Conselho

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Neji não conseguia acreditar que aquela era a verdade irrefutável de muitas pessoas. Havia apenas alguns dias que estava acordado tendo de encarar a falta de movimento em seu corpo e já não mais aguentava. Nunca tinha parado para pensar como era a vida de pessoas que conviviam com essa situação durante uma vida, nem mesmo quando Rock Lee, seu amigo, passou por algo parecido. A situação é sempre mais intensa quando acontece com você.

Hinata estava se esforçando mais do que nunca para ajudá-lo, e ele se sentia agradecido e até comovido com a paciência dela, e também das enfermeiras do hospital. Sentia-se triste e envergonhado todas as vezes que precisava fazer suas necessidades: era algo antes tão simples e natural, sentir vontade de tomar um banho e o fazer, sentir vontade de urinar e o fazer... agora, dependia de alguém para tudo e precisava encarar isso da melhor forma possível. Pela manhã, por exemplo, teve a conversa — ou início de conversa — mais constrangedora com Hinata desde quando acordou. Quase ao fim da sessão de fisioterapia, não conseguiu mais segurar a vontade de urinar e teve de pedir que ela parasse para chamar uma enfermeira.

— Não está se sentindo bem? — perguntara Hinata, visivelmente assustada. — Fiz algo errado? Machuquei você?

— Não! Não é nada disso. Só... faz isso pra mim.

— Mas, Neji.

— Eu só preciso ir ao banheiro.

Hinata, naquele momento, pareceu não compreender.

— Eu posso levar você. Não tem problema.

— Eu prefiro uma enfermeira, por favor.

— Não acredito que está com vergonha de mim!

— É sério, Hinata. Assim eu não consigo.

A conversa terminou por ali e Hinata fizera o que ele havia pedido, porém, depois disso, Neji percebeu que ela estava desconfortável. Não quis mais tocar no assunto, não quis comentar nada apesar de estar chateado por ter deixado o clima tão pesado entre eles, mas também não tinha forças para explicar como toda aquela situação era constrangedora e assoladora para ele.

Desde o momento em que acordou e percebeu que estava sem seus movimentos, ele soube que tudo aquilo seria difícil e doloroso, mas não imaginava o quanto. Queria poder fechar os olhos, dormir e acordar com seus movimentos de volta. Queria poder esquecer tudo isso.

Quanto tempo mais vou ter que aguentar isso?, pensou enquanto movimentava vagarosa e dolorosamente os dedos das mãos, que começavam a reagir. Todas as vezes que via Hinata se esforçar para ajudá-lo enquanto o massageava e fazia exercícios musculares nele, sentia um grande receio: receio de nunca conseguir alcançar o coração dela depois de ela o ter visto em uma situação tão vulnerável. Não pense assim, ele dizia a si mesmo, sabia que estava sendo orgulhoso, mas não conseguia derrubar essa parede de vergonha por completo.

Ouviu dois toques na porta de seu quarto hospitalar e a viu deslizar para o lado. A enfermeira da noite era uma senhora forte e pequena, com mãos rechonchudas e delicadas e o rosto marcado por rugas de idade.

— Está pronto para o banho? — perguntou ela.

— Acho que sim.

Agora, que já conseguia sustentar a coluna, mesmo que por pouco tempo, Neji já podia tomar banho no chuveiro, em vez de ser limpo com panos, e isso era um alívio. Em sua mente, tentou focar no fato de que sua condição era temporária e que logo poderia fazer tudo o que precisava sozinho.

— Fiquei sabendo que vai sair hoje — disse ela, a voz gentil.

— A Hinata vem me buscar.

— Ah, essa sua prima é tão gentil! Eu até me assustei quando soube que ela é uma Kunoichi.

EpifaniaWhere stories live. Discover now