Conspiração

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Neji passara a noite em claro e o dia inteiro nervoso. Talvez se não fosse pelo treino que fizera com Lee ao raiar do sol, as coisas pudessem ter sido ainda piores. Era como se tudo ao seu redor conspirasse para que perdesse a paciência, mas ele sabia que não havia muito o que pudesse fazer sobre os assuntos, por mais que quisesse.

Depois daquele beijo, que o deixou bem mais do que surpreso, ele entrou no hospital já sabendo que não conseguiria pregar os olhos, então o sono não era mesmo um problema: o problema era não ter certeza sobre como Hinata estava, se ela havia se arrependido... Ah, mas é claro que sim, pensou ele. Até porque, se ela não tivesse se arrependido no instante em que percebeu o que estava fazendo, não teria saído daquela forma.

Neji suspirou. Estava outra vez matutando sobre aquilo. Outra vez engolfado naquele beco sem saída. Ainda assim, não conseguia parar, sentia-se perturbado demais para não tentar ao menos entender o que poderia estar se passando pela mente dela.

O pessimismo lhe dizia que Hinata nunca mais o encararia. Principalmente quando considerava que ela sempre foi uma mulher recatada e tímida, apesar de sua força. Entretanto ainda havia um lado otimista dentro dele que dizia que tudo ficaria bem, que Hinata só precisava de um tempo para refletir sobre as mudanças que aquele beijo poderia causar na vida dos dois.

E no meio de tantos questionamentos, de tantas dúvidas e temores, ele ainda conseguia arranjar espaço para se deixar levar pela divagação de uma nuvem de prazer todas as vezes que fechava os olhos. Em sua mente, conseguia se pôr de volta na noite anterior, caminhando, mesmo que com dificuldade, lado a lado de Hinata, trocando olhares com ela que fizeram e ainda faziam seu estômago borbulhar, conversando com ela com leveza, como se estivessem criando um segredo especial só deles. Então, paravam de frente ao hospital e ela o encarava com uma expressão corajosa, aproximando-se logo em seguida. Neji se lembrava bem do primeiro impulso que teve: se afastar, sequer compreendendo o que estava prestes a acontecer, porém ele se conteve e prendeu a respiração ao vê-la fechar os olhos, seus rostos a centímetros de distância, suas respirações se chocando. Quando seus lábios se encontraram, ele fechou os olhos e desejou que aquele momento perdurasse pela eternidade.

Contudo, o selar dos lábios deles durou apenas uma fração de segundo. Quando a encarou, ainda prendia a respiração, tentando absorver as sensações que o envolviam e ler a expressão contida na face de Hinata, mas não teve tempo para assimilar nada. Ela havia se virado e dado as costas e não se voltou mesmo quando ele a chamou pelo nome.

Neji nunca havia se sentido tão angustiado em toda a sua vida como se sentiu ao ver a silhueta dela desaparecendo na esquina, sabendo que não a alcançaria por conta de sua dificuldade de mobilidade. Entrou naquele hospital como um derrotado, mas tentou conservar seu espírito, dizendo a si mesmo que ela apareceria no dia seguinte para a última fisioterapia e os dois teriam, então, tempo para conversar. Mas isso não aconteceu. Neji esperou, mas as únicas pessoas que entraram no seu quarto foram as enfermeiras.

Isso é um mau sinal, ele repetia para si mesmo. Afinal de contas, Hinata sempre fora uma pessoa atenciosa e jamais faltava com sua palavra. Ela não ter ido ao último dia de fisioterapia, como haviam combinado, só podia significar que não mais queria encarar Neji. Mas, por outro lado, ele não conseguia parar de pensar sobre a possibilidade de ter acontecido algo a ela e de que, mesmo que se ela não mais o quisesse ver, Hinata jamais sumiria como se aquilo fosse a solução para todos os problemas. Não. Ela podia ser uma pessoa tímida, mas também era alguém responsável e que pensava nos sentimentos dos outros. Neji não conseguia a imaginar o machucando de propósito.

Aqueles pensamentos conflitantes não paravam. Já começavam a enlouquecê-lo pela inconstância; era até mesmo difícil se reconhecer com tantas coisas rondando sua mente, até porque nunca fora uma pessoa insegura, nunca fora temeroso daquele jeito, e mesmo assim sentia sua boca seca pela expectativa toda vez que se imaginava encontrando-a.

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