Gringa Grudenta - (Catradora)

Oleh BriasRibeiro

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Ágata Catrina Macieira, ou Catra é uma jovem talentosa meio-campista brasileira que acaba de ser contratada p... Lebih Banyak

Novo país
A menina lisa e a goleadora
Loira odonto do caralho
Após a queda
Gringa gata tatuada
Barreiras da língua (NÃO ESSA LÍNGUA)
O casamento do meu irmão
Vazando informações das linhas inimigas
Olhos oblíquos de cigana dissimulada
Nova canária
Portugal
A concentração de Adora
Armadilha para abelhas
A inquebrável She-Ra de Etéria
Zona do Medo
Primeiros contatos
CAPÍTULO EXTRA - Um olhar sobre a República de Etéria...
Intromissão purpurinada
A revanche
O que sou para você?
CAPÍTULO EXTRA - Os povos nativos de Etéria
Duas gatinhas brincando
Noite de prêmios e videogames
Curiosidade
De volta para casa
Arrependimentos
The First Ones
CAPÍTULO EXTRA - as divisões administrativas de Etéria
Você é como ela
Eu sou uma idiota
Futuro do pretérito
CAPÍTULO EXTRA - o futebol em Etéria
Desejo
Desejo, parte 2
Eu quero surfar nas ondas do seu corpo
"Princesa", mas em português
Também te amo
Magicat
Epílogo
O frio de Zurique (CAPÍTULO BÔNUS)
O calor de Zurique (CAPÍTULO BÔNUS)
Que seja eterno enquanto durar.

I love you

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Oleh BriasRibeiro


Catra passa seu primeiro "jogo" pela seleção inteiro sentada num banco de reservas.

Okay, não inteiro. Nos quinze minutos finais, sua treinadora a mandara ir se aquecer junto com várias outras, que acabaram não entrando no jogo. Não que Catra realmente esperasse que teria alguma chance de estrear com sua camisa verde-e-amarela disputando vaga com Marta, mas no fundo do seu ser, havia se permitido torcer por pelo menos uns cinco minutos, no finalzinho do jogo, quem sabe?

A partida foi contra a Nova Zelândia, e terminou num apertado 2 a 1, de virada, com um gol de Debinha e outro de Bia Zaneratto, ambos em jogadas começadas por Marta. Catra sempre se orgulhou de sua técnica, sua capacidade de driblar, dar passes bonitos, se virar em espaços apertados, mas só de ser colocada ao lado de Marta, se sente pequena, como se toda sua habilidade polida em 19 anos de vida fosse insignificante. Ela é boa nessas coisas todas quando comparada com jogadoras mais comuns, não a foderosa rainha do futebol. Um quê de instinto covarde no fundo de sua mente lhe grita que vá logo para o McDonald's mais próximo pedir o emprego de atendente que merece. Uma outra parte da sua mente ainda a lembra das Olimpíadas de Tóquio, dali a poucos meses.

Simplesmente não existe a menor possibilidade que um dia ela possa superar Marta, é o pensamento que a domina.

Sua partida ocorrera apenas algumas horas depois do jogo de Etéria contra a Bélgica, e como se quisesse retribuir, Adora lhe enviara mensagem logo após o jogo.

Adora

Hey, parabéns pela vitória!!!!

Catra

Por quê?

Eu nem joguei

Adora

Claro né!!! Sua primeira vez na seleção menina apressadinha ^^'

Mas foi um jogo bonito

E vc conseguiu chegar lá

Daqui 2 ou 3 anos vai ser titular absoluta, anota minhas palavras u3u

Catra se pergunta se Adora observou o esquema tático que o Brasil está usando. Se pergunta se observou que Marta não está jogando como centroavante, e sim como meia-atacante. A garota de 19 anos ainda não consegue lidar com o fato de estar sendo colocada para substituir a maior estrela da história do futebol feminino. Cada vez que começa a refletir sobre isso, sente um vazio no estômago, sua pressão baixa, começa a suar frio.
- Em que estás a pensar? – Camila pergunta, sussurrando no pé do seu ouvido. A respiração dela tão perto do seu pescoço chega a fazer cócegas.

É o dia seguinte após a estreia do Brasil na Algarve Cup, quase meio-dia. Catra se encontra deitada de bruços na cama de Camila, com a própria Camila deitada sobre ela e ocasionalmente beijando suas costas, pescoço, rosto, mas a brasileira já não tem reagido há algum tempinho.
- No treino.
- Uhum – Camila beija a parte alta do pescoço de Catra e vai descendo até os seus ombros, enquanto com uma das mãos massageia os seus seios – e o treino é mais interessante que eu?

