Aturdida, visto a primeira coisa que pego no guarda-roupas, escovo meus dentes, penteio o cabelo e o amarro para trás em um rabo de cavalo.
Corro para porta, mas paro antes de tocar na maçaneta. Algo me ocorre e não tô gostando nada do rumo em que meus pensamentos estão tomando.
E se foi o Dom? Ele ficou furioso quando leu o que ela tinha escrito para mim, quando fui visita-la no hospital.
Pego meu celular e envio uma mensagem pra ele, pedindo para nos encontrarmos com urgência. Espero alguns minutos e nada de resposta, então desço.
Ruby e Conrado estão na sala, sentados no sofá. Ela levanta a cabeça na minha direção quando me aproximo. Seus olhos estão vermelhos e inchados, seus cabelos bagunçados, ela está arrasada, não sabia que gostava tanto da Tamara.
Conrado também parece triste. Ele se levanta quando chego perto e vai pra entrada da porta.
Me sento ao lado da Ruby e passo meu braço ao redor de seus ombros. Ela encosta a cabeça no meu ombro e ficamos em silêncio por alguns minutos.
O silêncio predomina a casa. Olho ao redor procurando as pessoas que chegaram nos carros.
—Onde estão todos? –pergunto.
Ruby se afasta para me encarar.
—Em uma sala secreta a prova de sons.
Tiro seu cabelo dos olhos em um gesto de carinho.
—A prova de sons?
Ela assente enxugando as lágrimas.
Como pode isso? Mesmo estando sem maquiagem, usando um conjunto de moletom sem graça e chinelos de dedo, ela ainda continua linda!
—Para os lobos não ouvirem o que está sendo debatido na reunião do conselho.
Pisco sem entender nada.
—Muitas famílias, matilhas de lobos moram nessa floresta. Algumas se mudaram pra cidade, mas outras ainda vivem em seu lugar de origem e como eles tem super audição... – ela explica.
—Ah, entendi. –apoio a testa na mão. —Ainda não acredito que Tamara tá morta.
Ruby descasca o esmalte rosa das unhas.
—Nem eu.
—Você deve tá feliz, já que não gostava dela. –Conrado cospe as palavras com desgosto.
Viro a cabeça para trás em um gesto brusco.
—O que está insinuando? –questiono irritada.
Ele cruza os braços se encostando na parede, raiva brilha nas profundezas de seus olhos cinzentos.
—Tô errado?
Fico em pé.
—Está sim, muito errado! Eu não gostava dela por que ela implicava comigo, mas eu nunca ficaria feliz com a morte de uma pessoa!...Nem a dela –berro.
Ele me fita de mandíbula cerrada.
—Não liga pra ele, Kim. –Ruby põe a mão no meu braço. —Essa é a maneira que o Conrado reage a dor da perda; atacando.
Olho pra um e depois pra o outro.
Ela dá de ombros.
—Meu irmão é apaixonado por Tamara.
Fico paralisada sentindo o meu queixo bater no chão. Se tem uma coisa no mundo que nunca imaginei, era isso. Conrado apaixonado pela Tamara.
Ele envia um olhar furioso em direção a irmã.
—Obrigado pela força, irmãzinha. –ele vocifera e sai para fora pisando duro.
Agora sabendo do que sei, sinto até um pouco de pena dele.
Meu celular vibra. É uma mensagem do Dom.
Tô te esperando aqui fora. Na estrada que que dá pra sua casa, a uns quinhentos metros de distância.
Respondo que já tô indo e guardo o celular no bolso.
—Quem era? –Ruby pergunta.
Encaro-a.
—Acho que você já sabe.
Ela sorri sem humor.
—É, sei. Vai lá falar com ele, se alguém perguntar por você, invento alguma coisa pra te encobrir.
Abraço-a.
—Obrigada.
***
Meus passos são largos quando começo a caminhar pela estrada. Subo o capuz e ponho as mãos nos bolsos do moletom. São quase seis da manhã, o sol nem saiu ainda e um denso nevoeiro cobre tudo.
A visto o Black Neon parado entre duas árvores, porém nada do Dominic.
Me aproximo devagar e dou uma olhada dentro do carro, está vazio. Começo a olhar ao redor ficando tensa.
Um assobio chama minha atenção. Estreito os olhos para enxergar melhor através da névoa e vejo uma sombra atrás de uma árvore. É ele.
Pensamentos conflitantes se agitam na minha cabeça. Pergunto ou não pergunto se foi ele que matou a Tamara?
—Oi. –ele diz quando ficamos cara a cara.
Sinto um embrulho no estômago. Tô nervosa.
—Oi. –murmuro, virando de costas.
Abaixo a cabeça e fico olhando para meus tênis all estar.
—Acha que fui eu, não é?
Prendo a respiração.
—Mas você tava tão bravo com ela ontem. –afirmo lembrando dele socando a direção do carro.
Ele põe as mãos em meus ombros e vira de uma vez para que eu o encare.
—Você é igual a sua família, pensa que todos são monstros e assassinos.
Arregalo os olhos em surpresa não entendendo o que quis dizer com isso e ele continua.
—Mas presta bem atenção no que vou te dizer, bonitinha; Posso ser tudo, brigão, mulherengo, irresponsável, mas não sou assassino!
Abro a boca, mas ele me interrompe.
—Isso foi um erro... Nós fomos um erro e é melhor pararmos por aqui.
Solto um grunido. Não era isso que eu queria, não mesmo.
—Desculpe. –murmuro. —É só que ontem você tava daquele jeito e hoje ela...
—Não se desculpe, Whitmore. – ele se aproxima ficando bem perto de mim. Seus olhos se conectando aos meus. — O erro foi meu em me envolver com você, mesmo sabendo dos problemas que isso acarretaria pra mim.
Me afasto para trás cruzando os braços irritada.
Acho que ele está exagerando e não sei o por quê de estar metendo minha família no meio disso.
—Pois bem, faça como achar melhor! –digo, fuzilando-o com o olhar. —Não quero lhe trazer problemas.
Volto pra casa sem acreditar no que está acontecendo e olha que o dia tá só começando. Acho que agora a Tamara vai descansar em paz por que até depois de morta ela conseguiu me tirar da vida dele.
Continua...
Boa noite, meus amores!! Sei que ficou pequeno, mas prometo que amanhã posto mais.. Bjuss 😘😘
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