Capitulo 1

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A minha tia disse-me que este ano ia haver muitos alunos novos, por isso é que os pôs todos na mesma turma comigo lá no meio, para os fazer socializar mais depressa. No entanto, não sei até que ponto os vou fazer socializar, visto que não ando com disposição para conhecer pessoas novas. A verdade é que o meu estatuto na escola não é bem como as pessoas pensam. Às vezes preferia ser uma desconhecida para as pessoas e não a menina popular que é sobreinha da diretora.

Entraram na escola cinco rapazes lado a lado. Um deles era moreno, tinha os olhos castanhos cor de mel, era alto como todos os outros, o seu cabelo era castanho e não muito comprido. No seu corpo tinha uma camisa aos quadrados pretos e brancos e, nas pernas, permaneciam umas calças pretas com rasgões na zona dos joelhos. Ao seu lado encontrava-se outro moreno. Este tinha os olhos azuis e o cabelo liso, que lhe caia sobre a testa. Uma camisa às riscas estava colada ao seu tronco e umas calças pretas nas suas pernas. No meio, estava um loiro, o único do grupo. Os seus olhos eram azuis da cor do mar, a sua pele era pálida e o corpo estava cobreto por uma t-shirt branca, umas calças pretas e um casaco azul-escuro. Mais dois morenos estavam do lado esquerdo do loiro. Um deles tinha uns caracóis perfeitos, presos por uma bandana preta, e os seus olhos eram verdes como esmeraldas. Uma camisola preta e umas calças da mesma cor cobriam o seu tronco e pernas. Por último, um rapaz bem mais moreno que os restantes, com uns olhos castanhos penetrantes e barba não muito grande a cobrir o seu rosto. As suas calças eram exatamente iguais às dos seus amigos, mas no seu tronco usava uma camisola de mangas cavas com um casaco de cabedal a cobrir os seus braços. Todos eles tinham ares misteriosos, mas de facto, o que mais intenso me parecia era o deste último. 

“Já tens mais gente para nos apresentar!” – Disse a Cece, entusiasmada com os novos alunos. Da maneira que ela e a Bea são, vão-me chatear a cabeça todos os dias para eu os apresentar a elas.

“Mas eu ainda não os conheço! Posso nunca vir a falar com eles!” – Expliquei. Era bem provável isso vir a acontecer. A verdade é que eu conheço toda a gente que frequenta esta escola, e dou-me bem com toda a gente, mas sei que algumas pessoas só falam comigo porque eu sou popular. 

“O que é que estás a dizer?” Perguntou incrédula nas minhas palavras. “Tu és a Jennifer Smith! A pessoa mais popular do colégio! É claro que os vais conhecer! E vais conhecê-los porque nos adoras.” – Elas são tão persistentes! Por vezes usam-me para atingir os fins, mas apoiam-me sempre que eu preciso, e é nessas situações que eu sei que eleas são realmente minhas amigas.

Os rapazes passaram por nós, sem sequer nos encararem. No entanto, perceberam que a Cece e a Bea se tinham colado a eles. Alguns sorrisos de lado formaram-se nos seus lábios, mas continuaram a sua caminhada para o interior da escola. 

Voltei o meu olhar para as minhas amigas, que se encontravam com as faces rosadas. 

“Se fosse eu a vocês atirava-me logo para cima deles!” Repreendi-as de forma irónica.

“Cala-te!” Retorquiu a Bea. “Mas não te esqueças de falar para eles hoje!” – Voltou a insistir. Quando elas são insistentes de mais irritam-me.

“Vou falar com a directora! Xau” – Sai da beira delas sem esperar uma resposta. Percorri longos corredores pela escola até chegar ao meu cacifo. “Qual é a combinação?” Murmurei para mim. “Boa Jen, voltas-te a esquecer-te do código do cacifo!” Eu não era competente de ter um cacifo com um código. Esquecia-me frequentemente da combinação de números que deveria inserir. Teria de ir falar com a minha tia para que ela mo desse.