Catra não responde, nem reage aos toques da outra. Camila suspira fundo e se senta na cama, recostada à parede. Em reação a isso, Catra se vira e se senta onde está, de frente para a garota. Completamente nua, Catra descobrira que ela também possui uma tatuagem de um gatinho na parte alta d'um dos seios. Normalmente se distrairia com isso, mas não agora.
- Um ano e meio atrás eu tava jogando no campeonatinho da escola, tá ligado? E agora eu tô aqui.
- É uma grande mudança – concorda Camila.
- Eu nem tinha que tá frustrada, saca? Na minha cabeça era preu tá limpando chão da casa de burguês agora, e no fim eu que virei a burguesinha. Sei lá. Nem sei na real que que tá me incomodando. Eu tava nem aí até outro dia.
- Com o tempo deves aprender a lidar com isso – supõe Camila, desviando o olhar de Catra para checar as próprias unhas. A brasileira tem a impressão de que ela não está muito interessada nessa conversa. Não a culpa.

Catra engatinha até Camila e beija a base do seu pescoço. A portuguesa suavemente pousa a mão em suas costas e geme baixinho.
- Foi mal, falar disso do nada – ela murmura, beijando mais uma vez.
- Não vais ficar demasiado cansada para o treino? – pergunta a outra, fingindo mágoa. Catra passa um dos braços pelas suas costas e ri baixinho antes de beijar seu pescoço com mais intensidade, ganhando gemidos cada vez mais altos da outra. Ela desce a outra mão para a parte íntima exposta de Camila.
- Ei, qual é. Eu sou uma atleta profissional, tenho energia de sobra.
- Catra... – a outra geme.
- Ei... quer me ouvir falar francês? – provoca a brasileira, sussurrando no ouvido da outra, sem deixar de acariciar a parte externa da sua genitália.
- Hm... e desde quando tu falas francês?
- I love you – ela diz, e recua sutilmente só para poder ver o rosto chocado da outra. Ri baixinho – quer dizer "morena" em francês.
- Hã? – a outra estranha, completamente confusa. Catra arqueia as sobrancelhas, numa expressão maliciosa, antes de começar a passar os dedos diretamente sobre o clitóris da outra, arrancando gemidos ainda mais intensos.
- Auto da Compadecida, mulher. Vou te fazer ver depois.

[...]

As meninas do Brasil têm usado um centro local para realizar seus treinamentos desde que chegaram em Algarve, e Catra, normalmente relaxada nos treinos, nunca pegou tão pesado consigo mesma na sua vida. Sente os olhos de Pia, de Bia Vaz, de toda a comissão técnica e das maiores estrelas do futebol feminino brasileiro em suas costas o tempo todo. Olhos estes que julgam duramente, analisam cada movimento, avaliam seus limites, a pressionam a ser cada vez melhor ou desistir de uma vez.

A carne nova. A caçulinha da seleção. A novata. A promessa que ainda não se realizou. As palavras duras de Shadow Weaver ressoam em sua mente durante a corrida, o treino de ataque versus defesa, o treino de impulsão, de velocidade, e a sessão de musculação no final da tarde. "Te falta objetividade". "Te falta disciplina". "Você precisa pensar na equipe". "Atenha-se à tática". "Observe sua respiração". "Seu fôlego é desprezível, como você consegue se chamar de uma atleta profissional?". "Pense no todo. E eu não me refiro somente à equipe: você não pode ser só uma máquina de dribles, existem outros fundamentos no futebol. O que acontece quando você não puder mais driblar?". Ela ouve a voz de Weaver retumbando em sua mente.

Isso foi antes dela ver aquele vídeo que Scorpia havia lhe mostrado, da sua própria treinadora nos tempos de jogadora. Antes de ler a sua página completa na Wikipédia. Antes de ver o vídeo da jogada que causou uma lesão no seu tornozelo e joelho direitos que fizeram com que ela nunca mais possuísse a velocidade e agilidade de antes, e como mesmo assim manteve seu status como jogadora lendária da seleção Eteriana.

Antes, ela teria respondido "eu sempre vou arrumar uma maneira de driblar". Hoje, o que ela ouve não é "o que você vai fazer quando estiver cercada por tantas jogadoras que driblar será impossível? Finalmente vai se render, e pensar na equipe, de forma objetiva?", e sim "o que você vai fazer quando sofrer uma lesão tão grave que não puder mais driblar como antes? Sua carreira vai acabar? Eu não deixei a minha acabar".

