Impotência

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Possuía tantos poderes. Acendera a chama da vida em alguém cuja alma já estava condenada e não conseguia entender por que o mesmo não poderia se aplicar ao seu amigo. Não foi por falta de tentativa, porém. Mesmo depois de Tsunade afirmar que Naruto Uzumaki nada poderia fazer por Neji, ele insistiu, como sempre insistia em tudo, e tentou trazer a consciência do Hyuuga de volta, contudo nada aconteceu.

— Não pode fazer nada porque isso não depende de você, Naruto — dissera-lhe Sakura, na ocasião.

A voz dela o confortou, e sentia-se envergonhado em admitir isso. Era como se estivesse preso à Kunoichi, como se todas as coisas que passaram tivessem os juntado em uma bolha impenetrável que os circundava todas as vezes que estavam juntos um do outro. Seria possível que apenas ele sentisse aquilo ou ela também podia perceber?

Respirou fundo, os olhos azuis semicerrados com a visão de seu amigo deitado naquele leito. Parecia dormir um sono profundo depois de um dia de treinamento intenso, nada mais, porém não era tão simples assim. Nada na vida era simples.

— Eu queria poder te ajudar — murmurou, um pouco envergonhado. — Mas essa luta é só sua. Como quando fomos atrás do Sasuke e tivemos que assumir a responsabilidade de lutar, cada um de nós, com um inimigo diferente. Se eu disser que não senti medo naquele dia, vou estar mentindo; e não apenas por mim, mas por vocês também. Afinal de contas, ainda éramos apenas crianças. Mas a gente conseguiu mesmo assim, porque confiamos em nós mesmos e nos nossos companheiros. E eu continuo confiando em você, Neji.

Apoiou-se na poltrona que estava próxima ao leito e ficou em silêncio mais uma vez. Pelo que conseguiu compreender quando o visitou pela primeira vez no hospital, o corpo de Neji estava bem e respondia perfeitamente ao tratamento, mas a mente dele não. Como se estivesse presa em algum lugar, Shizune havia dito. Naruto não conseguia imaginar como isso era possível.

— Eu tenho que ir — disse ele. — E é por isso que você precisa acordar logo. A gente achou que tudo ficaria mais tranquilo depois da guerra, mas acontece que temos muitas coisas para resolver, e você está nos fazendo muita falta... Droga!... — Fechou os olhos.

Chorar era inevitável e Naruto nunca foi o tipo de pessoa que tinha medo de esconder suas emoções, ainda mais em uma situação daquelas. Com os olhos nublados, encarou a porta do quarto ao ouvir um barulho. Viu-a deslizar para o lado enquanto a figura de Hinata se materializava na entrada. Ele sorriu, enxugou as lágrimas e coçou a nuca.

A Hyuuga permaneceu parada à porta, um ramalhete de flores nas mãos. Naruto percebeu a vermelhidão tomar conta da face dela e precisou desviar os olhos para Neji. Ainda era estranho se recordar de tudo o que Hinata o havia dito, apesar de não ter se sentido tão surpreso com a confissão dela. No fundo, já sabia desde muito tempo que ela sentia algo por ele, porém não conseguia compreender como alguém poderia, de fato, gostar de uma pessoa como ele, então a ignorava.

— Eu já estou indo — informou. — Foi bom você ter chegado.

— Foi? — indagou ela, aproximando-se com cautela.

— Sim. Tenho que sair, mas não queria deixar ele sozinho.

— Ah... Entendo.

— Como você está?

Hinata não o respondeu de imediato, antes permaneceu a encará-lo como se na tentativa de desvendar algum mistério escondido sob sua pele. Ela sempre fazia aquilo, e ele sempre se sentia desconfortável.

— Estou bem — disse ela, depois de um tempo, e aproximou-se mais. — O Neji faz muita falta.

Naruto sentiu um tremor na voz dela. Se para ele já estava sendo difícil saber que seu amigo se encontrava naquela situação, não conseguia imaginar como deveria ser complicado para Hinata.

EpifaniaWhere stories live. Discover now