Coragem

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A chuva fazia com que o barco oscilasse mais do que o normal, e o vento gélido parecia se infiltrar por todas as frestas de madeira, perseguindo-o. Com frio, Naruto tomou seu banho, agasalhou-se bem e ficou à espera de Sakura a fim de que pudessem subir para o jantar.

Sentia-se um pouco apreensivo com a ideia de observar Tatsuo e suas maneiras, em principal por não ter pensado em momento algum que ele poderia estar, na verdade, indo à mesma reunião que eles. E se estiver, o que vai fazer nesse lugar, vovô? Ele poderia ser desde um capanga enviado para vigiar Diana e Houki até um possível comprador de armas ninjas contrabandeadas, e nenhuma das duas opções eram legais.

Sakura saiu de dentro do apertado banheiro, a toalha em que se enxugou e as roupas sujas que usava antes penduradas no antebraço. Ela se desequilibrou por um momento e teve de segurar no batente da porta: caminhar pelo barco com aquela chuva forte, que já se tornava uma tempestade, não era nada fácil, mas, para que pudessem interagir com Tatsuo de forma discreta, a melhor opção que tinham era participar das refeições na cozinha em vez de pedir que levassem os pratos aos seus aposentos.

— Como você está? — perguntou Sakura. Ela usava um vestido de manga, azul com bolinhas brancas, que ia até seus joelhos. Naruto desviou o olhar, pois não queria parecer estranho encarando-a.

— Ah, já estou bem recuperado — respondeu ele e se ergueu do futon, mas a verdade era que suas mãos ainda formigavam.

Haviam treinado durante a tarde inteira praticamente, e foi dessa forma que Naruto se recordou o quão insistente e dedicada Sakura era. Ela fazia com que todo o treinamento e esforço parecessem muito fáceis quando na verdade exigiam muito dos corpos e mentes dos praticantes. No fim, Naruto conseguiu reproduzir o jutsu de imobilização, mas não antes de se sentir esgotado de chacra e com as mãos ardidas pela constante replicação de jutsu.

— Deixa eu ver — disse ela. Aproximou-se e tomou as mãos dele nas suas.

A atitude repentina fez com que desse um passo involuntário para trás. Sabia que eram raros os momentos em que ela o tocava de forma tão instintiva, mas percebia que esses momentos pareciam estar aumentando ultimamente. Naruto abriu um sorriso ao se dar conta disso, no entanto havia uma pitada de tristeza em sua face, isso porque sabia, no fundo de seu peito, que aquela proximidade deveria ser a forma dela de tentar fazer com que as coisas voltassem ao normal entre eles. Naruto queria isso, que voltassem a ser os mesmos amigos de antes, só não sabia se seria possível depois de toda a decepção que sentiu após aquilo que ele categorizava como uma tentativa de manipulação da parte dela, quando o disse que o amava.

Afastou as mãos das dela.

— Estou bem — enfatizou.

Um bico de consternação surgiu nos lábios de Sakura, o que fez com que ele se sentisse traído pela sua brusquidão. Assim como ele a conhecia bem, ela também sabia tudo o que havia para saber sobre ele e agir daquela forma não ajudaria em nada no plano dele de deixar as coisas como estavam porque, em algum ponto, ela procuraria saber o que estava acontecendo.

— Esta é a nossa última noite no barco — falou ele, tentando mudar de assunto. — Se Tatsuo está mesmo envolvido com a reunião em que vamos, temos que aproveitar o máximo possível o pouco tempo que temos para tentar descobrir alguma coisa. Talvez fosse melhor a gente ir logo.

— Você tem razão — disse ela.

Sakura estendeu a toalha molhada na porta do banheiro e Naruto aproveitou para fazer a mesma com a dele, que, até então, jazia embolada em cima de seu futon. Após isso, ele esperou que ela guardasse as roupas sujas em uma sacola na bolsa dela.

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