JÁ EM CASA...
Mamãe arruma os travesseiros e eu me deito. O remédio que a paramédica me deu já fez efeito, mas minhas costelas ainda continuam doloridas.
—Quer alguma coisa? –ela Pergunta, tirando uma mecha de cabelo dos meus olhos.
—Quero tirar essa roupa.–respondo.
Ela se vira e vai em direção ao meu guarda-roupa e volta trazendo uma camisola branca de algodão com estampas de corações rosa.
Tiro os tênis, a calça jeans, a blusa branca e o suéter preto.
O local onde Samantha chutou, ficou uma enorme mancha roxa escura.
Mamãe fica fitando-a com os olhos marejados.
Ponho a camisola as pressas.
—Garanto que não está tão ruim assim. –digo sorrindo, na tentativa de amenizar sua dor de mãe.
Ela balança a cabeça freneticamente.
—Era por causa desse tipo de coisa que eu nunca quis voltar pra cá.... porque eu sabia que coisas assim... –ela aponta pra mancha. — poderiam acontecer com você.
Me aproximo e começo a passar a mão por seu cabelo loiro que está preso para trás.
—Mãe, apesar de tudo, eu estou feliz porque consegui descobrir quem matou Tamara.
Mamãe suspira dando um sorriso amarelo.
—É, mas espero que isso nunca mais volte a se repetir, filha, porque senão eu pego você e vou embora daqui, sumo no mundo pra ninguém nunca ter notícias nossa.
Ergo o queixo e olho pra ela com ternura e admiração. Minha mãe é meu tudo. Meu porto seguro, minha rocha. Não sei o que faria sem ela.
—Certo. – concordo, mas no fundo sei que nem ela pode me proteger de tudo.
Volto pra cama e deito novamente me sentindo cansada. Todos os eventos dessa tarde me deixaram extremamente exausta, tanto fisicamente, como mentalmente.
—Quer que eu traga algo pra você comer?
Faço que não com a cabeça.
— Só quero dormir um pouco. –puxo o lençol para cobrir minhas pernas e fechos os olhos.
Mamãe beija minha testa.
—Ok. Qualquer coisa estou no ateliê terminando uns desenhos. –Sussurra e sai fechando a porta.
***
ACORDO POUCO MAIS DEPOIS DAS SEIS DA TARDE...
afasto o lençol para o lado e ponho meus pés para fora da cama. Saio andando pelo quarto procurando a tomada pra acender a luz, pois está escuro.
Tem algo diferente comigo. Não sinto mais dor nem nada. Vou para frente do espelho e subo minha camisola até a altura dos seios e...
—Quê...?
Corro até a porta, abro-a e ponho a cabeça para fora.
—Mãe, vem aqui!! –grito chamando-a.
Segundos depois mamãe atravesso a porta (que eu tinha deixado aberta) segurando uma adaga de prata em uma mão e na outra o seu pendante já com as lâminas afiadas para fora.
—O que foi, querida?. –ela pergunta olhando ao redor de olhos arregalados.
Subo minha camisola novamente.
—Olha... –coloco o dedo na minha pele tocando-a com força. —o hematoma sumiu. Não tem nada aqui e não sinto mais dor.
Mamãe suspira relaxando sua postura de ataque.
—Eu esqueci de lhe dizer que também temos o poder de cura dos lobos.
—Poder de cura?
Ela assente guardando a adaga dentro de sua bota.
— Os lobos tem o poder de curar a si próprios. Quando o xamã transferiu os poderes dos lobos para a nossa ancestral Rosemary, a auto-cura também veio junto, de modo que podemos nos curar de lesões mais simples e graves, mas as mais graves levam um pouco mais de tempo para ficarem realmente curadas.
—Nossa, esse tal xamã queria mesmo criar a caçadora perfeita. –comento.
Mamãe põe o pendante de volta em seu pescoço.
—E criou mesmo, tão perfeita que acabou.. –ela se interrompe. — Tem certeza que não tá sentindo mais nada? –idaga, mudando de assunto.
—Tenho. –Respondo, imaginando porque será que ela não terminou a frase.
Ela puxa me para um abraço bem apertado.
—Que bom, filha. Que bom.
Lembro que hoje começa a temporada de jogos e os Jaguars (É o pseudônimo do time da escola) vão jogar e eu quero muito ir.
