Desejo

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O hokage havia explicado que o navio que tomariam era um navio de carga; o que ele não havia explicado, no entanto, era que se tratavam de cargas roubadas e pirateadas, o que deixava mais claro o fato de ele tê-los instruído a nunca dizerem que eram ninjas ao contatarem o mestre do navio.

A embarcação, apesar de grande, estava tão abarrotada de coisas, que era até mesmo difícil de andar, e produzia uma falsa sensação de que o navio fosse menor do que de fato era. Não bastasse isso, ele tinha ferrugens para todos os lados, a tinta descascando e um cheiro bem mais forte de sal do que o normal, como se todos os cantos internos fossem lavados com água do mar, o que não fazia o menor sentido. Ainda assim, e apesar do receio inicial, todos os marinheiros pareciam distraídos demais ocupando suas funções, correndo com cordas, baldes, gritando uns com os outros, tão atentos que passavam uma confiança reconfortante para ela.

Ela e Neji foram conduzidos — e constantemente vigiados, como se por medo de roubarem qualquer coisa daqueles montes de tranqueiras empilhadas no deck principal — pelo mestre do navio. O homem não parecia mestre de nada, na verdade. Parecia mais um trapaceiro que tinha ganhado aquele navio em uma aposta; o bigode fino e pontudo, os olhos astutos que pareciam ver tudo, no entanto ele possuía braços fortes e mãos grossas e cheiras de calos grossos, o que indicava que talvez ela estivesse errada sobre ele... ou talvez ele fosse um marinheiro e um trapaceiro. Difícil dizer.

Ele tentou vender mercadorias para Neji e Hinata durante quase todo o percurso, mas mudou de assunto depois de notar que Neji não era uma pessoa com quem se devesse brincar, principalmente porque ele fazia aquela cara de poucos amigos, talvez por estar preocupado com as instalações daquele navio duvidoso.

Depois de um tempo andando, o mestre apontou para um grande salão cheio de mesas e cadeiras de madeira.

— Aqui é onde fazemos nossas refeições. — Soou o nariz na maga da blusa fina e solta. — Os cozinheiros sempre deixam lanches preparados. Sabem como é, né. Trabalhar em alto mar nos deixa com uma apetite de tubarão. — E gargalhou. — Entenderam? Tubarão! — Mas nem Hinata nem Neji riram, por isso o homem murmurou algo e voltou a falar, mais sério agora: — Podem vir aqui a qualquer momento, vão ser... hã... bem cuidados.

Eles continuaram andando e tiveram que passar por um curto corredor, praticamente espremidos contra caixas de roupas infantis, e então chegaram a outro corredor, onde ficavam os quartos. Era um corredor amplo, mal iluminado, abafado e com tantos quartos que era até mesmo difícil contar. Enquanto caminhavam, Hinata começou a se sentir zonza só de pensar na possibilidade de aquele monte de piratas descobrirem que havia dois ninjas dentro do navio deles. Ela ainda não fazia ideia do que o mestre devia pensar que ela e Neji eram, mas a essa altura também já não se importava mais, a prioridade era chegar o mais rápido possível até Sakura e Sasuke. E o mais rápido possível era aquele navio, que usava uma rota conhecida por pouquíssimos marinheiros e na qual menos ainda se arriscavam a usar: a rota pirata, que era cheia de rochedos e uma correnteza não muito confiável. Ela suspirou quando pararam no último quarto que ficava à direita no corredor, o mestre tagarelando sobre alguma coisa que ela não prestava atenção enquanto enfiava a chave na porta.

— Bom, não é muita coisa, mas imagino que consigam ficar confortáveis por uma noite.

Hinata sentiu um choque percorrer por todo seu corpo naquele momento. Ficou tão curiosa com o navio, com o tanto de coisas que ele carregava, com os diferentes rostos que vira trabalhando incessantemente para fazer aquela coisa funcionar e carregá-los pelo mar para seu destino, que realmente não havia prestado atenção em quase nada que o mestre dissera e só agora, para seu espanto, compreendia que ela e Neji haviam sido acomodados em um mesmo quarto.

EpifaniaWhere stories live. Discover now