NO DIA SEGUINTE...
As cortinas do meu quarto são abertas fazendo com que os primeiros raios de sol invada tudo.
-Kim, acorde. -a voz da minha mãe entra de penetra em um sonho que tô tendo com o Dom.
Me sento esfregando os olhos que teimam em se fechar novamente.
Bocejo e dou uma rápida olhada no pequeno relógio de cabeceira. São seis da manhã. O que será que ela quer a essa hora?
-O que foi? -pergunto me espreguiçando.
Ela balança o telefone na minha frente.
-O que foi...? O prefeito acabou de me ligar furioso. A filha dele está no hospital por sua causa.
Imediatamente me desperto. Não sinto mais nenhum resquício de sono.
-Ela tá bem?-passo o dedo no vinco entre minhas sobrancelhas.
-Felizmente sim. Somente o nariz e o maxilar foram quebrados. -ela bufa de raiva. -Posso saber o que foi que aconteceu? -seus olhos azuis estão em chamas.
Suspiro aliviada por não ter acontecido nada mais sério com ela.
Ponho tudo pra fora... Bem, quase tudo. Conto sobre a implicância da Tamara comigo, desde o dia em que vim a essa cidade pela primeira vez, que foi quando minha mãe veio para falar com o advogado.
Só não digo qual o real motivo dessa implicância toda.
-Você deveria ter me contado! Eu teria falado com o prefeito Quinn. Ele sabe muito bem o que somos e teria feito a filha dele ficar quieta.
Jogo minhas cobertas para o lado e pulo para fora da cama.
-Eu não queria lhe preocupar. Pensei que pudesse lidar com isso sozinha.
-Como lidou com a Asheley?
Fico chocada com a dureza dessas palavras. Mencionar o que aconteceu no passado, é golpe baixo.
-Você não deveria ter dito isso! -aponto um dedo em sua direção de olhos arregalados.
Saio do quarto correndo, ouvindo ela me chamar. Passo pela sala e saio para fora indo rumo a floresta.
Paro embaixo de um carvalho, o mesmo do outro dia. Ser a causadora da morte da Asheley deixou uma marca na minha alma que só eu sei. E ouvir minha própria mãe falar seu nome como se tivesse me julgando...Sinto a bile subir a garganta e não conseguindo mais me controlar desabo em um choro com soluços.
-Está chorando porquê, linda?
Levanto o olhar. O mesmo lobo que apareceu para mim a alguns dias, nesse mesmo local, está parado entre duas árvores.
Enxugo minhas lágrimas.
-Você fala? -balbucio.
Ele chega mais perto. Sinto o cheiro de mato banhado com o orvalho da manhã exalando dele.
-Mas é claro, tenho uma boca com uma enorme língua dentro. - responde com sarcasmo.
Reviro os olhos. É estranho, o lobo fala, porém não vejo sua boca se mexer e sua voz é esquisita, não é humana, mas também não é de um animal.
-É só que da outra vez você não falou comigo. -rebato fazendo careta.
-Eu tava com preguiça. -ele relaxa sobre as patas e fica me encarando com seus lindos olhos azuis brilhantes.-Agora posso saber o porquê dessa tristeza que sinto vindo de você?
Balanço a cabeça.
-Nada. Discuti com minha mãe, só isso.
-Humm...E foi muito sério?
-Não é da sua conta... Aliás, não vai me dizer quem é você? E o que quer de mim? Vai ficar se escondendo por baixo dessa pele de lobo?-descarrego toda minha raiva nele.
-Você é muito rabugenta, sabia?-ele diz em um tom de quem ficou magoado.
Fico com dó.
-Desculpa, é que meu dia já começou ruim.
-Kimberly, onde você está?
Ouço minha mãe gritar.
Olho para trás e quando viro pra frente vejo o lobo indo embora correndo.
-Quem será você. -murmuro.
****
Mamãe sorri ao me vê, mas passo diretamente por ela sem olha-lá nos olhos.
Entro em casa e vou direto para meu quarto. Bato a porta com força, em seguida me jogo na minha cama.
-Kim, precisamos conversar, eu não queria dizer aquilo... É que fiquei muito nervosa quando soube da filha do prefeito.
Tapo meus ouvidos com o travesseiro.
-Eu não quero conversar.
Ela fecha a porta devagar atrás de si.
-Mas você vai me ouvir.
Suspiro pesadamente.