Nesse momento, a campainha tocou. Teria de adiar a minha ida ao gabinete da diretora para o próximo intervalo, visto que se chegasse lá a estas horas, iria receber uma repreensão e não traria a combinação do cacifo comigo. 

Iniciei a minha caminhada até à sala de aula, que segundo o horário que permanecia na minha mão, era do lado oposto da escola. Bufei frustrada e acelerei o passo. Era muito vulgar eu chegar atrasada às aulas, mas não queria fazê-lo na primeira aula do primeiro dia de aulas.

Antes de bater à porta para entrar, deslizei a minha mão até ao bolso das calças e tirei de lá o meu telemóvel para poder ver as horas. Estava cinco minutos atrasada, e isso dava direito a alguma boca por parte do professor, visto que ele é muito exigente neste aspeto. 

As nozes dos meus dedos bateram contra a porta de madeira, emitindo o som caracteristico, e abri a porta, depois de ouvir um "entre" não muito feliz. 

“Menina, Smith! Primeira aula do primeiro dia de aulas e você decide chegar atrasada!” Lá está ele! Já vai começar!

“Professor Morris! Primeira aula do primeiro dia de aulas e você já começa a implicar!” Respondi no mesmo tom dele. 

Este homem era meu professor desde o primeiro ano em que andei nesta escola, e desde sempre nos demos mal. A diferença é que ao longo dos anos, eu prespondo de forma menos agradável e imprórpia. 

“Qual é a sua desculpa de hoje? Ficou presa na casa de banho?” Ironizou, soltando um pequeno sorriso, como se ele tivesse ganhado alguma coisa. Se calhar até ganhou algum orgulho nele próprio, por pensar que me insultou.

“Por acaso, não tenho nenhuma desculpa! E qual é a sua desculpa de hoje?”

“Desculpa de quê?” Perguntou desentendido.

“De trazer essa cara e essa roupa!” Eu sorri triunfante, e o sorriso enrugado que antes estava no rosto do professor, desapareceu, e tornou-se sério. Todos na sala tentaram não rir da minha resposta, mas ouvia-se leves risadas pela sala.

Tinha a perfeita noção que abusava da sorte muitas das vezes, e a forma como falava não era a mais adequada para falar com um professor, mas o facto de a minha tia ser diretora da escola ajudava-me muito.

“Bom. Sente-se e abra o livro na página 11.” – Ordenou.

“Não tenho manual, nem caderno! Só uma caneta. Serve para alguma coisa?” O professor abanou a cabeça e eu voltei a sorrir. Ele pegou numa folha e estendeu o braço, entregando-ma. Eu virei-me para a turma pela primeira vez, e não conhecia ninguém que lá estava, a não ser aqueles cinco rapazes que passaram por mim de manhã. Eu fui andando até ao fundo da sala, e sentei-me numa mesa vazia. Meti as minhas coisas em cima da superfície lisa da mesma e fiquei a olhar pela janela, sem prestar a mínima atenção à aula!

Ouvi o som da campainha a tocar.

“Já não era sem tempo!” Falei mais alto do que queria, e toda a turma olhou para mim.

“Sempre os mesmos comentários inoportunos!” – Comentou o professor.

“Sempre o mesmo mal disposto irritante!” – Retorqui e virei costas, saindo da sala. Estava com pressa. Precisava urgentemente da combinação do cacifo para poder levar os livros necessários para a aula que iniciava daqui a vinte minutos.

O gabinete dela não ficava muito longe da sala onde eu acabar de sair, por isso não demorou muito a encontrá-la e a bater na mesmas com a mão fechada.

“Entra, Jennifer!” Disse a minha tia, com a sua voz carinhosa e doce, quando viu o meu rosto espreitar por uma fenda da porta que eu mesma tinha aberto.

 “Bom dia tia!” Disse entrando no gabinete dela. Reparei na presença de mais alguém na divisão, e fiquei um pouco surpreendida com quem ali se encontrava.

You And I || z.mOnde as histórias ganham vida. Descobre agora