Peço minha mãe e ela deixa, mas só se eu for com a Ruby.
***
Ás 19hrs em ponto Ruby chega para me buscar. Me despeço da minha mãe que está sentada no sofá lendo um códice dos caçadores.
—Chegue cedo... –ela arruma o gorro de crochê na minha cabeça. —amanhã tem aula.
Assinto. Ponho as luvas também de crochê, ajeito o cachecol ao redor do meu pescoço e saio.
Assim que entro no carro Ruby me entrega uma sacola.
—O que é isso? –pergunto, abrindo-a.
Ruby gira a chave.
—É o moletom dos Jaguars. Mandei fazer um para mim e um pra você.
—Humm. Obrigada.
***
O moletom do time da escola é preto de mangas compridas brancas com listras em preto e branco nos punhos e na gola. Os pequenos botões são dourados e de um lado tem a letra H e do outro a letra F. Atrás tem a cabeça de um Jaguar e o nome "The Jaguars" embaixo dele.
Tiro meu casaco azul, o cachecol, e o visto.
—Ficou perfeito. –digo. —como você sabia o meu tamanho?
Ruby dá um sorrisinho.
—Eu não sabia, simplesmente fiz pelo o meu. –ela tranca o carro e guarda as chaves no bolso. —Afinal temos a mesma medida, só os meus seios que são um pouco maiores que os seus.
O estacionamento da escola está abarrotado de carros e ônibus. Uma enorme faixa com o nome "Lar dos Jaguars" está presa de um lado a outro da entrada.
Seguimos por um atalho secundário que dá acesso ao campo de futebol sem precisarmos passar por dentro da escola.
—Vem cá, você e o Dom como estão? Ontem vi ele ficando com uma garota na festa-velório que uma amiga da Tamara fez pra ela. –Ruby pergunta enquanto caminhamos lado a lado.
Desvio de um galho de árvore.
—Não estamos. A gente ficou algumas vezes, mas acabou. –respondo só isso porque não quero ter que entrar em detalhes e nem mencionar que ele queria fugir comigo e eu recusei.
—Tem certeza? Por que vi vocês dois trocando olhares hoje de manhã depois que Samantha foi presa.
—Ah... Eu gosto dele tá. –admito. — mas o Dom é um cara complicado e muito bruto.
Ruby cai na risada.
—Bruto?–ela pergunta e cai na risada de novo. —gostei, daqui pra frente vou chamá-lo assim.
Encaro-a de cara amarrada e ela pára de rir.
—Ok. Parei. –diz tomando fôlego.
—Ele é muito sem- vergonha.
—Isso ele é mesmo, mas sabe, uma mulher poder fazer um homem com em sua mão se ela quiser. É só ter paciência e jogo de cintura. –ela bate sua cintura na minha.
Firmo minhas pernas para não cair para o lado.
—Não tenho nenhum dos dois. Sou tímida, atrapalhada e sem graça.
Ruby para de andar de repente, me vira de uma vez e olha dentro dos meus olhos, bem séria.
—Nunca diga isso! Toda mulher é linda, maravilhosa e poderosa. Toda mulher é sagaz, inteligente e pode sim fazer um homem ficar de quatro por ela, assim ela queira.
Mordo o lábio inferior, cruzando os braços.
—Então, vai gênia da sedução, me diz como faço pra seduzir o Dom e fazê-lo comer na palma da minha mão?
Ruby enlaça o seu braço no meu e voltamos a andar.
—Dominic é acostumado com garotas dando em cima dele, praticamente arrancando as calcinhas pra ele. Muito diferente de você, que é praticamente a virgem Maria.
—Não acredito que você quer que eu fique igual a elas pra agradar a ele.
—Não, sua tonta. É exatamente o contrário! Quero que você seja você mesma, mas faça algo que o surpreenda, que o pegue de surpresa e o deixe de boca aberta e querendo mais... sacou?
—Saquei, mas você quer que eu esqueça que mal paramos de ficar e ele já foi colocar a língua dentro da boca de outra?
—Ah, priminha, isso aí, é com você, mas se realmente gosta dele, não custa nada tentar.
Fico pensando no que ela disse. Eu realmente gosto dele, mas não sei se consigo mudar para tentar mudar ele. Não sou como essas garotas que o Dominic é acostumado e tenho certeza que não chego nem perto de ser.
Continua amanhã!
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