Conforme ela lia aquela página da Wikipédia os detalhes de uma lesão horrível que nunca foi completamente resolvida, se sentia mais frágil, como se a próxima entrada dura que sofresse fosse significar o fim da atividade que mais ama. E quando ouviu sobre substituir Marta? A princípio, achou que aquela treinadora tivesse ficado completamente louca. Sentiu uma pressão indescritível.
- Opa. Fazendo o que aí? – uma voz já conhecida por Catra a chama, vindo de trás. Não uma que ela reconhece da sua vida pessoal, no entanto.

Meia-hora depois do treino físico ter sido declarado finito, Catra continuava pulando de uma máquina para outra naquela academia, repetindo sequências extras de todos os exercícios passados, dando atenção especial à esteira. "Seu fôlego é desprezível. A única razão pela qual você aguenta jogar uma partida inteira é porquê corre menos que qualquer outra atleta do time". "Você tem sorte de ter se tornado uma favoritinha da torcida, eu não escalaria alguém tão indisciplinada por vontade própria". Suor escorre como uma catarata pelo seu corpo, marcando toda sua camisa branca de pano ao redor do top, sentindo cada centímetro da sua pele escorregadio.
- Treinando – murmura Catra. Ela suspira profundamente e segue a sua corrida, num silencioso desespero por cada faísca de energia que ainda consegue encontrar em seu corpo.

A imagem da mulher que teve como heroína no futebol por anos, por ser o ideal que nunca alcançaria, por viver o sonho que nunca viveria, surge pela sua visão periférica. Catra tenta ignorar o quanto pode.
- Que bom que está animada – Catra não responde. Sente que se falar, perderá o fôlego. Marta coloca um dos dedos sobre o painel da esteira e diminui a velocidade – mas oshe menina, assim cê vai se lesionar.

Catra põe o dedo sobre o painel novamente, pronta para tornar a aumentar a velocidade, mas reflete sobre as palavras da outra. Se lesionar de novo não parece uma boa opção. Teve sua primeira lesão da carreira há poucas semanas e não quer voltar àquela situação tão cedo. Engolindo o orgulho, ela tira o dedo do painel sem mexer na velocidade. Ela sente o olhar da estrela sobre ela.
- Como cê tá se sentindo?
- Tô de boa – Catra sente a garganta doer. Consegue ouvir sua eu de 16 anos gritando desesperada em seu ouvido pra pedir uma foto e conversar direito, e pelo amor de deus não chorar nem ficar gritando agudo e nem agir estranho. Já está falhando na parte de agir estranho, mas pelo menos pensa que já superou aquela fase onde teria surtado na frente dos seus ídolos.

Não é só pelo excesso de exercício que sua garganta dói.
- A gente sempre tenta fazer as jogadoras novas se sentirem confortáveis aqui nesse ambiente, sabe? – a outra diz – e cê num parece muito confortável aqui não.

Sentindo as pernas cansando, Catra diminui a velocidade mais um pouco, pensando em fazer algum dos exercícios de braços e costas em seguida e dar um descanso às pernas antes de voltar à esteira. Sua mente tenta evitar pensar naquilo. A situação mais cedo com Camila já fora desconfortável o suficiente. Logo ela diminuiu a velocidade para uma caminhada rápida.
- Eu e as outras meninas vamos dar uma saída agora. Se quiser ir com a gente e contar o que anda se passando nessa sua cabecinha... – o tom dela é brincalhão.
- Fazer o quê?
- Dar um rolê por aí pela cidade, relaxar, tocar violão.
- Cêis trouxeram um violão é?
- Trouxemo, ué.
- Vem cá, a Renatão vai?
- Vai, sim!
- Então nem fudendo que eu vou falar nada lá. Ela ia me zuá pro resto da vida – o comentário arranca risadas de Marta. Catra sorri de lado, surpresa por ter feito a outra rir, desliga a esteira e desce do aparelho, refletindo se ainda deve continuar suas sequências extras. Tenta não parecer ofegante demais.
- Então, você vem? – Catra pega sua garrafa de água pela metade ao lado da esteira e molha o rosto e o pescoço, se deixando respirar por um momento, antes de responder.
- Vou, né.
- Show! A gente te espera tomar uma ducha – quando ela se vira para sair, Catra a segura pelo pulso. A veterana e a novata se encaram em silêncio por um momento.

