Salvador

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O corpo de Sakura parou por centésimos na posição de ataque; a perna direita para trás, a esquerda flexionada à frente do corpo levemente curvado e o braço direito ainda reto com o punho em riste. Centésimos após a pancada se espalhar pela área das piscinas, abafando todos os outros sons, e o corpo de seu agressor permanecer esmagado entre as rachaduras do muro. Centésimos... Mas foi tempo suficiente para que mais guardas se juntassem ao seu redor.

Com a respiração presa, olhou para Naruto. Naquele momento, percebeu ela, estava mais preocupada com ele do que consigo mesma e talvez esse tivesse sido o seu erro. Talvez, se tivesse se concentrado realmente em tudo ao seu redor e analisado toda a situação com frieza como sua mestre a ensinara, teria percebido a seringa nas mãos da guarda pequena e magricela que estava atrás dela. Talvez tivesse reagido a tempo, chutando-a para longe enquanto dava conta dos demais, no entanto ela não conseguiu se focar na batalha tanto quanto devia, ainda mais depois de perceber o rosto confuso de Naruto enquanto ele cambaleava para o lado.

O que fizeram com você?, pensou Sakura, então desfez o jutsu de transformação, já que ele não valia de mais nada, e contou seis guardas ao seu redor se movendo com rapidez. O guarda à sua frente ainda enrolava um pano na mão, os olhos arregalados, quando ela desferiu um chute na perna dele, segurou-o pela gola da camisa e o jogou contra um segundo agressor que vinha pela esquerda.

Sakura girou o corpo, pronta para atingir o guarda da direita, quando sentiu a garota, que esteve o tempo todo se movimentando às suas costas, pular em cima dela, os braços enlaçados em seu pescoço. A médica ninja foi capaz de ver a agulha descer, desajeitada, de encontro ao ombro, porém, quando se jogou no chão e ouviu o grito surdo da guarda magricela embaixo de si, já era tarde demais. A agulha estava presa na sua carne, perfurando o músculo.

Com um ranger de dentes, arrancou a seringa e a jogou longe, procurando mais uma vez por Naruto, mas ele já era carregado por dois homens. Sakura quis ver mais, quis saber quem era o responsável pela captura dele, contudo os hóspedes, curiosos para ver sua performance em batalha, taparam sua visão enquanto se dispunham em um semicírculo.

— Malditos! — gritou ela.

O veneno que injetaram nela já começava a fazer efeito, e Sakura percebia sintomas que afetavam sua visão, audição e equilíbrio. Sentia-se como da primeira vez que bebeu junto de sua mestre e ficou bêbada e extremamente enjoada. Era como estar dentro de um barco desgovernado depois de ter comido bem mais do que deveria. Ainda assim, não pararia de lutar, não desistiria.

Ergueu-se, percebendo que a garota abaixo de si ainda arquejava, e se jogou de encontro ao corpo de um guarda grande e musculoso que veio em sua direção. Sua cabeça se chocou contra o ombro dele e os dois se abraçaram e giraram em busca do controle. Concentrando chakra no punho esquerdo, Sakura acertou o rim do guarda, que afrouxou o aperto em seu corpo no mesmo momento. Ela sentiu dois pares de mãos tentando puxá-la para longe do homem, mas resistiu e desferiu outro golpe nele, desmaiando-o, no entanto foi jogada para trás, tropeçou e caiu no chão.

Um gemido desconexo deixou os lábios de Sakura. Sua visão era um borrão indistinguível. As luzes passavam por seus olhos como luzes estroboscópicas e o som chegava aos seus ouvidos abafado e estranho. Tentou se levantar, no entanto seu equilibro estava ainda mais comprometido do que poderia imaginar e por isso mal conseguiu rolar de lado no chão e se sentar novamente. Com o coração martelando nas têmporas, a única coisa que Sakura pôde fazer foi erguer os punhos à frente do rosto esperando conseguir acertar qualquer coisa que se aproximasse dela.

Por quê?... perguntou a si mesma. Por que estão fazendo isso? E como sabiam quem somos? De repente, sentiu mãos enlaçarem sua cintura. Tentou revidar, mas então percebeu que suas mãos já tinham caído rente ao corpo, pesadas demais para obedecerem-na. Ouviu algo que se assemelhava a uma salva de palmas e não conseguiu evitar o riso desesperado e trôpego que subiu por seu peito. Quão sádicas e doentes aquelas pessoas eram!

EpifaniaWhere stories live. Discover now