Capítulo 96 - Focando

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— Como o Mestre tem passado?

— Estou preocupado com você. – Ele apontou o tapete ao meu lado e eu sentei nele em posição de índio. — Providencie o almoço para a conselheira, Kevin. Depois está dispensado para seus afazeres. – Ele assentiu e saiu dali.

— Mestre...

— Vamos começar pelo quesito básico. Para que meditamos?

— Para conhecer melhor a nossa mente. Minha cabeça está cheia, mestre. Agora mesmo estou pensando se está tudo bem com minha família.

— Sua família está em um caixa forte. Seus pais, amigos e colegas cercando todas. Imagino que elas estão bem mais protegidas que você. Sabemos, K... toda meditação para respostas vai ser em vão se você não tiver um lugar na sua cabeça para organizar as questões. Levando em conta que ocupamos muito pouco do nosso cérebro, acha impossível? Para nós nada é impossível. – Ele sentou-se a minha frente. — Feche os olhos... esvazie a cabeça, você se imaginando despida em uma nuvem branca afastada de tudo. Esquece que se casou. É só você e você.

Foi o que eu fiz, mas até o horário do almoço, minha nuvem estava cheia. Todos estavam nela, de Lauren a Vero. Minha nuvem se desmanchou. – Eu segurei todos como pude. Alcancei meu pé, uns se agarraram a minha cintura... estava pesado demais.

— Mestre... estamos caindo.

— Eu disse que se não tirasse eles da nuvem ela não sustentaria. Se salve, K.

— Eu não posso deixar ninguém cair. – Eu dizia enquanto segurava a mão de Lauren firmemente.

— Se salve, K. É necessário.

— Não posso deixá-los. – Eu disse e a mão que me sustentava no resto da nuvem escorregou. Eu morri tentando salvar a todos, então abri meus olhos. — Todos se foram.

— Eu disse para se salvar. Você não estava na nuvem, você estava sobre sua mente e esse é o peso que ela carrega. Você não pode ajudar a todos se não se ajudar primeiro, sabemos disso, sabes disso, está teimando como a garota mimada de quinze anos.

— Mestre...

— Não quero ouvir sua voz, K. Vamos almoçar e depois você ficará aqui até conseguir se visualizar sozinha.

Ele disse e saiu da sala.


×××


Após uma semana, eu não tinha me visualizado sem Lauren na nuvem e isso estava preocupando o mestre ao extremo.

— K... eu entendo suas preocupações, não podemos mudar o mundo que nos rodeia, mas podemos mudar o jeito que nos relacionamos com ele. Sei que você ama sua família e Lauren é uma figura bem presente em sua mente, mas agora não é o momento dela. Você cuida, ama e protege, mas agora ela não quer isso, ela quer que você se cuide... – Ele tirou uma carta do bolso. — Eu não vou te mostrar o que ela escreveu, mas ela me mandou uma carta. Ela quer você de volta, K. Eu não convivo com vocês, mas ela me deu a entender que você mudou muito. Ela não quer que você volte do mesmo jeito, ela quer você em paz e eu não vou deixar você sair daqui se não se esforçar para isso.

— Eu estou tentando.

— Você curou uma enfermidade com a reflexão. Pode ir ao gramado e relaxe por ela. – Assenti.

Passei pelos salões de meditação e cheguei ao gramado. Deitei ali e comecei a pensar na minha semana aqui.

— Difícil? – Ouvi Kevin e ele sentou ao meu lado.

— Um pouco.

— Vamos lá, K. Você me ensinou tudo que sei, é a pessoa mais focada que conheço... era para você estar no lugar do Khan. Lembra? O mestre pediu para você ficar no lugar dele.

— Eu nunca quis criar raízes aqui. Eu sempre disse que meu objetivo era encontrar Lauren um dia.

— E encontrou, casou, teve filhos e se estabilizou. O que falta? – Eu fiquei encarando ele por um tempo.

— Acho que eu fiz um bom trabalho com você. – Eu disse levantando. — Vamos tomar um chá?

Ele assentiu e logo estávamos ao lado da fonte.



Lauren Jauregui  |  Point of View




Estávamos na casa de Vero, fazia um mês que Camila estava longe e incomunicável. Não posso negar que imaginei levar menos tempo... e que colocar as meninas para dormir sozinha gera uma choradeira de nós três sem tamanho.

— Alguma novidade sobre Milão?

— Não. Eu estou morrendo de saudade dela.

— Você está péssima mesmo. Olheiras... você engordou?

— Sim. Ficar na nossa casa me deixa ansiosa e eu como tudo que encontro.

— Imagino ser difícil... é difícil pra nós, imagina para vocês que nunca se separam.

— É, mas Camz precisa desse tempo... esperei sete anos. – Eu disse levando a mão a boca e roendo minha unha... ato recorrente ultimamente.

— Acha que vai levar tanto tempo?

— Não sei... espero que não, mas se for necessário tenho que aceitar.

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