Epifania

Devoção

Os dias pareciam voar. Talvez o motivo disso se devesse ao fato de que havia muito que não se sentia tão capaz e tão motivada. Estar perto de Neji todos os dias, ajudá-lo com sua recuperação, sentir-se verdadeiramente necessária e fazendo a diferença na vida de alguém fazia o peito de Hinata inflar de orgulho por si mesma. Em principal quando se recordava da forma meiga com a qual Neji a olhava, a gratidão explícita em seus toques hesitantes... Suspirou e tentou desviar seus pensamentos antes que eles se tornassem profundos demais.

Era cada vez mais difícil ignorar o sentimento que crescia em seu peito, e Neji certamente não ajudava em nada com esse trabalho: não sabia o que fazer com toda atenção que ele lhe dava, mas não podia negar estar gostando. Sentia-se confusa, como se estivesse lutando contra incontáveis e diferentes tipos de nós, e o mais complicado de tudo era não ter certeza absoluta sobre se queria ou não desvendar o que nutria em seu peito por Neji. A relação deles estava agradável e perfeita demais para que ela estragasse tudo enfiando expectativas desnecessárias no meio dos dois.

Ainda assim...

Sentada à penteadeira, encarou seu reflexo. Estava usando um batom com um tom rosa, quase vermelho, em vez do costumeiro gloss labial rosa bebê, além de ter passado uma leve e desajeitada camada de maquiagem na face, as bochechas coradas artificialmente pelo blush em tom de pêssego. Sentiu-se bonita e queria que Neji a enxergasse e suspirasse de desejo, como ela sabia que suspiraria ao vê-lo. Era tolice, sabia disso, mas essa era uma daquelas expectativas bobas que não conseguia mais afastar da mente. Essa era uma daquelas coisas que já começavam a se interpor na amizade deles, e isso assustava Hinata mais do que qualquer outra coisa e ao mesmo tempo a arrebatava.

Ergueu-se num pulo, mudando sua expressão de repente, e o reflexo no espelho acompanhou-a, o rosto formando uma careta zangada. Sou mesmo uma... Arrrrggg! Era tão mais fácil quando amava Naruto! Naquela época, achava que o amor entre os dois fosse a coisa mais absurda e impossível do mundo, mas agora via o quanto foi infantil. Absurdo e impossível mesmo era ela continuar alimentando aquele sentimento que fazia seu coração pular todas as vezes que via o sorriso de Neji, era pensar que poderiam ficar juntos como um casal mesmo depois de todas as coisas pelas quais passaram, mesmo com tantas injustiças e diferenças impostas por seu clã. E tanta confusão só porque ele trata você bem agora... Que patética você, Hinata. Que patética!

— Ah! — grunhiu, frustrada, e, como se carregada por essa exclamação, toda fúria se esvaiu dela, sua expressão mudou.

Podia não amar Naruto mais, porém isso não mudava o fato de que o admirava e de que ele representava muito daquilo que ela gostaria de se tornar no futuro. E Naruto jamais deixaria a negatividade entrar nas frestas do coração dele. Hinata também não podia deixar isso acontecer. Claro que não. Olhou-se mais uma vez no espelho, agora determinada. Podia se sentir insegura; afinal de contas, todo mundo devia se sentir assim ao menos de vez em quando, mas isso não significava que seus sentimentos eram impossíveis e inalcançáveis. Significava apenas que precisava ser cautelosa e aprender a se compreender antes de dar qualquer passo significativo.

O desafio mesmo é compreender o que sinto, refletiu. Queria estar pronta para encarar aquele sentimento de frente, mas ainda não sabia se conseguiria. Confiança. Seja confiante.

Havia três dias estava sentada em um piquenique com Neji, os olhos dele próximos o bastante dos seus, a ponto de ver o reflexo de seu rosto corado neles. As bocas próximas o bastante, a ponto de sentir a maciez dos lábios dele em sua imaginação. Aquilo não saía de sua mente por um minuto sequer, encorajando-a a tentar explorar todas aquelas novas situações entre eles. Sorriu; era desse tipo de lembrança que precisava para se sentir encorajada. Precisaria se agarrar a esses momentos se quisesse se arriscar mesmo.