Estou toda quebrada! Não tem um lugar no meu corpo que não esteja doendo. Meus braços e pernas principalmente. Depois de me apresentar a quase todos, por que eram muitos, que estavam treinando na academia da lua negra, que por fora parecia mais com um presídio com seus muros altos de concreto e arames enfarpados sobre ele, Conrado me entregou a bolsa preta que tinha trazido dentro do carro. Dentro dela continha uma roupa própria pra malhação, calça leggin e camiseta.
Quando me mandou pôr a roupa senti que o negócio seria sério, mas não imaginei que fosse tanto. Ele me fez alongar, depois me levou para dar socos em um saco de areia com luvas de boxe, disse que era para eu ficar forte e por último passamos três horas treinando golpes de Krav *Maga, confesso que dessa parte eu gostei, principalmente quando vinha em minha memória a lembrança daquele nojento me agarrando a força no estacionamento na noite passada.
Quando Conrado me deixou em casa no finalzinho da tarde, tive uma conversa franca com ele. Falei sobre a atração que sinto por ele e sobre a paixão que sinto pelo Dominic. Ele me ouviu com atenção e em silêncio e no final disse que me entendia e que não ia exigir nada de mim, mas que queria que eu soubesse que estaria aqui por mim para o que eu precisasse. Conrado é um cara de ouro e tenho certeza que vai fazer qualquer garota feliz.
Ponho uma roupa, penteio meus cabelos e passo uma maquiagem de leve no rosto, me preparando para ir me encontrar com o Dom. Enviei uma mensagem de texto mais cedo pra ele dizendo que queria me encontrar com ele à noite. Então combinamos de nos encontrar no lugar de sempre, o penhasco. Me preparo psicologicamente, pois vou contar pra ele que beijei outro. Que Deus me ajude e que o Dom me perdoe.
Na sala de estar, mamãe conversa com Dante e o xerife Gibson. Com certeza o assunto deve ser sobre o que eles descobriram sobre o assassinato da garota. Os moradores da cidade pensam que é a polícia local que está investigando isso, mas como é um caso sobrenatural é a Lua Negra que tem a obrigação de investigar e fazer justiça.
Cumprimento a todos e digo a minha mãe que vou sair com a Zoe. Ela assente e me dá as chaves do carro.
Pego-as de sua mão e saio.
***
Meu coração acelera quando avisto o Dom em pé na beira do penhasco olhando a cidade a baixo de seus pés. Obsevo-o por alguns segundos. Ele está todo de preto e percebo que segura algo em uma de suas mãos.
Corço minha testa, arrumo meus cabelos sobre os ombros, respiro fundo e salto do carro. Caminho em sua direção com as mãos dentro do bolso do meu moletom para escondê-las porque estou suando frio.
Ele se vira lentamente e percebo que segura uma rosa vermelha. Abre um sorriso luminoso e sinto um aperto no peito.
—Preciso te contar uma coisa. –vou direto ao ponto quando estamos bem perto um do outro.
Dom me entrega a rosa, como não tivesse me escutado e em seguida me puxa para junto de sí. Seus braços estão ao redor da minha cintura com sua boca já reivindicando a minha com urgência. Deixo que me beijo e nos beijamos como se fizesse um milhão de anos que não nos vimos. Fico bem nas pontas dos pés e passo meus braços ao redor de seu pescoço com cuidado para não estragar a rosa. Deixo me perder nesse momento que será o último de nós dois juntos, porque sei que Dominic Blackwell não é o tipo de cara que perdoa uma traição.
—Também preciso te contar uma coisa e espero que me perdoe por não ter contando antes. –ele sussurra de olhos fechados com a testa colada a minha.
Minutos se passam sem que nós dois diga nada, cada um perdidos nos próprios pensamentos e pensares.
O vento sopra meus cabelos. Os grilos cantam, a coruja faz seu barulho estranho no topo de uma árvore. As folhas secas voam de um lado para o outro. E a gente aqui colados um no outro, presos em nossos pecados e segredos. O que será que ele tem para me contar? Será que é algo pior que o que eu tenho pra dizer a ele?
Me armo de coragem, fecho a mão ao redor da rosa e vou para longe do Dom.
Apoio as duas mãos na mesa de madeira e baixo a cabeça, meu cabelos caindo ao redor do meu rosto.
—O que foi, baixinha?
Sinto a bile subir a garganta e meus olhos arderem com a lágrimas ameaçando sair.
—Não tenho nada do que perdoar. –minha voz sai sufocada. Respiro fundo e então me viro para encará-lo. —Eu é que tenho que te pedir perdão. –Quando termino de dizer essas últimas palavras estou em lágrimas.
Dom franze a testa.
—Eu beijei outro na noite passada. –Balbucio com o rosto banhado em lágrimas.
Dominic.
Não acredito no que acabo de ouvir. A voz da Kim ecoa nos meus ouvidos como um canto ao longe. A única coisa que consigo ouvir agora nesse momento é o zumbido do meu coração. É o barulho dele se partindo em mil pedaços.
Que irônico não? A primeira vez que ficamos ela disse que eu iria partir seu coração em mil pedaços, mas ela foi quem acabou partindo o meu.
—Dom, diz alguma coisa. –ela pede tentando se aproximar.
Me afasto para trás, encarando-a como se não a conhecesse, como se essa não fosse a baixinha de olhos azuis que eu escolhi para amar, a minha baixinha de olhos azuis.
Ela se detém no meio do caminho e segura a rosa que lhe dei junto ao peito como se fosse a coisa mais valiosa desse mundo.
Estou com muita raiva. Raiva dela por ter feito isso comigo. Raiva do cara que ousou olhar para ela, que ousou encostar nesses lábios que tanto me atrai. Raiva de mim por ter sido tão fraco e tão burro de me apaixonar.
Eu estava disposto a mudar, a fugir, a esquecer quem sou por ela, a lutar contra a minha família e contra a Lua Negra por ela, mas agora vejo que não vale a pena. Nada disso vale a pena... O amor não vale a pena.
—Sinto muito, Dom...
Sacudo a cabeça interrompendo-a.
—Droga, Kim! –berro, explodindo de uma vez. —Você não faz idéia do que eu passei por você, do que eu arrisquei para ficar com você e é isso o que você faz! Beija o primeiro otário que aparece por birra, por raiva do que aconteceu ontem no bar!
Ela me olha sem entender nada.
—O que você passou para ficar comigo? –pergunta.
Que se dane, eu não vou dizer, vou mostrar. Abro os botões da minha camisa, tiro-a e a jogo em cima dela. Viro de costas e mostro o que vem acontecendo comigo desde quando meu pai descobriu que estou gostando de uma Whitmore.
—Meu Deus! –ela exclama horrorizada.
Fico de frente. Nunca que eu ia revelar para ela que meu pai me dá chicotadas porque eu a amo. Mas estou com tanta raiva que não ligo mais para nada.
Ela está chorando.
—Eu não entendo.–murmura entre soluços.
Pego minha camisa e visto-a já arrependido de ter lhe mostrado.
—Não tem nada o que entender. –digo e monto na minha moto. —Siga a sua vida como se nunca tivesse me conhecido porque a partir desse momento eu vou fazer o mesmo.
Desço o penhasco sem rumo com lágrimas cegando meus olhos. Nunca senti uma dor tão forte quanto essa que estou sentindo agora.
Continua no próximo capítulo.
Imagens do capítulo
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Vídeo com música do capítulo.