa. Ela rebolou no ritmo da canção e fazia malabares com as garrafas, à luz piscava, ela estava me olhando nos olhos e eu tive que cruzar minhas pernas, pois aquilo era fodidamente sexy.

Quando olhei ao redor, os marmanjos estavam eufóricos, todos estavam animados e eu de boca aberta. Ela jogou um pouco dos líquidos em um copo, depois picou morangos e derramou algo ao redor do copo.

Ela deixou o copo sobre o balcão e me fez sinal, o empurrou e ele arrastou até mim, o segurei e as luzes pagaram. Ela seguiu com as garrafas saltando e rodopiando, a música parou e quando as luzes ligaram, ela estava com a camisa social e o avental. Cabelo preso e nem parecia que tinha acabado de me foder só me encarando.

Bebi e aquilo estava muito bom. Comi uns pedaços de morango e percebi que tinha leite condensado na borda do copo. Era divino e o gelo ajudou a me refrescar um pouco...

— O que achou?

— Você é muito sexy. – Ela sorriu e negou.

— O que achou do drinque? – Eu fiquei mais vermelha ainda.

— Me... me descu... desculpe. Que merda! Eu não quis... desculpe-me por ter dito merda... Ah que droga... – Ela tocou meu braço.

— Tudo bem. Fique calma. Gostei de saber o que pensa sobre mim... não tão diferente do que penso sobre você. – Ainda bem que estava sentada, pois fiquei toda mole depois dessa.

— Seu drinque é ótimo.

— Obrigada. – Ela foi se retirar...

— Viu... – Ela virou. — Você quer jantar comigo?

— Quero. Quando?

— Hoje. – Eu disse e ela levantou a sobrancelha.

— A meia noite?

— Eu conheço um lugar legal. – Ela me analisou.

— Ok. Me espere ao lado do seu carro. Não podemos sair juntas.

— Tudo bem. – Levantei e levei o copo a boca para tomar o resto dele. — Perfeito. – Deixei o dinheiro no balcão e fui até meu carro. Fiquei esperando.

Quando já estava cansada de ficar em pé, ela saiu do pub. Cabelos soltos, calça jeans clara, uma blusa preta e uma jaqueta de couro. Era um pedaço do céu.

Abri a porta para ela e ela entrou no carro. Dirigi até um drive-thru e pedimos várias coisas.

Peguei e levei-a ao templo de Camila, os fundos tinha aquele chafariz e vários bancos por ali, seria perfeito. Abri o portão e entrei de carro... eu tinha a senha do alarme, não teria grandes problemas.

— Quer me converter?

— Não. Mas convenhamos que não é fácil arrumar um lugar bom e seguro para se comer essa hora. E se eu e convidasse
para ir a minha casa...

— Eu não aceitaria.

— Eu presumi isso. – Peguei as sacolas e fui abrir a porta para ela. Caminhei e ela segurou meu bolso, me seguindo. O chafariz estava com as luzes ligadas.

— É lindo aqui.

— Não quero me gabar, mas eu sou a engenheira deste templo.

— Uau... isso é incrível. Você é das boas.

— Nem tanto.

Nós comemos na escadaria do templo... ela é linda, muito inteligente e mega engraçada. Fazia tempo que não tinha uma noite tão boa como essa.

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