Catra se lembra da primeira partida de futebol feminino que viu na vida: foi a Copa do Mundo de 2007, quando tinha apenas 6 anos. Uma goleada do Brasil sobre os Estados Unidos por 4 a 0 nas semifinais, com dois gols de Marta, então uma novata de 21 anos. Havia visto o jogo pela Band. Perceber que se lembra até desse detalhe aquece o seu coração. Nunca vai se esquecer do segundo gol de Marta naquela partida, em que ela deu algum tipo de meia-lua aérea na primeira marcadora, tirou da segunda e chutou com o pé ruim. Por muitos anos, ela não tinha noção do quanto aquilo era importante. Encarava aquele ano, aquele momento, aquele lance, como apenas mais uma grande jogada da longa história de grandes jogadas da história do futebol.
- Eu não sei como lidar com isso – ela admite finalmente, e sente vergonha de si mesma por aquelas palavras, por aquele sentimento. Marta sorri de maneira compreensiva, e Catra continua – eu só quero jogar o meu jogo como sempre fiz, mas me disseram que é para eu substituir você. Eu... – Catra trava, sem conseguir terminar a frase. "Não estou à altura", completa em pensamento.
- Todas vocês da geração mais nova vão nos substituir. Nós não vamos durar pra sempre, e precisamos que vocês continuem o nosso legado.

Catra já sabe disso. Ouviu o discurso da rainha na Copa do Mundo no ano anterior. "Não vai ter uma Marta pra sempre, não vai ter uma Cristiane pra sempre, não vai ter uma Formiga pra sempre".
- Eu quero jogar do meu jeito, sem pressão. Ser livre. Saca?
- Pressão sempre vai haver. A gente tem que aprender a lidar.

Catra se lembra de como Scorpia, Netossa e outras garotas do time já haviam lhe sugerido algumas vezes de começar consultas com a psicóloga da Red Horde, algo que ela sempre se recusou a fazer só para desafiar a treinadora Weaver, além de não sentir que precisava de ajuda. Talvez seja hora de lhes dar ouvidos.

Ela não se sente confortável o suficiente para continuar falando sobre isso, de qualquer forma. O clima já está estranho o suficiente.
- Tira uma foto comigo? – pede Catra. Marta sorri.
- Claro!

[...]

É quando Catra se senta no banco de uma praça que ela percebe o quão cansada estava. A sensação de alívio é tanta que ela sente que teria dormido se deitasse.

Na maior parte do tempo, ela é mais uma observadora que uma participante de fato. As outras garotas passam o violão entre si, tocando e cantando músicas de pagode, forró, sertanejo. Nada que realmente faça muito o seu estilo, ao menos até Renata ganhar a posse do violão e começar a tocar um Bezerra da Silva. A zagueira encara Catra com um sorrisinho de lado. Sabe que Bezerra da Silva é uma de suas fraquezas, elas sempre tocavam e cantavam juntas na época do São José. O ritmo do violão de Renata é acompanhado por um pandeiro na mão de uma das garotas que Catra reconhece como outra novata.
- Vamo lá, Felina. Solta a voz – provoca, ganhando um olhar sarcástico da outra em resposta.
- Cê me ama pra caralho memo, né?

As duas começam a cantar ao mesmo tempo.

Meu vizinho jogou

Uma semente no seu quintal

De repente brotou

Um tremendo matagal

Meu vizinho jogou

Uma semente no seu quintal

De repente brotou

Um tremendo matagal

Quando alguém lhe perguntava

"Que mato é esse que eu nunca vi?"

Ele só respondia

"Não sei, não conheço, só nasceu aí"

Ele só respondia

"Não sei, não conheço, só nasceu aí"

Logo algumas outras meninas da roda começam a cantar junto, algumas batucando as próprias pernas, outras que conseguem ser ainda mais desafinadas do que Catra.

Mas foi pintando sujeira

O patamo estava sempre na jogada

Porque o cheiro era bom

E ali sempre estava uma rapaziada

Os homens desconfiaram

Ao ver todo dia uma aglomeração

E deram o bote perfeito

E levaram todos eles para averiguação

E daí

Quando a música termina, Renata oferece o violão para Catra.
- Nah, véi. Sei tocar não.
- Deixa de ser fresca, ô.
- Sai, véi. Tô afim de deixar cêis surda não – Renata ri e desiste de insistir, passando o violão para outra garota.

[...]

Naquela noite, as garotas eterianas não paravam de falar no grupo do Messenger. Alguém – cof cof, Glimmer – havia adicionado novas pessoas lá. Catra ficaria lendo aquela conversa por uns quinze minutos antes de pôr o celular de lado para dormir. Havia descoberto que ficar forçando sua mente a entender inglês era uma boa forma de pegar no sono.

Naquela noite, Catra tem um sonho simples, feliz. Nele, está de volta em sua comunidade natal, a Zona do Medo. Nada de grandioso acontece. Ela se vê alguns anos mais nova, acordando antes das 6 da manhã para ajudar sua mãe a preparar o café da manhã dela e de seus irmãos, saindo para a escola com Luana e Caio, deixando a irmã mais nova na creche. Se vê ajudando na mercearia do bairro após a escola por umas marmitas grátis e uns trocados, jogando futebol no fim de semana de manhãzinha até à noite, ignorando completamente seus deveres da escola.

