Eu não queria saber muito da vida. Acho que é uma ótima forma de começar.
Tenho vinte anos, vinte anos de rebeldia.
Estou sentado chorando pelas coisas que perdi.
Ela morreu!
Acabou de morrer me procurando. Nunca fui o filho perfeito que ela queria e agora é muito tarde para se arrepender não é mesmo?
Vou te contar tudo.
Sou filho único. Aos 12 anos meu pai morreu.
Ele era o meu melhor amigo.
Acho que foi a partir dai que fiquei meio neurótico. Minha mãe não tinha como sustentar a casa, era meu pai quem trabalhava e resolvia tudo, ele era meu herói.
Então, minha mãe começou a se prostituir.
Nunca gostei disso, é óbvio. Meio que perdi o respeito por ela, mas nunca deixei de ir à escola.
Trabalhei muito para tentar ajudá-la, tive que arranjar alguns ofícios ligeiramente cansativos naquela época para apenas um estudante do ensino médio: Trabalhar na padaria, pedir aos vizinhos para cortar a grama deles em troca de algum dinheiro entre coisas coisas.
Pensei em deixar a escola, mas tudo que ela fazia era por mim e para mim e a única coisa que me pediu foi que eu não deixasse o cursinho pré vestibular que ela me inscrevera.
Eu tinha 17 anos.
Estudei pra caralho!
Perdoem -me o palavreado, mas não consigo lembrar dos meus estudos sem que me venha essa palavra.
Ninguém disse que estudar é fácil, mas é preciso.
Passei no vestibular!
Enchi os olhos da minha mãe de lágrimas orgulhosas.
E agora tô com 20 anos no terceiro ano de medicina.
Eu te falei! Estudei pra caralho.
Algum tempo depois, aconteceu que ela me apresentou a um homem que veio a ser meu padrasto. Logo de cara não nos gostamos.
Pelo menos, minha mãe parou de se prostituir.
Anos e anos de briga com esse cara, comecei a beber.
Fugia de casa.
Dormia na casa dos meus amigos. Sabe lá Deus pra onde eu fugiria esta noite.
Ele batia na minha mãe, não era um bom marido como meu pai. Já brigamos várias vezes e por causa dele eu saí de casa inúmeras vezes. Por mais que fosse difícil e complicado, ela sempre me defendia. Mas, hoje à noite, nesta noite, foi à última defesa.