Cativo

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O frio era angustiante e por isso ele se encolhia o tanto quanto possível. Era estranho abrir os olhos, pois havia apenas escuridão à sua frente, mas mesmo assim sentia como se pudesse ver o mundo inteiro chacoalhar em sua cabeça. Seu estômago dava voltas e voltas, então ele fechou os olhos novamente, antes que vomitasse o pouco que havia comido na festa.

— Festa — murmurou, e sua voz ecoou pelo espaço escuro, sua garganta arranhou miseravelmente, seca como se há dias não experimentasse água. — Festa...

As lembranças dos últimos acontecimentos encheram o peito de Naruto com terror, e ele tentou se erguer, as mãos apoiadas em uma barra metálica, mas o máximo que conseguiu com a força precária que tinha em seu corpo foi ficar agachado. Tentou outra vez abrir os olhos, mas os fechou logo em seguida, levando a mão livre à boca na tentativa de impedir o vômito que veio à tona por causa do enjoo provocado por sentir tudo ao seu redor girar.

— Tem alguém aqui? — tentou gritar, a garganta parecendo uma lixa. — Por favor.

Quando deu por si, estava sentado, as costas contra barras de ferro. Não saberia dizer o que o deixava tão fraco. Aquela injeção, talvez? Não fazia ideia, ainda mais com tanta escuridão ao seu redor. A possibilidade de Sakura estar por ali fez seu coração saltar, mas então a inconsciência se apoderou dele outra vez e de um jeito tão avassalador que apenas apagou de novo.

Havia uma luz fraca ao longe. A visão de Naruto estava nublada, como se tivessem colocado viseiras de animal em seu rosto e encortinado todo o seu redor, no entanto, com paciência, esperou até o momento em que os olhos conseguiram se focar em uma lamparina deixada ao chão, próximo à uma porta. Ainda sentia o mundo girar sem parar, mas dessa vez, suas memórias estavam ali, latentes o suficientes para que ele compreendesse que precisava, antes de qualquer coisa, procurar por ela.

Estava em uma jaula não muito grande, com algumas barras de ferro já enferrujadas, e ela havia sido posicionada no centro de uma sala grande branca e vazia. As paredes que o continha eram brancas e feitas de metal. Olhou para cima, tentando ao máximo conter a forte ânsia de vômito, e percebeu que vários cabos estavam ligados às grades de cima da jaula e sumiam por uma fenda do teto.

— Kurama — chamou ele. — Onde estamos?

Sei tanto quanto você, respondeu.

— Você também está sem chakra.

Não tenho muita certeza de como eles estão fazendo isso, mas podem de algum jeito sugar o seu chakra.

Naruto olhou para cima outra vez, focando-se naqueles cabos imensos que estavam conectados à jaula, e compreendeu que deveria ser assim que drenavam suas forças. Kurama, como sempre, o estava protegendo: sabia que, se Naruto perdesse todo o chakra do corpo, morreria, por isso emprestava o quanto preciso, o que lhe custava caro e o enfraquecia tanto quanto a Naruto.

Coma, garoto, pediu Kurama.

Olhando para frente, o Uzumaki viu pela primeira vez um prato com algumas fatias de pão seco e carne. Havia também um copo pela metade com água. Apesar de toda fraqueza que sentia, ele não teve fome, conseguia apenas pensar que precisava arranjar um jeito de sair dali e descobrir o que tinha acontecido a Sakura.

Se você não comer, começou Kurama, vamos morrer de fraqueza aqui e dificilmente vamos encontrar a garota de cabelos rosas de novo.

— Arg... — Enraivecido só com a possibilidade de algo assim acontecer, ele cerrou o punho e se arrastou, usando as barras como ajuda, para perto da parca refeição. — Consegue poupar um pouco de energia? Precisa tentar. Temos que tentar.

EpifaniaWhere stories live. Discover now