O sonho não é uma lembrança específica. É mais como um emaranhado delas.

Catra acorda na manhã seguinte com um sentimento de nostalgia. A primeira coisa que faz é enviar uma mensagem a Lucas e Jefferson no grupo que os três têm no whatsapp, mas não há resposta alguma. Catra tenta calcular que horas são no Brasil, desiste, pesquisa no google e descobre que na sua terra natal, ainda é madrugada. Eles devem estar dormindo.

Suspira, entediada. O ambiente silencioso denuncia o fato de que todo mundo ainda está dormindo. De vez em quando, ouve roncos baixos vindo da cama de Renata.

Catra decide fazer algo que sente que vai se arrepender, mas não consegue se segurar: checar seus álbuns antigos do facebook.

Começa pelos seus primeiros álbuns, da época que criou seu perfil aos 11 anos. Em quase todas as fotos, ela veste ou o uniforme do colégio, ou uma camisa do Corinthians com um número 10 nas costas, boa parte delas acompanhada por seus irmãos, todos corintianos como ela, ou amigos da escola. A partir de certo momento, começa a aparecer com uma Luana recém-nascida no colo numa foto ou outra, normalmente sentada na mesa de jantar ou no sofá de casa e com cara de apavorada. Conforme avança as fotos, sua expressão se torna mais relaxada e confiante, demonstrando a passagem dos meses. Em algumas, chega até a ficar de pé com a irmãzinha nos braços.

Ela sorri de maneira triste a cada foto em que Caio aparece. Ao contrário dela, ele parece sempre confiante com Luana no colo. Num videozinho curto que encontra, ele a joga para cima e a pega de novo no ar várias vezes, com a mãe gritando desesperada de fundo para que ele pare enquanto Luana ri, se divertindo com a situação.

É a partir de 2014, seus 13 anos, que Scarlet começa a se tornar uma figura comum em suas fotos. Alta, magra, havia se conectado com a garota desde a primeira semana de aula na sétima série. Não foi por esse nome que Catra a conheceu, no entanto. A maioria das pessoas a chamavam por outro nome, ao qual Catra se recusa a lembrar por respeito a ela. Sua evolução conforme os meses passam é visível: logo, Scarlet aprendera a fazer maquiagens melhor do que ela mesma. Não que signifique grande coisa, Catra nunca soube fazer muito mais do que passar esmalte, batom e um delineador simples. E então, suas roupas de moletom largas e folgadas aos poucos se tornavam mais leves, mais femininas, e uma saia florida que Catra a havia ajudado a comprar num brechó se torna cada vez mais comum, até ela ter conseguido sua segunda saia, essa de tecido jeans, que se tornaria a nova estrela. Catra encontra um vídeozinho curto, gravado numa qualidade péssima, onde ela tenta dar seus primeiros passos no salto-alto da mãe de Catra. Ela se lembra daquele dia como se fosse ontem: as gargalhadas de sua mãe de fundo, que de vez em quando saía de trás das câmeras e vinha ajudá-la, enquanto Caio filmava e Catra ficava ao lado da garota o tempo todo. Scarlet mantém um sorriso constrangido, porém radiante, do começo ao final do vídeo.

Catra não se lembra bem, mas acha que foi não muito antes disso que contou à sua família que era lésbica. Não foi realmente um momento de muitos dramas. Mais um, "ei Caio, eu sou lésbica", "legal mana, eu já sabia", "ei mãe, eu sou lésbica", "ah que ótimo, você não vai aparecer grávida na minha porta, agora coma suas verduras".

Por um lado, sente falta de Scarlet. Por outro, prefere deixar o passado no passado. Não tem ideia que tipo de pessoa ela pode ter se tornado depois de tantos anos, ou como reagiria ao vê-la. Começando a sentir aquele vazio que tem quando começa a pensar nessas coisas, Catra logo troca para o twitter para ver vídeos de gatinhos.

Queria tanto um gatinho. Pensa se não deveria adotar um, quando arrumasse seu próprio apartamento em Etéria. Ela começa a pensar que talvez já esteja se virando bem o suficiente por conta própria e deveria começar a pensar em deixar Scorpia e suas amigas em paz logo.

Naquela tarde, enfrentariam a seleção de Etéria, e Catra já se conformara com a ideia de ser uma mera espectadora do começo ao fim.

[...]

A fila da esquerda tem a seleção eteriana em seu uniforme secundário: roupas vermelhas da cabeça aos pés, com detalhes amarelos e brancos, o escudo da Etherian Soccer Federation no peito com as duas estrelas simbolizando os dois títulos de Copas do Mundo, 1991 e 1999, logo acima do escudo, e a goleira vestida toda de vinho.

