Hotel

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Ainda com os olhos fechados, Sakura se espreguiçou, virou para o lado da parede e se aninhou ainda mais na coberta, tentando fugir dos raios de sol que entravam pela janela. De repente, seu coração disparou ao perceber que Naruto não a havia chamado para tomar seu lugar no turno de vigia, no meio da madrugada. Já imaginando que o pegaria dormindo babando, virou para o outro lado pronta para o acordar com uma repreensão, porém segurou o ar da fala no exato momento em que o viu lendo o livro de primeiros socorros que ele havia levado consigo.

— Naruto... — sussurrou ela, a voz um pouco rouca pelo despertar.

— Ah, Sakura. Bom dia — disse ele, e largou o livro para esticar os braços enquanto bocejava. — Estava prestes a chamar você.

— E por que não me acordou pra te render no turno de vigia?

Parecendo um pouco alheio à conversa que tinham, Naruto se desencostou da parede e cruzou as pernas, o rosto tenso e o olhar distante. Sakura se sentou, receosa com a possibilidade de algo de ruim ter acontecido. Será que Tatsuo apareceu aqui...?

— Você demorou bastante para dormir — observou o Uzumaki, e Sakura sentiu seu rosto corar.

Foi realmente muito difícil dormir depois da noite anterior. Não conseguia acreditar que tinha encontrado coragem para beijar Naruto e acreditava menos ainda que não aproveitou o momento, depois de voltarem ao quarto, para dizer a verdade sobre seus sentimentos por ele. Mas a maneira como ele reagiu... Não. Foi melhor eu não ter falado nada. Ele com certeza não acreditaria e acabaríamos brigando.

Ainda conseguia ver estampado no rosto dele aquela expressão de decepção que ele carregava quando pediu explicação sobre o beijo. No fim das contas, ele pareceu entender que tudo valia pela missão, mas não era isso o que Sakura esperava. Depois da conversa que teve com Ino, antes de partir, acreditou mesmo que Naruto pudesse não ter conversado com Hinata sobre a confissão dos sentimentos dela e a pedido em namoro por talvez ainda sentir alguma coisa por si, mas agora percebia estar enganada.

Sou mesmo uma idiota.

— Eu acho que só fiquei preocupada — começou ela, enfim —, pensei mesmo que Tatsuo poderia tentar uma aproximação e queria estar preparada... Mas, pelo visto, estava mais cansada do que imaginava.

Ela se ergueu e se sobressaltou ao notar o tom diferente em seu cabelo. Rindo de si mesma, disse:

— Caramba! Me esqueci que estava usando transformação, acredita em uma coisa dessas?!

— Eu desfiz a minha não faz muito tempo — disse Naruto. — Como pode não se sentir cansada depois de usar um jutsu por tanto tempo?

Sakura deu de ombros.

— Acho que me acostumei a trabalhar até o fim dos meus limites, com os treinamentos da Godaime. Ela pegava pesado... e confesso que eu pegava pesado comigo mesma também. Bom — começou ela, após desfazer o jutsu —, vou tomar um banho pra gente poder ir fazer o desjejum.

Ao se virar, a médica ninja não conseguiu evitar a expressão de tristeza que lhe abateu o rosto. Era cada vez mais difícil fingir que estava tudo bem entre eles quando na verdade a única coisa que queria era gritar com Naruto até que ele compreendesse o quão errado foi o julgamento dele e como ela foi covarde por ter deixado que ele acreditasse no que quisesse por tanto tempo. Não conseguia parar aquele sentimento de retrocesso que apertava seu peito: havia batalhado tanto, lutado tanto para amadurecer, crescer e se tornar a pessoa que sempre quis ser para agora sentir medo de falar sobre as coisas que sentia.

— Sakura — chamou Naruto, a voz baixa.

Ela parou com uma mão na porta do banheiro e a outra fechou-se em punho enquanto seu coração disparava com o pensamento de que, a depender do que ele fosse dizer, ela deveria tomar coragem de uma vez só. Não é possível!, pensou ela, Lutei com tanta gente perigosa, curei tantos feridos, fui para a frente de batalha da Grande Guerra, e mesmo assim tô com medo de dizer ao Naruto que o amo!

EpifaniaWhere stories live. Discover now