-Sei que o que aconteceu há dois anos ainda lhe atormenta. Aquilo ficou gravado na sua memória para sempre, mas se tivesse me contado que sofria bullyng na escola, poderíamos ter evitado a morte da Asheley, e se também tivesse me contado sobre a Tamara, ela não estaria no hospital agora... Não pode esconder as coisas de mim, Kim.
Jogo o travesseiro para o lado e me sento com as costas retas.
-Quer mesmo falar sobre esconder coisas? Então por que me escondeu que teve um irmão?
O rosto da minha mãe fica branco como papel, todo sangue se esvaindo de suas bochechas delicadas.
Ela senta na ponta da cama como se de repente suas pernas tivessem falhado.
-Como soube disso? -seu tom é baixo.
Estudo-a minuciosamente. E pela sua reação não tenho mais dúvida de que tudo que a namorada da Hanna me contou seja verdade.
-Isso não interessa.-cruzo os braços.- Então é verdade, né? Teve um irmão que era mais velho que você, e ele foi assassinado, não foi? Assim como o meu avô também.... Caramba! Você me disse que ele tinha morrido de infarto.
Mamãe se inclina para frente colocando os cotovelos nos joelhos e apoiando o rosto nas mãos.
-Sim, sim! Mas não insista, não tenho obrigação de lhe contar tudo sobre a minha vida, muito menos coisas que aconteceram muito antes de você nascer.
Bufo.
-Mas por que me esconder que tive um tio?
-Porquê foi necessário!
Vendo-a tão frágil, resolvo deixar pra lá, tenho certeza que no momento certo ela irá conversar comigo, agora que sabe que eu já sei tudo, ou pelo menos uma boa parte de tudo, porque acho que tem muito mais coisas por trás disso.
-Está bem, não vou insistir mais, por que sei que quando estiver pronta você vai se abrir pra mim.
Vou pro banheiro tomar um banho pra ir pra escola, mas paro quando ela me chama.
Meu coração diminui quando vejo seus olhos vermelhos. Ela se recompõe, enxuga o rosto banhado pelas lágrimas, sobe as mangas da blusa xadrez, arruma a postura e me lança um olhar afiado.
-Ainda não terminamos o nosso assunto sobre a filha do prefeito. Depois da aula você vai ve-la no hospital, vai pedir desculpas e vai levar um buquê de margaridas pra ela.
Arregalo os olhos.
-Quê! -elevo a voz. -Mas mãe eu não....
Ela levanta um dedo.
-Não adianta protestar. Você vai se retratar com a Tamara, ou amanhã mesmo mando você pra terminar o último ano do ensino médio em um internato na suíça, o mesmo que estuda a filha do sr. Robert.
O sr. Robert é o chefe da minha mãe. O homem depois que ficou viúvo despachou a filha para um internato na suíça e ela só vem em casa nas festas de final de ano. Credo. Estudar em um internato pra mim é como viver em uma jaula. horrível.
Cruzo os Braços soltando fogo pelo nariz.
Eu juro que se ela não fosse minha mãe nunca mais eu falaria com ela.
-Ok.-concordo bufando de raiva.
***
Chego na escola antes das portas se abrirem e logo me arrependo, pois todos olham para mim e alguns cochicham entre sí.
Ergo a cabeça não deixando aqueles olhares afiados me intimidar e me sento em um dos bancos de cimento ao redor do estacionamento.
Tiro meu bloco de anotações de dentro da minha bolsa para anotar o nome do cara que o lobo-cão mandou eu roubar os documentos ontem.
Trevor Sparks.
Estudou em Havenwood High School em 1997.
Mordo a tampa da caneta pensativa.
Esse tal de Trevor Sparks só pode ser algum parente do lobo-cão. Um parente muito importante.
Meu coração dispara quando vejo Dominic subindo a rua de moto, trazendo na garupa a mesma garota de ontem, ela só pode ser irmã dele.
Nossos olhos se cruzam quando ele pára a poucos metros de mim e a garota desce.
Guardo o bloco de notas e me levanto para ir falar com ele, mas mal dou duas passadas quando ele faz que não com a cabeça tão discretamente que acho que ninguém notou.
Franzo a testa e então giro nós pés sentindo um nó se formar na minha garganta.
O que será que aconteceu? Por que ele não quer falar comigo?
O sinal toca e eu caminho para dentro sem olhar para trás.
Continua!! Votem e comentem, por favor.