Do outro lado, as brasileiras com sua clássica camisa verde-e-amarela, shorts azul e meiões brancos, e a goleira, a novata Natascha, toda de verde. As eterianas têm suas melhores jogadoras na fila, em ordem: Castaspella, Adora, Glimmer, Huntara, Netossa, Mermista, Flaur, Octavia, Amer, Lonnie, e fechando a fila, a goleira Alura. Todas elas atuantes no futebol eteriano, possivelmente a liga de futebol feminino mais disputada do mundo. Do outro lado, as brasileiras misturam suas antigas estrelas com jovens promessas.

Catra não está entre elas. Mais uma vez, ela acompanha a entrada das jogadoras do banco de reservas, observando Renata na fila com inveja. Ela não é a única novata da fila: Mariana, lateral-esquerda, também está ali, e no jogo anterior, Victória e Gisseli ambas fizeram sua estreia.

A ideia de que pode ser a única das cinco a não entrar em campo nem uma vez a atormenta e a angustia ao ponto de querer chorar. Renata ainda tem a pachorra de mandar um tchauzinho sorridente na direção de Catra, enquanto caminha para o centro do campo junto das outras. Se pudesse, teria ido até a colega e lhe dado um tabefe na cara.

Adora gruda em Marta desde o momento do primeiro apito.
- Ei, Felina. Você joga na liga eteriana, não é? Que dica cê tem pra dar pra gente? – ela lembra da conversa no dia anterior, durante sua saída com as outras.
- Mano, sei lá. Tenho cara de tatiquista, porra?
- Ah, sei lá né véi. Fala aí suas impressões.

E logo todos os olhos daquele grupo estavam virados para ela.
- Tá, xeu pensá. Calma lá.
- Dá até pra ver a fumacinha saindo da cabeça daqui, de tanto pensar – zombara Renata, ganhando um tapão no ombro.
- Cala tua boca, Renatão. Tá, tem aquela loirinha odonto. Joguei contra ela no meu primeiro jogo lá na gringa. Essa mina gruda em ti que é um inferno, puta que me pariu que mina chata do caralho. Mas ela vai ter que enfrentar nossa Marta né, então foda-se, nem fodendo que ela vai ganhar – algumas das garotas riem. Outras, as veteranas, se entreolham com expressões misteriosas – é zoeira, tá gente? Ela é bem daora na vida real, só no campo que não dá pra aguentar.

E depois de vinte minutos de jogo, a prevista vitória fácil da rainha parece longe de ocorrer. Adora tem ainda mais sangue nos olhos do que no dia que jogou contra Catra. É menos cautelosa que naquele jogo da Red Horde contra a Grayskull. Sem medo de bater, de chegar dando ombrada, de agarrar pela camisa desde os primeiros momentos. É como se estivesse usando a pressão de marcar a melhor jogadora da história como combustível para a sua determinação.

Faz Catra pensar que talvez esteja encarando toda aquela coisa da "pressão para substituir Marta" da maneira errada.
- Tem uma defensora lá chamada Huntara. A mina parece um trator, saca? Deve ter 1,90 de altura, sem tiração. Não consegui sacar muito qual é o jogo dela porque num era em mim que ela tava chegando, mas porra! Uns pernão assim tá ligado – ela gesticula com os braços – eu que num quero tá na barreira quando ela for cobrar falta. A mina deve ser pura força física.

Força física ela com certeza tem, mas não é isso que a destaca nesse jogo. A cada bola que tentam botar na centroavante Bia Zaneratto, Huntara aparece para cortar, sempre com um posicionamento e tempo de reação perfeitos. Ela tem uma técnica e graça para conduzir e tocar a bola que Catra não costuma esperar de zagueiras, muito menos de gigantas como ela.
- E uma lateral chamada Glimmer. Minha mana essa daí. Cabelin rosa, foguete enfiado no cu. Se pá um dia ela inda enfia a cara no alambrado e vai pra fora do estádio de tanto correr – o comentário arrancara risadinhas das outras – o jogo que eu vi na tevê, ela parecia manjar de dar carrinho e puxar contra-ataque, saca? Ela usa a velocidade e surge cê nem vê da onde, quando cê se toca ela já tá do outro lado do campo, parece até que tá se teletransportando.

