Acerto de contas

29 3 1
                                    

Hinata se sentia exausta, mas não fisicamente, e sim mentalmente. Antes de qualquer outro motivo que a fazia se sentir daquela forma, vinha o sentimento que tinha por Neji. Já amara antes, já sentira o poder que esse sentimento possui, mas nunca tinha se sentido tão esmagada por ele quanto agora. O amor que sentia por Neji fazia com que toda a certeza se transformasse em confusão, que toda a luta parecesse em vão e que tudo que antes achava entender por completo se tornasse um grande por quê. Não imaginava que o amor pudesse ser tão difícil antes de entender o que sentia por ele.

Soltou um suspiro, cobrindo a cabeça com o cobertor. O segundo motivo que a deixava cansada ainda era uma incógnita. Algo que poderia se mostrar nocivo ou então ser um mero engano de julgamento de caráter: Seiji. Ela, Hanabi, Neji e até mesmo Konohamaru estavam se revezando para vigiar todos os passos do senhor do conselho. Estavam, inclusive, montando guarda para vigiar a casa e o filho dele, que também parecia bastante suspeito.

O homem passeava pelo distrito Hyuuga como se fosse um daqueles senhores feudais que encontrava durante suas missões, acenando e conversando com o povo sempre com um sorriso largo demais no rosto, o que era bastante estranho quando ela parava pra pensar, pois sempre o enxergou como um velho rude e teimoso, principalmente por estar acostumada a vê-lo discutir em voz alta e com a cara vermelha durante as reuniões do conselho. O que ela e sua turma de espiões não conseguiram foi alguma forma de provar que ele era corrupto ou que escondia algo, mas os instintos de Hinata diziam que deveriam insistir um pouco mais naquilo tudo — e seus amigos deviam pensar o mesmo, porque pareciam muito obstinados.

Ela se destapou, o friozinho matinal fazendo-a se arrepiar. O quarto ainda estava escuro, mas os pássaros já cantavam do lado de fora e Hinata podia ouvir os passos apressados de seu pai pela cozinha. Era quinta-feira, dia em que ele saía para visitar o mercado do distrito para mostrar presença diante do povo. Hanabi deveria ir com ele, mas ela conseguiu, de alguma forma, o convencer de que precisava de um dia de descanso. Ela aproveitaria a manhã para ficar no turno de vigia, na verdade, coisa que Hiashi não precisava saber, por enquanto ao menos.

Hinata sentou-se na cama e se espreguiçou, roçando os lábios em seguida, os olhos fechados. Na noite anterior, havia ficado de guarda junto de Neji — o correto seria que apenas um ficasse, mas, quando ele chegou para rendê-la da vigia da tarde, ela não conseguiu simplesmente se afastar dele. Ele emanava um magnetismo que a manteve por perto.

Não haviam tocado no assunto, e isso ao mesmo tempo que deixava Hinata preocupada, também a aliviava. Preocupava porque tinha medo de que ele estivesse evitando de propósito falar sobre o beijo por não saber bem como fazer para a rejeitar, aliviada porque talvez aquilo significasse que ele estivesse tão relutante quanto ela para se confessar. Às vezes sentia de verdade que ele poderia nutrir algum desejo por ela, mas era muito difícil decifrar as expressões e os olhares de Neji. Ele era um mistério mesmo depois de tantos anos.

Eles vigiaram a família do conselheiro jantar e se movimentar dentro da casa depois disso, cada um com seus afazeres noturnos. A casa possuía a lateral moderna e muito bonita, totalmente feita em vidro transparente, o que facilitava a vigia. Ela e Neji ficaram escondidos atrás de grandes arbustos que enfeitavam o muro que separava o jardim da casa ao lado, abaixados e imóveis na maior parte do tempo, concentrados demais para se importarem com o silêncio que havia entre eles. Neji havia aparecido usando apenas uma muleta, que jazia jogado no chão atrás deles, já caminhando com bem mais confiança, e Hinata não duvidava que ele pudesse descartar essa ajuda já no dia seguinte.

Em um determinado momento, Neji começou a cochichar, os olhos ainda voltados para frente, compenetrados no senhor Seiji, que lia alguns documentos em seu escritório:

— Você se lembra de quando treinávamos? — Ele sacudiu a cabeça de leve, como se tivesse dito algo bobo. — Não antes da guerra, mas quando éramos pequenos.

EpifaniaWhere stories live. Discover now