Espera

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Quantos dias estava naquele lugar? Não fazia ideia e, pelo jeito como Kurama se recusava a respondê-lo, imaginava que nem ele sabia mais. As coisas tinham ficado completamente caóticas na mente de Naruto depois de ter chegado àquele lugar. Ainda assim resistia como podia, pois sabia que era apenas uma questão de tempo até que Sakura o encontrasse e lidasse com a situação. E agora as coisas eram menos agonizantes, já que compreendia melhor o que estavam fazendo com ele e tinha descoberto um aliado.

Um dia Naruto acordou com um barulho constante e irritante. Era como uma torneira pingando sem parar em uma pia de inox, no entanto bem mais alto e grave. O laboratório parecia mais escuro do que de costume, o que de imediato fez com que percebesse que ainda era noite. Seu chacra estava sendo drenado, no entanto sentia-se forte o suficiente para se levantar e tentar procurar a fonte daquele som.

Ele precisou se pressionar contra a lateral da grade e mesmo assim foi difícil conseguir enxergar alguma coisa naquela escuridão. Um pouco atrás de sua cela, no fundo da sala, havia outra cela e, dentro dela, um rapaz desnutrido e bastante alto estava sentado, batendo com a cabeça nas barras.

— Até que enfim acordou — disse o garoto, a voz rouca e grave, mas continuou batendo a cabeça, sem olhar para Naruto. — Então é você o herói sobre o qual eles tanto falavam.

— Falavam...? — A voz de Naruto estava rouca também, a boca seca, e o som saiu como se fosse uma lixa: arranhando sua garganta.

— Eles não conseguiram a sua amiga médica, não é? Como ela escapou?

Naruto suspirou. Estava cansado, sentindo seu chacra sendo drenado pouco a pouco de seu corpo e o puxando para mais algumas horas de sono, no entanto sacudiu a cabeça e estalou a língua, agoniado e determinado a ficar acordado para saber quem aquele cara era.

— Agora que você chegou, é só uma questão de tempo até me matarem. — Então o rapaz parou de bater a cabeça e riu. Uma gargalhada forte que assustou Naruto e ribombou pelas paredes, ecoando sala adentro, e terminando em um soluço choroso. — Por que você deixou que te capturassem?! — gritou ele.

— Olha, eu não... não estou entendendo nada — falou Naruto. Não era como se ele quisesse estar naquele lugar. — Quem é você?

— Você ao menos tem ideia do porquê está aqui?

Naruto deu de ombros e pressionou ainda mais o rosto contra as barras, como se assim fosse conseguir ver melhor o rapaz, mas ainda era difícil enxergá-lo direito; conseguia ver apenas o contorno do rosto dele e, quando ele se movia, a sombra dos olhos, do nariz e da boca.

— A minha família respeitava a senhora Aiko — a voz do garoto baixou tanto, que Naruto quase não compreendeu. — Vivíamos em um bosque. Minha família e mais quatro famílias apenas. Caçávamos para comer, trabalhávamos com construção para as pessoas que moravam na cidade e passávamos despercebido. As famílias do bosque, era como éramos conhecidos. Ou apenas as pessoas do bosque.

"A senhora Aiko às vezes nos contratava para fazer um serviço ou outro nas propriedades dela. Nunca perguntávamos o motivo de ela manter tantos lugares, nunca queríamos saber de nada, e ela também não questionava o motivo de vivermos tão afastados de todo mundo.

"Achávamos que conseguiríamos viver uma vida normal. E de fato meus pais e os pais deles conseguiram, mas o sangue segue a gente, não é, Naruto?"

Naruto prendeu a respiração. Estava quase dormindo, a cabeça pesando contra as grades.

— Sim — respondeu o Uzumaki, recordando-se do sangue de seu pai e de sua mãe correndo por suas veias e o impacto que isso tinha em sua vida. — Não tem como correr do nosso sangue.

EpifaniaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora