Saturno, A Filha da Lua e do Sol

Queime Dentro do Vulcão - Adrian

-"em chamas?" - eu perguntei confuso. - "como assim em chamas?"

- "é exatamente isso que eu quis dizer Adrian, você vai ficar em chamas" - Tony me disse firmemente.

- "Ei, calma" - Rose falou em um tom baixo - "em chamas por conta da erupção, entende? você aprendeu tanto até aqui e precisa disso pra finalizar... você precisa ficar em chamas e entrar lá..."

um silêncio permaneceu quando ela apontou para o vulcão mestre que invadia o céu, ele era o maior e mais poderoso vulcão que já existiu, criado pelo meu pai e pela minha mãe, dominado apenas por eles, por enquanto.

fico imaginando como farei isso, a rose ficou tentando me explicar mas tudo parecia ecoar, eu apenas escutava o borbulhar da lava queimando tudo o que chegava perto do vulcão e imaginava como meus pais haviam feito isso antes, o tamanho do poder que isso tudo exigiu deles, o sacrifício que tiveram que fazer.

isso, sacrifício.

era sobre isso que se tratava, assim como existem pessoas que se sacrificam por um bem maior, ou renascem para fazer algo, que assinam contratos vendendo suas almas, entregam seu corpo para algo que acreditam ser maior do que tudo, acredito que seria um tipo de fé, ou melhor, vários tipos.

eu não entendia a palavra sacrificar, nunca me sacrifiquei por algo, já batalhei muito pra varias coisas, mas não me lembro de algum momento de sacrifício pessoal.

eu já havia provado todo o meu poder, o que sou capaz, o que consigo controlar... eu manuseio livremente a lava, queimo o que eu quiser, a uso de proteção, crio vulcões, ando sobre a lava sem me queimar, entre diversas tantas coisas, mas falta uma coisa, apenas uma coisa, erupção.

estourar, explodir, meu próprio corpo precisa viver isso, mas para mim simplesmente não faz sentido.

subi até o topo do vulcão, sentia o calor de longe, o abafado do ar, a fumaça tóxica, o perigo eminente adormecido.

antes de fazer qualquer coisa, parei e pensei:
" o que ela quis dizer com que eu tenho que ficar em chamas? como eu fico em chamas? será que isso é apenas modo de dizer? ou de sentir?"

por um breve momento senti um sopro quente na minha nuca, e senti minhas pernas fracas, os olhos pesaram e eu senti as pedras do chão nas minhas costas.

Abri os olhos sem abri-los de verdade, estava em um campo verde, era tudo lindo, tinha uma brisa passageira de fim de tarde, aquela leve e que te faz querer ficar naquele momento sempre.

logo adiante tinha uma mulher, ela era ruiva, cheia de sardinhas, olhos vermelhos cor fogo, riscos vermelhos na pele, ela emitia um poder sem igual, ela se aproximou e eu achei seu rosto familiar.

- " Adrian, você finalmente chegou... não acredito que está tão crescido!" - ela veio sorrindo na minha direção.

eu dei um passo para trás e ela me encarou, fez uma cara de compreensiva e falou calmamente:

- " Claro que não se lembra de mim, como sou boba, você era apenas uma criança. Deixe me explicar, seus pais me criaram junto com este vulcão, eu sou o espírito de fogo que protege ele de tudo e de todos, incluindo quem vem atrás dele somente por poder... esse seria seu caso?"

- " Eu não me lembro de você, como esqueceria isso? não entendo.... mas sim, eu vim até aqui para poder dominar o vulcão assim como meu pai e minha mãe o fizeram, e eu seguirei os passos deles" - respondi confiante.

- " Já que então esse é seu caso, peço que se retire daqui e não retorne nunca mais, foi um prazer revê-lo" - ela falou já indo para longe.

- " Espera!" - eu gritei. - " isso não é a verdade? eu estou aqui para dominar o que meus pais já dominaram, carregar o legado deles."

- " Você pode querer muito dominar, mas não é merecedor, você não tem paixão, você não tem respeito, você apenas quer isso para usufruir." - ela me respondeu em um semblante triste.

- " eu não quis desrespeitar, apenas fui honesto, desculpe" - eu falei.

- " Adrian, me diz, qual é o seu maior objetivo? o que te faz mais feliz? o que acelera teu coração quando você pensa sobre?" - ela perguntou curiosamente.

- " minha família me faz feliz, kenny faz meu coração acelerar... ela é ... ela... é ... perfeita." - respondi calmo.

ela sorriu e me olhou, então perguntou:

- " me diz adrian, o que você entende da palavra sacrifício?"

- " acho que é algo que você troca pelo bem do outro ou pelo próprio bem, você acha que aquilo vale mais a pena do que isso, então sacrifica tudo, larga tudo, por algo ou alguém, não sei explicar direito..." - respondi confuso.

- "Sabe, seus pais já estiveram no seu lugar, me falando as mesmas coisas e eu os fazendo as mesmas perguntas, mas eles entenderam, eles queimaram e puderam dominar as erupções e o vulcão mestre, eles estavam em chamas." - ela disse feliz.

- " eu não entendo isso, o que significa esgar em chamas? o que significa queimar?" - perguntei agoniado.

- " pobre menino, você realmente não entende não é?" - ela disse rindo da minha cara, e ao mesmo tempo eu negava querendo saber qual era o motivo para isso tudo.

- " adrian, pensa, pensa no que isso pode significar pra você, relaciona com o que já me perguntou, você é capaz." - ela me disse com confiança.

sacrifício.
lava.
erupção.
em chamas.
queime.
vulcão.

não achei relações, qual a relação disso tudo?

ela me olhou desapontada e disse:
- " vou te fazer a mesma pergunta que fiz aos seus pais a anos atrás..."

eu concordei, ela se sentou no gramado e então perguntou:

- "Adrian, você queima por alguém? seu coração fica em chamas só de pensar em algo ou alguém?"

do nada, tudo fez sentido.

- " Até onde você se sacrificaria por alguém que você ama? até onde você iria em nome do amor?" - ela repetia.

tudo faz sentido.

eu olhei pra ela e sorri, deixei meu coração queimar, ele ficou em chamas de pensamentos e lembranças boas, memórias daqueles que eu amo, eu fiquei em chamas, meu corpo esquentou, ela sorriu pra mim e eu abri os olhos, sentia meu corpo esquentar cada vez mais, apenas deixei queimar.

Pulei com todas as minhas forças para dentro do vulcão e entendi o que ela quis dizer com sacrifício, deixar queimar e ficar em chamas.

meu corpo entrou na lava fervente e ao invés de derreter, ela me protegia, me respeitava, me senti tão bem e tão confiante e levantei as mãos e aconteceu.

Erupção.

posso voltar pra casa.