Acordo no finalzinho da tarde. Da janela do meu quarto posso ver o sol descendo atrás das árvores que cercam a casa. O céu tem uma cor alaranjada com algumas nuvens negras. Espreguiço-me, me sentindo renovada. Há tempos eu não dormia assim durante o dia. Nossa casa na capital era a poucos metros do centro e na maior parte do dia fazia muito barulho das buzinas dos carros que trafegavam a avenida principal.
Jogo meus pés para fora da cama desejando tomar um banho para que eu desperte por completa. Sigo para o banheiro onde já tem toalha e um roupão.
Tiro minha roupa, ligo o chuveiro e me jogo para debaixo dele. Conforme a água fria vai se espalhando
por meu corpo, vou me sentindo mais desperta. E novamente a palavra "Rastreadora" vem na minha mente. Quando eu sair do banho vou pesquisar no google pra ver se acho alguma coisa sobre isso. Detesto quando as pessoas me dizem coisas
que me fazem parecer uma completa idiota por não saber o que significa.
Enxugando meus cabelos na toalha e vestida com o roupão saio para fora do banheiro. Encaro meu laptop em cima da mesinha e vou até ele. Ponho ele nas minhas pernas e me sento na ponta da cama. Começo a digitar "Rastreadora" no google, mas para minha decepção só aparece serviços de rastreamentos de caminhões de carga. Não tem nada sobre essa palavra, é como se ela não existisse.
Ouço uma batida firme na porta e logo reconheço que
não é a minha mãe porque ela sempre dá uma batida suave pra eu não me assustar. Desligo o computador, abaixo a tela e o coloco no lugar em que estava antes.
-Ah não. -resmungo quando abro a porta e vejo que é Ruby.
-E aí, barbie girl. -ela me cumprimenta irrompendo para dentro sem ser convidada.
Encaro-a séria e ela dá aquele sorriso habitual dela. O sorriso de quem diz "Não tô nem aí pra esse seu olhar crítico"
-O que você quer? -pergunto ríspida.
Ruby se joga na minha cama apoiando a cabeça nas mãos.
-Ficou feliz de me ver, não foi?. -brinca.
Reviro os olhos me encostando ao lado da penteadeira.
-Eu e você vamos a uma festa hoje à noite.
Cruzo os braços.
-Tô fora.
-Mas por quê?
Ela se levanta e começa a caminhar por meu quarto mexendo em tudo. Tira a tampa do meu perfume Chance Chanel e xiringa um pouco no pulso e depois o leva até o nariz.
-Você ainda pergunta?-meu tom é de acusação. Tiro o vidro da sua mão e o guardo na gaveta.
Ainda me lembro muito bem do que aconteceu na barragem das pedras. De como ela me ignorou por que eu não quis brigar com ruiva.
-Tá falando sobre o que aconteceu na barragem das pedras? -ela vai para o meu mural e fica olhando as fotos com a testa franzida. -supera vai... Garanto que aquilo não irá se repetir.
-E não vai mesmo, porque eu nunca mais vou sair com você... E mesmo se eu quisesse ir, a minha mãe não iria...
-Ela já deixou. -Ruby completa abrindo uma porta do meu guarda-roupa.
Meu queixo cai.
-Deixou?
Ela começa a vasculhar minhas roupas como se estivesse a procura de algo.
-Eu pedi e ela deixou.
-Mas como... Como você conseguiu? Ela nunca deixou que eu fosse para uma festa antes, nem com a Jess, que é minha melhor amiga desde criança.
Ruby dá um sorrisinho de triunfo.
-Eu sei ser bem convincente quando quero.
De repente tudo parece mudar. A possibilidade de ir a uma festa sem minha mãe por perto é tentadora demais pra eu recusar. É um tipo de liberdade que nunca experimentei antes.
-E quem vai a essa festa?
-Na verdade, você quer saber se o Dominic vai a essa festa não é?
Pega de surpresa, sinto meu rosto corar. Me viro para a penteadeira e começo a pentear meus cabelos para ela não ver em como fiquei vermelha só de ouvir o nome dele.
-E porque eu iria querer saber? -tento parecer natural.
-Porque eu vi a maneira como você olhava pra ele na barragem. Você tá muito afim dele.
Até ela percebeu isso?
Dou de ombros.
-Não tô afim de ninguém. -minto.
Ela espalha minhas roupas em cima da cama fazendo careta.
-Que seja, logo ele vai enjoar da Tamara, e ai você terá a sua chance.
-Não vejo a hora de isso acontecer... Aliás acho que não vou mais nem dormir e nem comer de tanta ansiedade. -falo com sarcasmo.
Ruby parece determinada a bagunçar meu guarda-roupa.
-Ei! Mas o que você tá fazendo? Eu arrumei tudo isso hoje.
Ela balança a cabeça em negativa.
-Suas roupas são horriveis. Você só usa calça jeans, camiseta regata, moletom, tênis e all star?
Lanço a ela um olhar afiado.
-O que tem naquele lado?
-Nada. -respondo.
Ela se vira e então abre a outra porta do guarda-roupa. É onde estão todas as roupas que minha mãe compra pra mim na vã tentativa de mudar o meu estilo.
-Uau! -Ruby exclama correndo os dedos por todas as peças. -Mas isso é que eu chamo de bom gosto.
-É minha mãe que compra, mas eu não gosto.
Me sento na ponta da cama e fico olhando enquanto ela baba em cima das roupas.
-Você vai vestir esse aqui pra ir a festa. -ela escolhe uma calça legging preta com uma blusa lilás de seda e alça, uma jaqueta de couro marrom e um par de sapatos pretos todo fechado de salto parecido com uma bota.
-Mas eu nem disse que vou. -na verdade eu quero muito ir, eu quero ver o Dominic de novo. A semana que passei na capital, eu não parava de pensar nele.
-Mas eu sei que você vai.
Não entendo como ela parece me conhecer tão bem em tão pouco tempo.
-Você tá certa. Eu vou mesmo. -acabo me rendendo.
Ela dá uma risadinha batendo palmas.
-Nós vamos nos divertir muito essa noite. Vou te apresentar pra galera e ai de quem mexer com você.
Não sei o que pensar, talvez eu esteja cometendo o mesmo erro novamente, mas quem sabe dê tudo certo e eu realmente consiga me divertir. Queria muito que a Zoe fosse também, gosto muito da companhia dela.
-É, tomara. -murmuro me benzendo.
Continua galera linda. Votem e comentem. Bjuss e boa leitura.