Ao menos nessa previsão, ela foi precisa: na ponta direita da seleção brasileira, Andressa Alves vem perdendo todas as corridas para a de cabelos rosas.
- E as outras duas zagueira lá, manjo quem são não. Nem vi. Ah é, e o ataque delas é filha da puta. Aquela Netossa e Mermista, carai viado, acho que nem a loirinha odonto segurava – as outras assentiram com o comentário, especialmente as mais velhas. Netossa e Mermista já são bem conhecidas como estrelas globais do futebol feminino, e no ano anterior, conforme Catra bem se lembra, a seleção brasileira havia enfrentado Etéria na Copa do Mundo. Perderam por 2 a 1. Foi a primeira vez que Catra havia visto Etéria jogando futebol, e até ir jogar pela Red Horde, não havia guardado nenhum dos nomes das jogadoras. Recentemente, aprendera que houve pouquíssimos jogos na história de Etéria contra o Brasil, e que aquele havia sido o primeiro em muitos anos.

As brasileiras são as que tomam a iniciativa para o ataque primeiro, mas são frustradas vez após vez pela segura defesa eteriana. Fazem seu jogo com calma, conservando energia enquanto chamam as brasileiras pro jogo, cansando as adversárias. Ela observa aflita, atônita, enquanto as maiores estrelas do país do futebol encontram uma resistência impecável, que frustra os seus ataques com tal calma e precisão que mal parecem reconhecer a ameaça canarinha.

Catra sente como se fosse inevitável quando as eterianas marcam seu primeiro gol, com Castaspella dando um passe longo nas costas de Renata, escapando da dividida de Formiga, e Mermista surgindo do além para dar um toquinho colocado, de primeira, no canto da jovem goleira brasileira. Um gol simples, de categoria, digno de uma centroavante com quem Catra teria tido o maior gosto do mundo em formar dupla de ataque com, mas que dessa vez está contra ela.

O placar de 1 a 0 ao final do primeiro tempo não parece refletir o resultado de forma justa com as eterianas, e faz Catra agradecer mentalmente pela garra das jogadoras da defesa e a habilidade da goleira em parar várias bolas difíceis.

- Meninas, ainda temos 45 minutos – começa Pia Sundhage, em inglês, no vestiário. Sua assistente a traduz – e dá pra jogar muita bola em 45 minutos.

"Os discursos motivacionais dela são muito melhores que o da treinadora Weaver", pensa Catra, ainda desesperançosa pelo o que viu no primeiro tempo. "Adora anulou a Marta", pensa, num quê de assombro. "Como que nem a Marta consegue escapar da marcação dela?".
- Vamos adotar um estilo mais ofensivo no segundo tempo. Quero a Formiga e Thaísa dando cobertura para as subidas das laterais. Andressa Alves e Debinha, joguem mais avançadas, como pontas, mas valorizem a posse de bola...

A treinadora explica algumas outras mudanças táticas, ao que Catra para de prestar atenção, até que ouve seu próprio nome sendo chamado.
- Catra e Ludmila, pretendo colocar vocês duas durante o segundo tempo. Quero que vão pro aquecimento assim que voltarmos. Ludmila, quero ver bom uso do seu poder explosivo – ela espera a treinadora ser traduzida antes de comemorar, apenas internamente, pela chance que pode estar prestes a receber – Geyse, você também vai pro aquecimento.

Quando as garotas voltam para o jogo, Catra se divide entre a angústia da derrota e do domínio eteriano, com a animação pela possibilidade de ganhar sua primeira chance. Embora o Brasil comece a tentar pressionar mais no ataque, a coisa não muda muito de figura, e elas continuam esbarrando na sólida defesa eteriana, com Marta tendo dificuldades para escapar da marcação de Adora e tocando poucas vezes na bola. A melhor chance do Brasil vem quando a própria Marta consegue escapar da pesada marcação da loirinha, recebe uma bola pouco atrás da meia-lua, finta a volante e chuta de esquerda pro gol, de fora da área, mas a goleira espalma pra fora.

Catra sente o coração acelerado pela ansiedade conforme o relógio se aproxima dos 20 minutos do segundo tempo. Finalmente, o momento chama.
- Catra, Ludmila! – ela ouve a voz da assistente as chamando de volta do aquecimento – preparem-se para entrar. Catra, você vai fazer a armação, avise a Marta que agora ela vai jogar de centroavante. Estamos passando para um 4-4-2 losango.

A treinadora já grita algo para a estrela do time do banco de reservas. Catra e Ludmila vão se posicionar na lateral do gramado esperando a próxima bola fora, e quando isso acontece, o quarto-juiz levanta a placa eletrônica, indicando a entrada da camisa 20 no lugar da 11, e Andressa Alves vem correndo para a lateral, cumprimentando Ludmila e desejando boa sorte antes dela entrar. Quando a placa é erguida novamente, ela mostra o número 19 de Catra de um lado para entrar, e do outro, o número 8 de Formiga para sair.

Ninguém tinha avisado Catra que era ela que seria substituída. As duas dão aquele rápido abraço tradicional quando acontecem substituições.
- Acaba com elas, garota – a veterana murmura em seu ouvido nesses rápidos momentos de interação.

Catra entra o campo, correndo num passo regular para a sua posição e esperando que a goleira brasileira cobre o tiro-de-meta. Enquanto Marta corre para a posição de centroavante pela esquerda, dando espaço para Catra se posicionar como armadora pelo meio, Catra percebe que Adora não desgruda da capitã. "Vai deixar a Octavia na minha marcação memo, loirinha?", pensa Catra, já rindo internamente pelo quanto vai humilhar a própria companheira da Red Horde no jogo de hoje.

Pouco a pouco, o Brasil começa a avançar, com Ludmila apostando corridas disputadas com Glimmer pela direita e tendo a vantagem da energia, porém as duas centroavantes brasileiras continuam sem conseguir participar do jogo, sempre muito bem marcadas pela defesa eteriana. Catra não consegue encontrar opções para tocar a bola, exceto para trás ou para as laterais, por mais que tente ganhar tempo para as companheiras se reposicionarem driblando para lá e para cá, soltando provocações para Octavia através de gestos ou palavras a cada oportunidade. Em dado momento, arrisca um chute de fora da área e a bola passa longe do gol.

Ela tem a impressão de que Octavia está pegando mais pesado do que nunca com ela. Torna as coisas um pouco mais difíceis, mas não muito, e em dado momento, ela recebe uma bola da volante pouco à frente do meio-campo, gira pra cima da companheira da Red Horde e supera sua marcação. Catra dispara para o ataque, percebendo a defesa eteriana levemente mais desorganizada que o de costume. Ludmila escapa pela direita, conseguindo deixar uma cansada Glimmer para trás, enquanto Debinha corre ombro-a-ombro com Flaur. Catra procura suas opções pelo meio, e vê uma Bia Zaneratto tendo a passagem bloqueada por Huntara, enquanto Marta... ela dá uma ginga de corpo pra cima de Adora e escapa por milímetros da sua marcação. É o mínimo do espaço aceitável para receber uma bola. Catra não tem dúvidas e toca a bola para a rainha, que protege da volante eteriana e finta para fora, enquanto Catra continua dando um pique na direção da área. Marta pedala para cima da outra zagueira, finta ela e cruza, tendo Catra e Bia como opções na área, com Bia ainda bloqueada por Huntara.

Catra vê a bola vindo perfeita na sua direção, Octavia a poucos metros tentando alcançá-la, a goleira eteriana gritando alguma coisa para as suas defensoras que Catra não tem tempo de tentar entender. Na fração de segundo em que a bola está no ar, vindo perfeitamente em sua direção, ela analisa suas possibilidades. Debinha adentra a área pelo lado esquerdo, o mesmo de onde Marta está cruzando, com Flaur agarrando seus ombros agressivamente, enquanto Ludmila entra pela direita, com Glimmer em seu encalço. Ela poderia ajeitar a bola de cabeça para alguém, mas nenhuma delas está bem-posicionada e todas estão fortemente marcadas: as chances de perder a posse de bola são muito altas.

Catra decide fazer o óbvio, porém inusual para ela, e arrematar para o gol. A goleira, uma mulher enorme de quase 1,80, começa a sair em sua direção, fechando seu ângulo. Catra se adianta um passo e tenta dar um toque para baixo, de forma a tirar dela, no mesmo estilo do gol de Romário contra a Suécia na semifinal da Copa de 94.

Em vez disso, Catra acerta uma testada desajeitada na bola e manda ela para bem longe do gol, quase na bandeirinha de escanteio. Uma zagueira não teria cortado o cruzamento melhor do que isso.

Alguém grita "puta que pariu!" na distância, e outra aplaude a tentativa por educação. Catra fica por alguns momentos observando o ponto por onde a bola saiu, decepcionada consigo mesma, antes de voltar à sua posição. Nunca foi boa em finalizar para o gol, menos ainda de cabeça, mas ao menos dessa vez havia imaginado que a sua determinação a permitiria ter um resultado diferente.

Quando a goleira eteriana cobra o tiro-de-meta, Scorpia, que havia entrado no lugar de Mermista poucos minutos antes, vence no jogo aéreo contra Renata e a bola sobra para Netossa, que lança Glimmer na corrida e cruza para o meio da área no último segundo antes da bola sair pela linha de fundo. Scorpia chega por trás, cabeceando com força e mais uma vez vencendo Renata no jogo aéreo, e marca o segundo gol das eterianas.

Uma jogada de ataque começada pela falha bisonha de Catra. Ela sente suas estranhas afundarem ainda mais.

O final do jogo é assinalado não muito depois. Brasil 0, Etéria 2.

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